Sábio: O que é preciso um jogador ter para ser um bom central?
Alguém: Ser alto para ganhar bolas de cabeça e ser agressivo para desarmar os adversários.
Sábio: E quanto a um lateral, de que precisa um lateral?
Alguém: Um lateral, hoje em dia, tem de ser alguém com capacidade para fazer o corredor todo. Precisa, portanto, de ser rápido, de ter pulmão e de ser capaz de dar profundidade pela faixa.
Sábio: E para jogar no meio-campo, o que é preciso?
Alguém: É preciso correr e lutar muito, porque se está sempre em jogo.
Sábio: E para se ser um criador de jogo, também é preciso correr muito?
Alguém: Não. Um criador de jogo deve ser alguém com boa capacidade de passe e visão de jogo.
Sábio: E um extremo, o que precisa um extremo de ter?
Alguém: Um extremo precisa de ser rápido porque é na linha que há mais espaço e precisa de ter habilidade para criar desequilíbrios individuais.
Sábio: E um avançado, que características deve ter um bom avançado?
Alguém: Um avançado deve ser alguém com capacidade para marcar golos.
Sábio: Estou a ver. Então, se tivermos os centrais mais altos e agressivos, os laterais mais rápidos e resistentes, os médios mais lutadores, os criativos com melhor capacidade de passe, os extremos com mais velocidade e habilidade e os avançados que mais golos marcam, temos necessariamente a melhor equipa, certo?
Alguém: Não necessariamente. No futebol, nada é assim tão simples.
Sábio: Então? Há algo mais que os jogadores tenham de ter?
Alguém: Os jogadores não. Mas a equipa precisa de funcionar colectivamente.
Sábio: Não percebo. Se o central alto e agressivo ganhar as bolas todas com a sua altura e a sua agressividade, como é que os adversários serão capazes de criar perigo? Se os médios lutarem mais que os médios adversários, não será a equipa mais capaz que a adversária? Se os avançados marcarem mais golos, como é que se pode perder um jogo?
Alguém: Nada é assim tão literal. Há circunstâncias...
Sábio: Não entendo.
Alguém: Teoricamente, se tivermos os melhores em cada posição, temos a melhor equipa. Mas eles têm de se entender entre eles, não podem fazer tudo sozinhos.
Sábio: Mas a altura do central é do central, não da equipa. Assim como a sua agressividade. A velocidade dos laterais e a habilidade dos extremos é dos laterais e dos extremos, não da equipa. A capacidade de passe é dos criativos, não da equipa. A capacidade de marcar golos é do avançado, não da equipa. Se eles valem pelos seus atributos individuais, mas não podem fazer as coisas sozinhos, ou seja, usando os seus atributos individuais, em que é que ficamos?
Alguém: Ah! Mas eles têm de pôr os seus atributos individuais ao serviço do colectivo.
Sábio: Continuo sem perceber. Como é que se põe a velocidade que é própria de alguém ao serviço de uma entidade abstracta como o colectivo?
Alguém: Fazendo com que a velocidade tenha consequências positivas para a equipa.
Sábio: Sim, mas como?
Alguém: Fazendo com que o jogador não se valha apenas por ela.
Sábio: Ah, mas então isso significa que o melhor extremo, aquele que é mais rápido e habilidoso, não se pode, para que a equipa em que joga seja a melhor, valer apenas da sua rapidez e da sua habilidade.
Alguém: Sim, assim parece.
Sábio: Então de que tem de se valer mais?
Alguém: Não sei.
Sábio: Pois, bem me parecia. Parece que afinal o melhor extremo tem de ter, além de habilidade e velocidade, algo mais. Mas que coisa misteriosa é essa que ele tem de ter além da habilidade e da velocidade?
Alguém: Não sei. Tem de ser colectivamente eficaz, talvez.
Sábio: Sim, mas o que significa isso? De que atributos necessita um jogador para ser colectivamente eficaz?
Alguém: Não sei. Não consigo formular verbalmente uma resposta a essa pergunta.
Sábio: Já calculava que não. Só tenho mais uma dúvida. Disseste que o melhor defesa era o mais alto e o mais agressivo, que o melhor lateral era o que tinha mais velocidade e pulmão, de modo a ter capacidade para fazer o corredor todo, que o melhor médio era o que lutava mais, que o melhor criativo era o que passava melhor e o que tinha melhor visão de jogo, que o melhor extremo era o mais veloz e o mais habilidoso, e que o melhor avançado era o que marcava mais golos, certo?
Alguém: Certíssimo.
Sábio: E o que é preciso para se ser jogador de futebol?
Alguém: ?!?!?!
Alguém: Ser alto para ganhar bolas de cabeça e ser agressivo para desarmar os adversários.
Sábio: E quanto a um lateral, de que precisa um lateral?
Alguém: Um lateral, hoje em dia, tem de ser alguém com capacidade para fazer o corredor todo. Precisa, portanto, de ser rápido, de ter pulmão e de ser capaz de dar profundidade pela faixa.
Sábio: E para jogar no meio-campo, o que é preciso?
Alguém: É preciso correr e lutar muito, porque se está sempre em jogo.
Sábio: E para se ser um criador de jogo, também é preciso correr muito?
Alguém: Não. Um criador de jogo deve ser alguém com boa capacidade de passe e visão de jogo.
Sábio: E um extremo, o que precisa um extremo de ter?
Alguém: Um extremo precisa de ser rápido porque é na linha que há mais espaço e precisa de ter habilidade para criar desequilíbrios individuais.
Sábio: E um avançado, que características deve ter um bom avançado?
Alguém: Um avançado deve ser alguém com capacidade para marcar golos.
Sábio: Estou a ver. Então, se tivermos os centrais mais altos e agressivos, os laterais mais rápidos e resistentes, os médios mais lutadores, os criativos com melhor capacidade de passe, os extremos com mais velocidade e habilidade e os avançados que mais golos marcam, temos necessariamente a melhor equipa, certo?
Alguém: Não necessariamente. No futebol, nada é assim tão simples.
Sábio: Então? Há algo mais que os jogadores tenham de ter?
Alguém: Os jogadores não. Mas a equipa precisa de funcionar colectivamente.
Sábio: Não percebo. Se o central alto e agressivo ganhar as bolas todas com a sua altura e a sua agressividade, como é que os adversários serão capazes de criar perigo? Se os médios lutarem mais que os médios adversários, não será a equipa mais capaz que a adversária? Se os avançados marcarem mais golos, como é que se pode perder um jogo?
Alguém: Nada é assim tão literal. Há circunstâncias...
Sábio: Não entendo.
Alguém: Teoricamente, se tivermos os melhores em cada posição, temos a melhor equipa. Mas eles têm de se entender entre eles, não podem fazer tudo sozinhos.
Sábio: Mas a altura do central é do central, não da equipa. Assim como a sua agressividade. A velocidade dos laterais e a habilidade dos extremos é dos laterais e dos extremos, não da equipa. A capacidade de passe é dos criativos, não da equipa. A capacidade de marcar golos é do avançado, não da equipa. Se eles valem pelos seus atributos individuais, mas não podem fazer as coisas sozinhos, ou seja, usando os seus atributos individuais, em que é que ficamos?
Alguém: Ah! Mas eles têm de pôr os seus atributos individuais ao serviço do colectivo.
Sábio: Continuo sem perceber. Como é que se põe a velocidade que é própria de alguém ao serviço de uma entidade abstracta como o colectivo?
Alguém: Fazendo com que a velocidade tenha consequências positivas para a equipa.
Sábio: Sim, mas como?
Alguém: Fazendo com que o jogador não se valha apenas por ela.
Sábio: Ah, mas então isso significa que o melhor extremo, aquele que é mais rápido e habilidoso, não se pode, para que a equipa em que joga seja a melhor, valer apenas da sua rapidez e da sua habilidade.
Alguém: Sim, assim parece.
Sábio: Então de que tem de se valer mais?
Alguém: Não sei.
Sábio: Pois, bem me parecia. Parece que afinal o melhor extremo tem de ter, além de habilidade e velocidade, algo mais. Mas que coisa misteriosa é essa que ele tem de ter além da habilidade e da velocidade?
Alguém: Não sei. Tem de ser colectivamente eficaz, talvez.
Sábio: Sim, mas o que significa isso? De que atributos necessita um jogador para ser colectivamente eficaz?
Alguém: Não sei. Não consigo formular verbalmente uma resposta a essa pergunta.
Sábio: Já calculava que não. Só tenho mais uma dúvida. Disseste que o melhor defesa era o mais alto e o mais agressivo, que o melhor lateral era o que tinha mais velocidade e pulmão, de modo a ter capacidade para fazer o corredor todo, que o melhor médio era o que lutava mais, que o melhor criativo era o que passava melhor e o que tinha melhor visão de jogo, que o melhor extremo era o mais veloz e o mais habilidoso, e que o melhor avançado era o que marcava mais golos, certo?
Alguém: Certíssimo.
Sábio: E o que é preciso para se ser jogador de futebol?
Alguém: ?!?!?!
7 comentários:
1 dos melhores textos k eu li este ano sobre futebol.Parabens
não sei se foi propositado ou não mas as caracteristicas que o alguém defende para as diferentes posições são concepções radicais das que tentas combater. Não há nada neste texto que me dê a entender que o Emidio Rafael é melhor lateral que Coentrão só porque procura espaços interiores e tem outras preocupações que não são só correr pela faixa lateral!
De todas as formas parabens pelo texto, há passagens que me fazem mesmo lembrar Platão!
"Sábio: Estou a ver. Então, se tivermos os centrais mais altos e agressivos, os laterais mais rápidos e resistentes, os médios mais lutadores, os criativos com melhor capacidade de passe, os extremos com mais velocidade e habilidade e os avançados que mais golos marcam, temos necessariamente a melhor equipa, certo?"
Alguém: Não, necessariamente, se a equipa adversária tiver também os jogadores de igual valência.
Sábio: Então o que sucede quando a lança mais dura do mundo choca com o escudo mais duro do mundo?
Alguém: Ou ficam na mesma ou se partem os dois.
Bom diálogo, mas gostei mais de um outro que escreveste antes...penso que era sobre a competitividade da Premier League.
Era mais extenso e penso que explicava o bastante bem o assunto.
De qualquer forma deixo uma pergunta: então e se um clube tiver muito poucos recursos? Se só poder comprar extremos que são apenas rápidos e centrais altos? Um central com capacidade técnica e visão de jogo não está ao alcance de qualquer clube...o que fazer? Apostar na formação? Comprar jogadores mais jovens?
Fica a provocação, keep up the good work!
e o que é preciso para se ser treinador de futebol? questao interessante. merece resposta vossa.
John Wesley, queria, antes de tudo, pedir desculpas pela demora na resposta. Aquilo que interessa num jogador tem pouco a ver com os seus atributos físicos. E como há pouco gente a pensar assim, é relativamente fácil construir uma equipa de qualidade com poucos recursos. É preciso saber ler nas entrelinhas e ver onde estão jogadores com qualidades, ainda que mais discretos. Só na primeira liga há vários que fariam uma equipa extraordinária, se orientada convenientemente, e que estão bastante mal aproveitados nos seus clubes, ou até foram emprestados.
Joao, para se ser treinador de futebol são precisas várias coisas. Para mim, divido-as essencialmente em duas componentes: concepção teórica do jogo e capacidade de, através do treino, ser capaz de passar ideias teóricas à prática. São duas competências diferentes, ambas necessárias ao sucesso.
A mim parece-me que o Sábio e o Alguém estão com os papeis, teóricos, trocados. Fraquinho.
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