quinta-feira, 12 de abril de 2007

Erros...

O objectivo é contrariar uma das mais parvas, senão a mais parva de todas, teorias recorrentes nos dias de hoje. E que se resume a isto : "Não interessa jogar bem, desde que a gente ganhe!". Por esta altura, decerto, muitos estarão a menear a cabeça como reprovação, "lá está este lírico outra vez!". Não é o caso, tão pouco me vou delongar sobre a perspectiva, supostamente a principal, meramente disfrutadora do futebol como um entretenimento, ou uma arte.
Vou jogar no "campo do inimigo" e demonstrar, por a+b, que o jogar bem e o objectivo vencer caminham de mãos dadas. Não como um luxo, mas como uma base imprescindível - quase sempre, e não sempre, pois absoluto é uma palavra inexistente no dicionário do futebol - para alcançar a vitória.

Comecemos pela parte menos óbvia, a das equipas com os chamados objectivos "menores". Independentemente da sua estratégia, - passe por assumir um modelo de jogo que se baseie na posse de bola, ou num sistema de contra-ataque, - é importante a consolidação de uma identidade, de uma filosofia. Algo que se vá imiscuindo no íntimo dos jogadores, dirigentes e adeptos. No fundo, uma bandeira.
E como é óbvio, o sistema(4-4-2,4-3-3,4-5-1,4-2-3-1, etc.) e modelo de jogo são dois conceitos que se condicionam de uma forma recíproca. Por exemplo, não faz sentido estruturar uma equipa em 4-4-2 "losango", se preconizamos um modelo de jogo baseado no contra-ataque. O preenchimento central torna-se desnecessário em termos defensivos, - pois não nos interessa recuperar a bola numa zona muito alta do terreno, bem pelo contrário, pretendemos que o adversário se "concentre", na medida do possível, o mais perto da nossa área de modo a criar espaços no seu meio-campo. - bem como os apoios que esse sistema proporciona. Ora, a primeira permissa pode conquistar muitos antagonistas. Mas a finalidade do contra-ataque é aproveitar o espaço nas "costas" da defesa, ou seja, é do maior interesse que o oponente apresente um bloco alto, e que não jogue de uma forma directa, envolvendo assim um maior numero de elementos nas transições. Ou seja, um congestionamento da zona intermediária tornar-se-à contraproducente por razões óbvias. E em termos ofensivos, é totalmente desnecessário, visto ser uma estratégia que desvaloriza a existência de apoios, pelos motivos já referidos.
Uma equipa que assuma este modelo de jogo poderá encontrar dificuldades, caso se encontre em desvantagem. A falta de mecanismos, essenciais para contraiar as vicissitudes de um adversário, que, depois de alcançar o seu objectivo, não corre riscos, torna o trabalho de uma época irrelevante. Não estando preparados para se movimentar entre linhas, tão pouco para uma circulação que possa obrigar o adversário a cometer erros, acabam por sucumbir perante o seu própio veneno. E nem nos confrontos com os chamados "grandes", esta estratégia me parece a melhor. Pois oferece-se ao adversário um elemento essencial para ele: a posse de bola. E os pouco treinadores que se aperceberam disso, conseguiram roubar pontos aos grandes sem ter de sujeitar de sobremaneira ao factor sorte, como vemos em tantos casos. E este factor não implica que sejam as equipas pequenas a impor-se às grandes, nada disso. Apenas uma maior sapiência, e paciência, na gestão da bola, não envergando pelo caminho fácil do chutão. É até, e acima de tudo, uma questão de lógica. Quanto menos posse de bola o adversário tiver, serão menos as hipóteses de construir ataques, pelo menos de forma organizada, e esta situação provocará não só uma maior ansiedade na equipa adversária, como um desconforto invulgar numa equipa que se apresente para assumir o jogo.
Não são poucos os casos de equipas que após uma série de bons resultados contra as chamadas equipas grandes, neste sistema, acabam acumular maus resultados contra os seus mais directos opositores. Esbarram na sua própia teia. O que acaba por ser duplamente penalizador. No final da época, esse confronto directo pode-se-lhes tornar fatal.
Para além dos factores tácticos, existem ainda factores de índole individual. Numa equipa que se desenvolva nestes moldes, proporcionará, sempre, um desenvolvimento medíocre aos seus jogadores; não os estimulando a pensar, antes a sofrer, e previlegiando o espiríto de sacrifício, ao desenvolvimento técnico-táctico. Senão, vejamos: Uma equipa que se desdobre em contra-ataque, geralmente oferece poucas opções aos seus jogadores - seja o portador da bola, ou receptor -. Limitando-os a essas opções pré-definidas, ou seja, existindo poucas variantes, a capacidade de decisão do jogador não é estimulada, assim como o lado criativo, sendo este subjugado pelos factores( já referidos) mais primítivos. Devem exitir padrões de referência, até para dar profundidade à identidade da equipa, mas estes devem funcionar como um "palco", ou seja, dentro das especifidades idiossincráticas inerentes a qualquer sistema, deve existir espaço à criação individual, até para garantir uma certa dose de imprevisibilidade.
São muitos os casos de jogadores que, apesar de evoluídos tecnicamente, encontram dificuldades para integrar-se numa equipa que seja obrigada a raciocionar, e a criar formas de ultrapassar equipas ultra-defensivas. Isto tudo devido a uma educação negligente. Uma má "nutrição", durante a sua formação como jogador.

Defendo por isso, que uma equipa deve basear o seu sistema numa identidade bem definida, assente numa boa circulação de bola, que, por sua vez, só é conseguido atravéz de uma excelente cultura táctica que lhe permita um bom jogo posicional. Este factor, e as características que se-lhe associam, permite não só uma maior variedade de opções, a nivel do passe, como um rápido reequilíbrio defensivo.
No que concerne a modelos de jogo, e os seus sistemas, assumo a minha predilecção pelo losango. Mas, independentemente do sistema, defendo que uma equipa que cultive uma atitude positiva perante o jogo, isto é, assumindo as despesas do mesmo, tem muito mais hipóteses, não só de conseguir resultados, como de evoluir enquanto equipa.
E não é só pelo factor espectáculo.
O futebol não é matemática, e, apesar de defender que não lhe concedem o devido substracto racional, não se deve subtrair o factor emocional ao jogo, mas irei abordar este assunto noutro post.
Agora, debrucemo-nos sobre as vantagens deste modelo, contemplando até a frieza dos números e probabilidades:

1º - Uma equipa que tenha uma maior posse de bola, assente nos pressuposto já referidos, evitará, quase sempre, um maior desgaste em termos defensivos, não se submetendo de forma constante aos ataques da equipa adversária.

2º - Uma maior posse de bola deve-nos permitir definir o ritmo do jogo, mas não só. Aumenta a probabilidade de delinear mais ataques, e por consequência, exponencial acrescentamento da criação de oportunidades de golo. ( ainda que uma boa circulação, activa, pressuponha um grande desgaste físico e mental, quer me parecer que a vantagem anímica, inerente a este estilo de jogo, supera esse pormenor.)

3º - As consequências que os dois primeiros pontos implicam na equipa adversária. Um maior desgaste, tanto na vertente física, como mental, que muito provavelmente retirará organização e tranqualidade ao seu jogo. O consequente enervamento é o caminho mais curto para erros - individuais e colectivos -. Mas não só, - e este é um ponto demasiado evidente para ser ignorado - uma equipa com uma posse de bola inferior, estará sempre sujeita a um maior número de situações penalizadoras para a sua equipa( faltas, cartões, etc.), para além de possuir menos hipóeses de criar ataques, e consequentes oportunidades de golo.


Como já referi, não acredito no absoluto, mas considerando estes argumentos parece-me que jogar bem, é tão importante como ganhar, reforçando a primeira premissa como o meio mais forte para atingir a segunda, e não como um luxo. E mesmo que fosse, para coisas feias já basta a Odete Santos.

6 comentários:

Pedro disse...

Concordo.

O "problema" é a interpretação q se dá ao "jogar bem".

Jogar bem nem sempre é jogar bonito.

Gonçalo disse...

Exacto. Jogar bem não implica toques de calcanhar, ou cuecas, todavia, se houver disto pelo meio também não me queixo. E existem alturas em que jogar bem, por exemplo, é circular a bola em zonas baixas do terreno... Quando as circusntâncias do jogo assim o exigem.

Gonçalo disse...

Mas jogar bem, passa sempre por procurar a vitória, não de uma forma desenfreada, mas de uma forma coerente e sustentada. O q ue quiz dizer no comentario anterior, é que existem alturas em que circular a bola bola apenas com com o intuito de manter a posse da mesma, é necessário. Mas "isto" não torna uma equipa defensiva, da mesma forma que uma equipa treinada por trap, so pq nos ultimos cinco minutos tenta atacar de uma forma agressiva, quando está a perder, não faz dele um treinador ofensivo.

Pedro disse...

Claro q Trap não é um treinador ofensivo. Nem quero acreditar q exista alguem q discuta futebol q o afirme
:)

Eu não gosto do futebol do Trap mas sou incapaz de dizer q é um mau treinador. É impossivel ser-se mau e ganhar tanto.

Ele usa uma táctica q é feia mas q resulta.

Nuno disse...

Uma táctica que é feia? As tácticas não são bonitas nem feias. Quando muito, a filosofia de jogo é que pode ser mais ou menos agradável. O Manchester do Ferguson usa precisamente a mesma táctica do Trapattoni (ou a que usou no Benfica. Na Itália nem sempre era assim) E o futebol do Manchester é agradável. As tácticas podem ser, isso sim, mais correctas ou menos correctas. E considero o 442 clássico completamente incorrecta. Não o posso expor aqui, mas prometo que farei em breve um post sobre o 442 clássico, para explicar o meu ponto de vista.

Não acho que seja impossível ser-se mau ganhando tanto. Olha o Manuel José. Qualquer dia até tem uma estátua. Será bom?? Não creio...

Anónimo disse...

Ganhar o Campeonato Italiano, Portugues e Alemão acho que não é comparavel a ganhar nenhum campeonato Africano...