quarta-feira, 6 de março de 2013

A Imponderabilidade dos Detalhes

Para muitos, o futebol distingue-se de outros desportos por ser um jogo de detalhes, isto é, porque os detalhes, ao contrário do que acontece em outras modalidades, podem ajudar a definir um vencedor. É verdade que, sendo o jogo de futebol um jogo com poucos golos, com "pontuações" baixas, quando comparado com outros jogos, tal distinção faz algum sentido. Mas não faz menos sentido pensar que são precisamente as equipas que mais fazem para depender menos dos detalhes que melhor estão preparadas para o sucesso. Parece haver, portanto, duas maneiras de reagir a esta crença: acreditar na fatalidade de que os jogos se definem pelos detalhes e trabalhar de modo a que a equipa esteja o melhor preparada para lhes responder, ou acreditar que os detalhes, podendo definir um vencedor, dificilmente o definem a longo prazo, e trabalhar de modo a que a imprevisibilidade dos detalhes tenha a menor relevância possível.

Por cá, como deve ser sabido, acreditamos mais na segunda solução. Que muitas vezes, sobretudo ao mais alto nível, os jogos se definem por um erro circunstancial, um mero acaso, uma má decisão do árbitro, uma precipitação, ou um golpe de génio, é evidente. Que a melhor maneira, porém, de responder a isso passe pela preocupação em estar o melhor preparado para esses momentos é que já não me parece tão evidente. Ninguém, no seu mais perfeito juízo, pode acreditar que consegue controlar todos os detalhes do jogo, e muito menos pode um treinador achar que, por mais que treine certas situações, os seus jogadores não vão falhar nesse mesmo aspecto. Sempre me pareceu cobarde condenar um golo falhado com a baliza aberta, ou um penalty mal batido. Erros acontecem, e todos os jogadores, por melhores que sejam, erram. Alguns acreditam que, se trabalharem muito, os jogadores erram menos. Tenho as maiores dúvidas de que muito treino implique melhorias a esse nível. Os lances são, sistematicamente, diferentes; as situações de jogo sistematicamente atípicas. Na minha opinião, treinar o detalhe é absolutamente inútil. Treinar a equipa, então, para que faça a diferença nos poucos momentos em que se define o jogo, negligenciando tudo o resto, parece-me francamente retrógado.

Dito isto, não acredito que seja assim que José Mourinho trabalha. O seu Real Madrid, no entanto, é talvez das equipas que mais parece depender da lotaria do detalhes, actualmente. Foi assim nas últimas semanas, sobretudo na eliminatória da taça do Rei frente ao Barcelona, e na eliminatória contra o Manchester United, mas tem sido assim também desde que chegou a Espanha. Não acreditei, por isso, no final da primeira época, que pudesse ganhar uma competição de regularidade, como o campeonato interno, em que os detalhes acabam por não ser tão determinantes quanto numa competição a eliminar, mas a verdade é que a equipa se conseguiu superar, encarando cada jogo como uma final, mantendo índices de concentração sempre elevados. Como disse também atempadamente, tal só foi possível porque a motivação de bater o Barcelona para a Liga era enorme. Sem isso, não teriam sido capazes de vencê-la, precisamente porque não são uma equipa para ganhar regularmente, como o exige um campeonato interno. Conseguiram superar-se no ano passado, mas não demoraria para que voltassem ao que verdadeiramente são: uma equipa de grandes jogos, de competições a eliminar. O fraco campeonato do Real Madrid não é, por isso, minimamente surpreendente. Este é que é o verdadeiro Real Madrid, não o do ano passado. É um Real Madrid banal numa competição de regularidade, que perde pontos e joga mal com adversários acessíveis, mas um Real Madrid muito competitivo sempre que o desafio é maior. Foi assim que Mourinho preparou a equipa desde que chegou, e é agora, ao final de três anos, que ela melhor espelha o trabalho a que foi sujeita.

Hoje, em Old Trafford, jogou-se o jogo para o qual o Real Madrid de Mourinho foi preparado desde o princípio, um jogo tacticamente fechado, que desde cedo se percebeu que penderia para o lado dos que falhassem menos, e que se resolveria pelos detalhes. O Manchester nunca pareceu muito incomodado em conceder a iniciativa ao adversário, até porque tinha a vantagem na eliminatória, e o Real ia tentando, com pouquíssimo engenho, e mais preocupado em aproveitar uma distracção de um adversário, uma bola parada, um lance de génio de algum dos seus jogadores. Até à expulsão de Nani, o Real Madrid nunca conseguiu criar as suas próprias situações de golo. Nunca conseguiu modificar as coordenadas do jogo estabelecidas pela equipa inglesa. Nunca conseguiu transformar um jogo fechado, que só se modificaria naturalmente na sequência de um detalhe, num jogo que se pudesse decidir por outra coisa que não por um detalhe. É este, aliás, o código genético desta equipa. Foi assim que foi eliminada o ano passado pelo Bayern, e era assim que, muito provavelmente, ia ser eliminada este ano nos oitavos de final, não fosse precisamente o detalhe de uma expulsão absurda a modificar a partida.

Há boas probabilidades de, nos próximos dois anos, José Mourinho não dizer uma única palavra acerca de um certo escândalo num certo estádio inglês, como tantas vezes disse acerca de um outro escândalo num outro estádio inglês, mas hoje o seu Real apurou-se porque foi feliz nos detalhes. Era, aliás, a única forma de se ter apurado, tivesse sido um detalhe externo ao jogo, como uma decisão de um árbitro, tivesse sido, pura e simplesmente, um lance de bola parada, uma escorregadela de um defesa, um erro infantil de alguém que não costuma errar. Foi assim que eliminou o Barcelona da taça do Rei, e foi assim que eliminou hoje o Manchester. Foi feliz nos detalhes. Isto porque, nesta história dos detalhes, tem mais sucesso quem é mais feliz, não quem é verdadeiramente melhor. O Real Madrid, hoje, foi feliz. O ano passado, diante do Bayern, não o foi. Como de resto, raramente o foi, desde que Mourinho chegou a Espanha, com o Barcelona. Mourinho preparou a equipa para ser competitiva, e é-o. Mas não a preparou para saber contornar a imponderabilidade dos detalhes. Se hoje foi feliz, amanhã pode não sê-lo, como não o foi no passado. É tudo uma questão de felicidade, e isso é pouco, numa equipa como aquela. Pode, com certeza, chegar para ganhar a Champions, mas uma competição como esta, como o Chelsea demonstrou o ano passado, é tão imponderável que isso não significa nada. O jogo medíocre da equipa hoje em Old Trafford, incapaz de tomar as rédeas da partida, de obrigar o adversário a desmontar a defesa, pode, pelo resultado final, ter deixado os merengues muito felizes, mas demonstrou também, muito claramente, a vulgaridade de que é feita: tirando a qualidade do plantel, que não tem comparação com nenhum outro plantel no mundo, à excepção, talvez, do plantel catalão, o Real de Mourinho é uma equipa como tantas outras. E é pena que o seja.

24 comentários:

Nuno disse...

Expulsão absurda em que sentido? No sentido em que foi uma decisão absurda do árbitro ou no sentido em que foi uma diarreia mental do Nani?

Mike Portugal disse...

"Há boas probabilidades de, nos próximos dois anos, José Mourinho não dizer uma única palavra acerca de um certo escândalo num certo estádio inglês"

Dizes isto porque não ouviste a entrevista da TVI24 ao Mourinho. Ele disse claramente que o Real não merecia passar e que a expulsão de Nani é que permitiu que o Real desbloqueasse o jogo e que sem isso muito provavelmente não teriam conseguido ganhar. Foram as declarações mais humildes que alguma vez o ouvi fazer.


"O Real Madrid, hoje, foi feliz."

Foi. No entanto, o Man Utd foi feliz no encontro da 1ª mão em que o De Gea, literalmente, os safou de sair a perder por 2 ou 3, o que implicaria uma mentalidade diferente para este jogo da 2ª mão.


"...tirando a qualidade do plantel, que não tem comparação com nenhum outro plantel no mundo, à excepção, talvez, do plantel catalão, o Real de Mourinho é uma equipa como tantas outras. E é pena que o seja."

Aqui tenho que concordar. Só na posição de lateral direito é que o Real não tem um jogador de qualidade inegável, porque de resto tem-no em todas as outras posições. Para mim, o problema do Real é ter muitos jogadores geniais, mas não regulares, o que empresta à equipa uma dinâmica imprevisivel, no bom e no mau sentido. Acho que o tempo de Mourinho no Real chegou ao fim. Ele precisa de outro desafio. Ele não tem mais nada para dar ao Real nem o Real a ele.

Mike Portugal disse...

Nuno,

Só mais uma coisa. O Man Utd fez neste jogo tudo aquilo que tu criticas no Real quando este joga contra o Barça. Jogou tudo na retranca, com o autocarro em frente à baliza e a depender de Wallbeck ou Van Persie para correr que nem loucos e tentar marcar num contra-ataque.

DC disse...

Essa de na 1ª mão o Real ter merecido ganhar também esquece o pequeno "detalhe" da expulsão perdoada ao Varane.

Já na frase de grupos o City foi sendo afastado com decisões arbitrais como aquele penalti sobre o Balotelli e o Real ajudado nos 2 jogos contra o Dortmund em que a arbitragem evitou uma humilhação.

Neste jogo, tal como na maior parte dos jogos do campeonato, ficou provado que o Real não sabe atacar, só se sente confortável a jogar em chutão para a frente. Ou seja, só sabe jogar contra equipas melhores, que assumam o jogo. E por isso, e porque este ano nos jogos do Real há sempre "detalhes" arbitrais, pode perfeitamente vencer o Bayern e ser campeão europeu.

Agora, depois de ter ganho uma Champions com um golo mal-anulado ao Utd, outra com um roubo em San Siro contra o Barcelona e outro contra o Chelsea e agora com mais esta vergonha, será que o Mourinho vai voltar a usar a frase "Tinha vergonha de ganhar uma Champions assim"?

Pedro disse...

" acreditar na fatalidade de que os jogos se definem pelos detalhes "

Sinceramente acho que ninguém acredita nisso. Acho que ninguem defende que os jogos se ganham pelos detalhes que mencionas. Acredita-se sim que CERTOS jogos são decididos por detalhes...pela tal escorregadela, pelo erro do árbitro, etc.

Quanto ao resto nem sequer tem discussão. Uma equipa que trabalhe bem fica cada vez menos vulnerável a esses detalhes. Isso sim faz toda a diferença.

O Real de Mourinho, com os jogadores q tem, devia fazer muito mais do que faz. Muito mais.

Hélder disse...

Eu aco que não se discute a abordagem do Man utd, ou a expulsão em si (que acho ridicula, como a do Aimar em Olhão).

Discute-se a dependencia dos detalhes, seja um golo de canto, seja um alívio do khedira, seja uma exulsão, por parte de uma equipa quer ser a melhor do mundo.

Para uma equipa que tem o melhor jogador do mundo, o melhor guarda-redes, o melhor treinador e o melhor defesa-esquerdo é claramente pouco. Começo a achar que o JJ com aquela equipa espetava 5 ou 6 batatas (em Dezembro).

Cantinho do Morais disse...

Tudo certeiro.
Real foi superior durante 10 minutos.
E a diferença de valor entre as individualidades devia colocar o Real noutro patamar.

Mas a Décima falou mais alto.

Gonçalo Teixeira disse...

A última vez que o Mourinho foi beneficiado naquele estádio, tendo sido anulado o 2-0 a Paul Scholes num fora de jogo muito mal assinalado, acabaria por vir a ganhar a champions. A verdade é que esse Porto jogava muito melhor que este Real.

Cantinho do Morais disse...

Gonçalo Teixeira,

Não esquecer a ridícula expulsão de Jorge Andrade no Dragão, nas meias-finais, um penalty e expulsão na Corunha e um fora de jogo vergonhoso (Giuly isolado) com 0-0 na final.

Mas sim, esse Porto jogava muito mais que este Real.

Mas a Décima está entregue.

Daniel Martins disse...

Sempre achei o plantel do Real demasiado sobrevalorizado.
Casillas é um bom guarda-redes mas existem tantos, mas tantos guarda-redes que nunca tiveram metade do reconhecimento do espanhol apesar de terem tanta ou mais qualidade.

Na defesa temos um Pepe fantástico, um Marcelo que a atacar é o melhor lateral esquerdo do mundo, um Sérgio Ramos que teve um 2012 espectacular e que acabou por disfarçar a sua inconsistência defensiva, um Varane que tem 19 anos, um Coentrão que sem confiança é vulgaríssimo e um Arbeloa que no Benfica ou no Porto não calçava.

No meio-campo temos um Khedira que vai safando, temos um Xabi Alonso que joga a 6/8 mas que tem pouca intensidade na pressão e recuperação da bola (e o quanto a táctica do Mourinho sofre com isso...), um Modric que ainda não entrou na dinâmica da equipa, um Essien que nunca mais irá ser o que foi antes das constantes lesões que teve, um Kaka que morreu para o futebol e um Ozil que tem tanto de genial como de irregular.

Na frente temos o 2º melhor jogador do mundo, um Di Maria que alia a técnica do Messi ao cérebro de uma galinha, e 2 pontas de lança que não entram no top-15 dos melhores avançados do globo. O que para um Real Madrid, é muito pouco.

Blessing disse...

Boas Nuno,
Aqui fica a minha réplica

"Não acreditei, por isso, no final da primeira época, que pudesse ganhar uma competição de regularidade, como o campeonato interno, em que os detalhes acabam por não ser tão determinantes quanto numa competição a eliminar, mas a verdade é que a equipa se conseguiu superar, encarando cada jogo como uma final, mantendo índices de concentração sempre elevados. Como disse também atempadamente, tal só foi possível porque a motivação de bater o Barcelona para a Liga era enorme. Sem isso, não teriam sido capazes de vencê-la, precisamente porque não são uma equipa para ganhar regularmente, como o exige um campeonato interno."

Bom, fazendo um exercício de professor Caramba apostei, depois daquele primeiro ano, precisamente o oposto de ti. Acreditei que eles iam ser campeões, exactamente por se estarem a mostrar uma equipa regular e por terem reduzido a vantagem psicológica que os jogadores do Barcelona tinham sobre eles, pela regularidade com que ganhavam, ao contrário do que dizes. Desde que Mourinho chegou a Espanha, a equipa foi bastante regular nos primeiros 2 anos e só este ano é que baixou esses índices de regularidade.

"Conseguiram superar-se no ano passado, mas não demoraria para que voltassem ao que verdadeiramente são: uma equipa de grandes jogos, de competições a eliminar. O fraco campeonato do Real Madrid não é, por isso, minimamente surpreendente. Este é que é o verdadeiro Real Madrid, não o do ano passado. É um Real Madrid banal numa competição de regularidade, que perde pontos e joga mal com adversários acessíveis, mas um Real Madrid muito competitivo sempre que o desafio é maior."

Reitero no primeiro ano também foram regulares, só que o Barcelona ainda foi mais que eles. E para mim, surpreende o fraco campeonato deles, sobretudo pela diferença de nível que o jogo deles sofreu, apesar de não ter perdido nenhum jogador nuclear, e ainda ter ganho Modric, que é um acrescento supremo de criatividade. Este não é o verdadeido Real Madrid, tens duas épocas super regulares atrás que provam precisamente o contrário... Muito regulares, em todas as competições... Campeonato, Champions e taça... 2 Anos com a maior regularidade que se pode ter... Apenas superado no mundo por uma equipa, num desses anos (Barcelona).

Mas já que estás a falar de regularidade, vamos então aos números dos dois campeonatos espanhóis anteriores:1ºano 92 pontos-> 38 jogos - 29 Vitórias - 5 empates - 4 derrotas (102 golos marcados, 33 sofridos); 2ºano-> 38 jogos - 32 vitórias - 4 empates - 2 derrotas (121 golos marcados, 32 golos sofridos)

Blessing disse...

"Foi assim que Mourinho preparou a equipa desde que chegou, e é agora, ao final de três anos, que ela melhor espelha o trabalho a que foi sujeita."

Posto isto acho que já toda gente percebeu que o Real sempre foi uma equipa super regular, com excepção deste ano. E acrescento que o número de pontos feitos no primeiro ano, onde foi super regular, mas não foi campeão, dariam para ganhar qualquer outro campeonato do mundo, com largos pontos de vantagem... Só não foi mais regular que o Barcelona reitero... Mas a equipa que Mourinho montou nesses dois anos, foi sempre, sempre regular. Em três épocas tens duas que te mostram precisamente o contrário... Perdeu o campeonato e foi eliminado da champions pelo Barcelona no primeiro ano... Ganhou a taça ao Barça. Perdeu a taça para o Barça no ano seguinte e foi casualmente eliminado pelo Bayern na champions (devido ao ciclo decisivos de jogos a que foi sujeito onde em 8 dias defronta Bayern, Barcelona, Bayern e roda 2 jogadores no onze inicial). Não sei de onde e como tiras essas conclusões. Acho que te convém... Não acho que estejas correcto aqui...

No segundo ano, para mim, não havia equipa capaz de os parar. Só o Barcelona. E desde que o ascendente psicológico que os blaugrana tinham se esgotou, mesmo para eles ficou muito complicado bater o Real. A derrota com o Bayern, foi super casual! O Real desse segundo ano para além de regular, jogava bem... Bons movimentos em ataque posicional e continuava mortífero em transição rápida! A melhoria da qualidade de jogo da equipa foi notória! Foi notável! Era um autêntico rolo compressor, que degolava tudo a sua passagem... O Número de pontos conseguidos nesse campeonato, mas uma vez, destoa da tua tese de equipa para jogos a eliminar.

"O Real Madrid, hoje, foi feliz. O ano passado, diante do Bayern, não o foi."
"Mas não a preparou para saber contornar a imponderabilidade dos detalhes"


Não o foi diante do Bayern, não pelos penaltis ou por outro qualquer tipo de detalhes, que não seja explicado pelo desgaste tremendo a que a equipa foi sujeita em muito, muito pouco tempo. O Real do ano passado nada tem haver com o deste ano. Lembro que enquanto frescos, no ano passado, o Real dominou o Bayern, marcou os golos e teve a passagem na mão... Mas o desgaste falou mais alto e o rendimento dos jogadores acabou por não se manter durante o jogo todo...
Ah preparou sim... Não a preparou para jogar como tu gostas, ou como eu gostaria... Mas preparou-a bem, jogava bem, tinha ideias, boas ideias e este ano foi uma excepção. Jogava directo, mas com muito critério. E sobretudo era competente quando era obrigada a jogar em ataque posicional, não era excepcional, mas era competente.

"O jogo medíocre da equipa hoje em Old Trafford, incapaz de tomar as rédeas da partida, de obrigar o adversário a desmontar a defesa, pode, pelo resultado final, ter deixado os merengues muito felizes, mas demonstrou também, muito claramente, a vulgaridade de que é feita: tirando a qualidade do plantel, que não tem comparação com nenhum outro plantel no mundo, à excepção, talvez, do plantel catalão, o Real de Mourinho é uma equipa como tantas outras. E é pena que o seja."

Aqui finalmente concordamos... É uma pena... Mas o seu treinador gosta de uma equipa a jogar rápido na frente, a aproveitar rápido a desorganização do adversário, e este ano é uma total anarquia. Joga sem critério, tenta explorar profundidade quando não há, e sobretudo não sabe de todo jogar em ataque posicional. Este ano, o Real Madrid tem tido muita sorte e porventura continuará a ter. Tem lá jogadores que pelas suas características poderiam ajudar a equipa a dar o salto de qualidade nesse tipo de jogo (ataque organizado), mas permanece um mistério o motivo pelo qual jogam tão pouco. Falo obviamente de Modric e Kaka.

Blessing disse...

É de facto uma tristeza ver uma equipa com um potencial daqueles, produzir tão pouco... O Real Madrid não joga mesmo nada, é incrível... Se não é o tão criticado Cristiano, aquilo então andava completamente morto... Horrível...

Abraço

tiago disse...

Para mim a principal diferença em relação à época passada no campeonato está aqui:
http://www.zerozero.pt/jogador.php?id=12913&epoca_id=142&op=zoomstats
http://www.zerozero.pt/jogador.php?id=30273&epoca_id=142&op=zoomstats
Real começa o campeonato com valencia, getafe, granada e sevilha...higuain é titular contra valencia getafe e granada e o real empata uma vez e perde duas, o barça começa a limpar tudo e o tal factor motivacional vai-se e começam mas é a pensar na décima champions. Depois de terem ganho o campeonato ao real o objectivo principal este ano já seria esse e com este começo...

Muitas das coisas boas que o real fazia em ataque posicional o ano passado eram obra e graça de benzema, começando ele a época no banco e higuain só preocupado em dar profundidade em tudo que é jogada pronto.
Não percebo sequer como é que o mourinho em old trafford e sabendo que o manchester ia dar a iniciativa joga com ele a titular.

Pior ainda é "exigir" Modric quando neste momento parece não gostar de jogadores com as suas características. O que é importante é meter o xabi alonso a fazer de "quarterback" e o khedira a fazer piscinas.

E jogar com ramos a titular quando tem carvalho...já perdi a conta ás vezes que ramos fez penalties estúpidos ou merecia ser expulso e se safou.

DC disse...

Daniel, porra Di Maria com a técnica do Messi??!!

Blessing não te esqueças que essa regularidade que atribuis ao Real foi feita com base em inúmeras reviravoltas milagrosas, muitos penaltis e muitas expulsões.
O Real não tinha um jogo tranquilo, mesmo alguns em que acabava a golear 4-1 ou 5-1, começava a perder e tinha sempre largos períodos de jogo em que não sabia o que fazer. Mas aos empurrões e solavancos, com muita bola batida em chuveirinho e muito físico no meio-campo, lá ia conseguindo ganhar os jogos.

Quanto à eliminatória com o Bayern a única sorte que, para mim, existiu, foi o Real conseguir chegar a penaltis.
O Bayern dominou categoricamente os 2 jogos e o Real nem sabe como é que não saiu trucidado da Baviera.

Este ano em relação ao ano passado faltam 2 coisas essencialmente: pernas e moral.
Mourinho espremeu ao máximo fisicamente muitos dos jogadores que agora são uma sombra do que eram e além disso perdeu a confiança do balneário e o objectivo que os unia. Antes os jogadores não queriam saber dos dedos nos olhos, das esperas a árbitros, porque só viam Barça à frente! Todos estavam cegos de ânsia por derrotar o Barça e isso deu-lhes forças que eles não tinham.

Este ano depois do título conquistado, essa super-motivação esgotou-se e nota-se claramente. E nota-se também que só nesses jogos em que o Mourinho consegue despertar a raiva nos jogadores é que consegue ganhar. Por alguma razão venceu 2 troféus ao Barça e continua na Champions enquanto que contra Bétis ou Celta de Vigo levou bailes de futebol.


Nuno disse...

Pinto diz: "Expulsão absurda em que sentido? No sentido em que foi uma decisão absurda do árbitro ou no sentido em que foi uma diarreia mental do Nani?"

Pinto, se achas que alguém que tenta dominar uma bola teve uma "diarreia mental", enfim...

"Dizes isto porque não ouviste a entrevista da TVI24 ao Mourinho. Ele disse claramente que o Real não merecia passar e que a expulsão de Nani é que permitiu que o Real desbloqueasse o jogo e que sem isso muito provavelmente não teriam conseguido ganhar. Foram as declarações mais humildes que alguma vez o ouvi fazer."

Foram, foram. A mim espanta-me é que as pessoas não tenham percebido as verdadeiras intenções dessas declarações. Ele começa claramente por dizer que aconteceu o que lhe tinha acontecido a ele há 2 anos, quando o Pepe foi expulso. Mais do que humildades, foi mais uma bicada ao Barça. De resto, Mourinho não tem razão por 2 razões. Primeiro, porque Pepe merecia ser expulso e Nani não; segundo, porque a estratégia do Manchester não dependeu da agressividade com iam a todos os lances, como no caso do Real, e que é, obviamente, uma estratégia que acarreta riscos, como, por exemplo, falhar o tempo da entrada e arriscar uma expulsão.

"Foi. No entanto, o Man Utd foi feliz no encontro da 1ª mão em que o De Gea, literalmente, os safou de sair a perder por 2 ou 3, o que implicaria uma mentalidade diferente para este jogo da 2ª mão."

Mike, eu não vi o Manchester ser inferior ao Real no Bernabéu, nem o vi ser inferior esta semana. O De Gea fez algumas defesas importantes, mas o Real também passou por apuros.

" O Man Utd fez neste jogo tudo aquilo que tu criticas no Real quando este joga contra o Barça. Jogou tudo na retranca, com o autocarro em frente à baliza e a depender de Wallbeck ou Van Persie para correr que nem loucos e tentar marcar num contra-ataque."

Mike, eu nunca critiquei isso no Real. É uma estratégia, como outra qualquer. Já o disse milhares de vezes. O que tenho dito sempre é que uma estratégia desse tipo tem implicações, que é o facto da equipa ficar dependente do que o adversário fizer com a iniciativa. Contra o Barça, raramente me parece a melhor estratégia. Contra o Real, como se viu, deu resultado.

Hélder diz: "Discute-se a dependencia dos detalhes, seja um golo de canto, seja um alívio do khedira, seja uma exulsão, por parte de uma equipa quer ser a melhor do mundo."

Exactamente.

Daniel Martins diz: "Sempre achei o plantel do Real demasiado sobrevalorizado."

Daniel, discordo de quase tudo. Casillas é dos melhores do mundo, se não o melhor. Nos dois primeiros anos, sobretudo contra o Barça, deu sempre a impressão que era ele e mais dez. Sem o Casillas, o Real teria passado grandes vergonhas. Quanto ao resto, o Pepe é ridículo. Os melhores centrais do Real são o Varane e o Ricardo Carvalho. O Sergio Ramos, a lateral, ainda como; a central é igual ao Pepe. Nas laterais estão bem melhor do que dizem. O Arbeloa é o patinho feio desta equipa, mas é um jogador de selecção. Não é extraordinário, mas é bem acima da média. Na esquerda, há dois também muito acima da média. O Khedira, para mim, não jogava. É mediano. Mas há o Xabi Alonso, que é bom, há o Modric e o Ozil, que são geniais, há o Kaká, enfim... O Kaká só não é o que já foi porque o Mourinho, em 3 anos, nunca lhe deu 3 jogos inteiros seguidos. Quando não se confia num jogador, nada feito. Depois, tens o Ronaldo, que é uma máquina a movimentar-se, que oferece variadíssimas soluções à equipa. O Di Maria e o Callejon não contam, porque nem no Arrentela deviam jogar. Tens o Higuain, que é razoável, e tens o Benzema, que é dos 5 melhores avançados da actualidade e que, estando em campo, permite à equipa uma dinâmica ofensiva inacreditável, embora o Mourinho ainda não o tenha percebido.

Nuno disse...

Blessing Lumueno diz: "Bom, fazendo um exercício de professor Caramba apostei, depois daquele primeiro ano, precisamente o oposto de ti. Acreditei que eles iam ser campeões, exactamente por se estarem a mostrar uma equipa regular e por terem reduzido a vantagem psicológica que os jogadores do Barcelona tinham sobre eles, pela regularidade com que ganhavam, ao contrário do que dizes."

Regularidade com que se ganha não é regularidade. Já mostrei isto, há uns meses. O Real ganhou boa parte dos jogos nesse segundo ano com base na força de vontade, na crença. Isso só foi possível porque estavam super motivados. Mas a motivação não é um bom critério para manter a regularidade.

"E para mim, surpreende o fraco campeonato deles, sobretudo pela diferença de nível que o jogo deles sofreu, apesar de não ter perdido nenhum jogador nuclear, e ainda ter ganho Modric, que é um acrescento supremo de criatividade."

Blessing, o jogo deles é exactamente o mesmo. Simplesmente, a motivação não é a mesma. Foi a motivação, e só ela, que fez com que o Real se superasse. O jogo deles não dava para isso, e não dava para manter a regularidade, que nunca tiveram. Mesmo no primeiro ano, é ver a quantidade de jogos que safaram nos últimos minutos. Só isso é que permitiu que conseguissem manter a diferença para o Barcelona até perto do fim.

"Não sei de onde e como tiras essas conclusões. Acho que te convém... Não acho que estejas correcto aqui..."

Pois, Blessing, tu estás a dar atenção a pontos e a golos marcados. Eu estou a dar atenção à qualidade de jogo, que nunca foi regular. Só isso. Em termos de pontos, foram regulares, sim. Mas não é isso que estou a dizer. Estou a dizer que essa regularidade pontual não espelhou nunca uma regularidade exibicional. E isso, desculpa, mas até já o mostrei no tal texto em que falei da incapacidade do Real, no ano em que foi campeão, para resolver os jogos no primeiro tempo. A regularidade pontual explica-se pela motivação com que conseguiram encarar todo o campeonato. Foi essa motivação que, quando a qualidade exibicional não vinha ao de cima, acabou por permitir que fossem regulares em termos de pontos. Este ano, perdendo essa motivação, por razões óbvias, para mim era evidente que não seriam capazes de manter a regularidade pontual anterior. Aliás, falei disto o ano passado.

"A derrota com o Bayern, foi super casual!"

Pois, estás enganado. De casual aquilo não teve nada. Nessa eliminatória, o Real entregou o jogo à inspiração dos jogadores, aos detalhes, à motivação, à competitividade. Até podia ter passado, mas foi sempre a equipa que esteve mais perto de ser eliminada. E aquilo era o Real no máximo da sua força.

"Lembro que enquanto frescos, no ano passado, o Real dominou o Bayern, marcou os golos e teve a passagem na mão... Mas o desgaste falou mais alto e o rendimento dos jogadores acabou por não se manter durante o jogo todo..."

Blessing, não sei que jogo viste. Em 180 minutos, nunca vi o Real com a eliminatória na mão. E nunca o vi a ser superior. Nunca. Como já alguém disse, muita sorte tiveram foi em chegar aos penaltys.

Nuno disse...

Tiago diz: "Muitas das coisas boas que o real fazia em ataque posicional o ano passado eram obra e graça de benzema, começando ele a época no banco e higuain só preocupado em dar profundidade em tudo que é jogada pronto."

Concordo em absoluto com isto, e até já falei do assunto.

"O que é importante é meter o xabi alonso a fazer de "quarterback" e o khedira a fazer piscinas."

É verdade. O Real, em certas alturas, parece funcionar exactamente como uma equipa de futebol americano. Preparam o lance para a bola chegar ao quarterback e depois há uma série de movimentos de aproximação e de ruptura a solicitarem várias opções. É das coisas mais estúpidas que podiam fazer, na minha opinião.

Diogo Cruz diz: "Este ano depois do título conquistado, essa super-motivação esgotou-se e nota-se claramente. E nota-se também que só nesses jogos em que o Mourinho consegue despertar a raiva nos jogadores é que consegue ganhar. Por alguma razão venceu 2 troféus ao Barça e continua na Champions enquanto que contra Bétis ou Celta de Vigo levou bailes de futebol."

Nem mais.

Nuno disse...

Se o Nani fizesse aquilo num jogo da Premier e não fosse expulso, se calhar dirias que a Premier é uma selvajaria e que os árbitros têm de se limitar a cumprir leis.

Já depois de o Arbeloa se antecipar, ele que vai de pé no ar e joelho fletido já sem bola e a ver perfeitamente o Arbeloa, estica a perna pra cravar os pitons. Um "coice". O Bruno Alves fez um assim contra o Estrela da Amadora.

Armou-se em chico esperto, foi o que foi...

Já agora, 15 min do Barça-Depor, este Tello é um cepo! O Varela domina melhor a bola, o Tello manda-a sempre 1m pra frente, não a "cola" no pé!

Nuno disse...

Pinto diz: Já depois de o Arbeloa se antecipar, ele que vai de pé no ar e joelho fletido já sem bola e a ver perfeitamente o Arbeloa, estica a perna pra cravar os pitons."

Pinto, se tu consegues ver alguém com a nuca, gabo-te a habilidade. Não podes é estar convencido de que os outros também o consigam. É um lance perfeitamente casual, como um choque de cabeças, em que os dois jogadores se aleijam. O árbitro tem de marcar falta, pois o Arbeloa não tira partido de ter chegado à bola em primeiro lugar. O que não pode é mostrar cartão (nem amarelo) porque o lance é totalmente inadvertido.

De resto, não sei se já tentaste dominar uma bola assim? Se já, devias saber que ninguém, no momento do contacto da bola com o pé, tem a perna flectida? O Nani está a olhar para o ar, estica a perna e, no preciso momento em que está com a perna totalmente esticada, ou seja, no preciso momento em que a bola está a chegar ao seu pé, acerta no Arbeloa, que se tinha antecipado. Quando me vêm com esse argumento de que a perna dele vai flectida e depois estica, e que isso prova a intenção de agredir, enfim, só posso dizer que não percebem nada do que estão a dizer. Que a perna estique, quando a bola está a chegar, é a coisa mais normal do universo...

Pedro disse...

"O Di Maria e o Callejon não contam, porque nem no Arrentela deviam jogar."

É isto que gosto de ti. Seres capaz de dizer estas frases choque com a maior das passividades. LOL.

"Se o Nani fizesse aquilo num jogo da Premier e não fosse expulso, se calhar dirias que a Premier é uma selvajaria e que os árbitros têm de se limitar a cumprir leis."

Pensei exactamente o mesmo quando vi o lance. É óbvio que o Nani não vê o Arbeloa pq está a olhar para a bola e levanta o pé para a controlar...mas aquele fincar de pitons depois do choque fica difícil de desculpar.

Bernard öZilva disse...

http://www.youtube.com/watch?v=G7-w6TDKyaM

DC disse...
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Daniel Martins disse...

Nuno peço desculpa por só responder agora. Lendo a tua resposta parece-me que não discordamos assim tanto quanto ao plantel do Real, excepto em relação a 3 jogadores: Pepe, Kaka e Benzema.

Pepe ridículo? Para mim é dos melhores centrais a nível mundial, e tem sido de longe o jogador mais regular e influente da selecção portuguesa desde que se naturalizou. Eu sei que isto vale o que vale, mas parece-me significativo.

O problema do Kaká é que de certa forma ele conformou-se que já não é o Kaká de antigamente, e não há nada pior do que um jogador conformado. Mesmo com 3 jogos seguidos e bem conseguidos, bastaria um mau jogo para ele encolher os ombros e meter na cabeça que aqueles 3 jogos não foram mais do que um fogacho. Mas oxalá eu esteja enganado, poucas coisas me dariam mais prazer do que vê-lo a renascer para o futebol.

O Benzema de facto ao nível da dinâmica ofensiva é muito bom. Temporiza, tabela e constrói como poucos avançados sabem fazer. Tem é um enorme problema: a falta de instinto matador. E o pior é que essa falta de instinto não se reflecte só na fase do remate/finalização mas também na forma passiva como ele aborda o jogo. E esta passividade é um problema de todos os avançados do Real, à excepção do Ronaldo.

Saudações desportistas