Como é hábito, nesta e noutras áreas, há entre quem fala de futebol gente incompetente, gente simplesmente ingénua e gente que age deliberadamente de má fé. Estas três categorias de pessoas constituem, a meu ver, um conjunto que faz do jogo falado uma coisa empobrecida e que influencia negativamente a opinião pública. São, por isso, atentados ao intelecto do comum adepto, intelecto esse que, como o de uma criança, recebe não-criticamente aquilo com que o educam. Queria, nesta base, falar de três casos evidentes e recentes em que aquilo que se escreve ou diz tem responsabilidades na condução das opiniões de quem lê.
1. Tem vindo a lume, nas últimas semanas, a notícia da possível saída de Pereirinha do Sporting. Não sei se há algum fundamento nestas notícias, mas desconfio que não, até porque é prematuro falar do que quer que seja em relação ao plantel antes de se saber quem é o treinador que o vai comandar. Ora, sendo assim, parece-me claro que a notícia é escrita de um modo absolutamente especulativo e tendo como fundamento o facto de o jogador estar há 3 anos para se afirmar e ainda não o ter conseguido. Trata-se de uma opinião de uma ou mais pessoas que, na urgência de produzir novidades jornalísticas, foi transformada em notícia. O que é cobarde e constitui um atentado intelectual é que este tipo de notícia condiciona opiniões e cola rótulos que, maior parte dos leitores, por não ter convicções fortes, aceita facilmente. Não é certamente o caso mais grave, mas é um exemplo perfeito de como, às vezes, uma opinião aparentemente inocente tem um lado criminoso.
1. Tem vindo a lume, nas últimas semanas, a notícia da possível saída de Pereirinha do Sporting. Não sei se há algum fundamento nestas notícias, mas desconfio que não, até porque é prematuro falar do que quer que seja em relação ao plantel antes de se saber quem é o treinador que o vai comandar. Ora, sendo assim, parece-me claro que a notícia é escrita de um modo absolutamente especulativo e tendo como fundamento o facto de o jogador estar há 3 anos para se afirmar e ainda não o ter conseguido. Trata-se de uma opinião de uma ou mais pessoas que, na urgência de produzir novidades jornalísticas, foi transformada em notícia. O que é cobarde e constitui um atentado intelectual é que este tipo de notícia condiciona opiniões e cola rótulos que, maior parte dos leitores, por não ter convicções fortes, aceita facilmente. Não é certamente o caso mais grave, mas é um exemplo perfeito de como, às vezes, uma opinião aparentemente inocente tem um lado criminoso.
2. O segundo caso tem a ver com David Luiz. Não conheço outro sítio que alerte, com tanta frequência, para a forma precipitada com que a opinião acerca de David Luiz tem crescido. Não está em causa o valor do jogador, que o tem. Está em causa a dimensão desse valor e a magnitude dos elogios que lhe são feitos. Analisemos, primeiramente, o golo com que a Naval se adiantou no marcador, esta segunda-feira. Alguém no seu perfeito juízo consegue desculpar um defesa central que defende daquela maneira primitiva um lance como aquele? O Benfica está equilibrado defensivamente, a bola entra num avançado que está descaído para um flanco, e mesmo assim David Luiz quer à força ganhar o lance em antecipação. Perde-o, como tantas vezes tem acontecido. Mas o pior do lance nem é isso, até porque perder a antecipação, naquela zona, deixava o jogador da Naval apenas com espaço no flanco. O que é grave é que, David Luiz, ao falhar o seu primeiro intuito, fica do lado de fora e continua a força a recuperação da bola. Ao fazê-lo, David Luiz está precisamente a ignorar o mais básico princípio defensivo: o defensor deve dar o lado de fora ao atacante, defendendo sempre por dentro, porque a baliza está por dentro. David Luiz acompanha o avançado da Naval por fora, como se estivesse a defender a bandeirola de canto. São poucos os defesas centrais profissionais que cometem este tipo de erros absurdos. O resultado foi o óbvio. O atacante da Naval protegeu a bola com o corpo e veio para dentro sem oposição. Depois fez o golo, mais um sofrido pelo Benfica às custas de David Luiz. Pode ser o defesa mais espectacular a jogar em Portugal, o mais espalhafatoso, o que faz mais cortes no limite, mas é responsável por praticamente 50% dos golos sofridos pelo Benfica esta temporada, só no campeonato. E não atender a este facto é minimamente grave. Quando se fala de David Luiz, ignora-se este pormenor. E fala-se dele esquecendo que isto lhe diminui drasticamente o valor. Toda a pessoa de bom senso deve ser alertada para este tipo de coisas. Porque a diferença entre uma opinião sensacionalista e uma opinião informada é, muitas vezes, uma coisa ténue.
3. O terceiro caso é, porém, aquele que me parece mais grave, aquele em que há, além de incompetência, verdadeira má fé. Deparei recentemente com uma notícia que dava conta de que Hulk era o rei das assistências do campeonato português. O anúncio deixou-me imediatamente desconfortável, pois a minha intuição dizia-me que algo de muito errado havia no mesmo. A notícia foi veiculada por um reputado diário desportivo e baseava-se numa estatística alegadamente séria. Segundo a teoria, Hulk, com duas assistências no Restelo e uma diante do Marítimo, tinha passado para o topo da lista dos jogadores com mais assistências no campeonato, com 5 assistências. A minha primeira reacção foi pensar que não se consideravam assistências provenientes da marcação de bolas paradas, mas duas destas assistências recentes de Hulk tinham sido obtidas desse modo, o que invalidava esta suposição. Fiz questão de rever todos os golos do Benfica, porque estava em crer que Aimar, só na primeira volta, tinha mais do que 5 assistências. Não me enganei. Pablo Aimar tem 8 assistências: duas ao Setúbal (para Javi e para Luisão, na transformação de livres), uma ao Belenenses (para Javi, na transformação de um canto), uma ao Leixões (para David Luiz, na transformação de um livre) uma ao Leiria (para Saviola, na transformação de um livre), uma ao Guimarães (num passe atrasado para Carlos Martins), uma ao Setúbal (para David Luiz, na transformação de um canto), e uma agora à Naval (para Weldon, na transformação de um canto). Desconfio ainda que as contas não batem certo em relação a Hugo Viana, Coentrão e Di Maria, pelo menos. Já se sabe que, para mim, uma tabela de assistências pouco ou nada significa, em relação aos méritos de um jogador. Mas não é assim que pensa maior parte das pessoas. E publicar uma notícia com este grau de irregularidade, ainda por cima eivada de preconceitos e claramente tendenciosa (referindo-se por exemplo com amargura em relação ao lance do golo anulado a Falcao no Restelo, que garantiria a Hulk mais uma assistência), é algo que condiciona fortemente quem lê e não tem espírito crítico para contestar o que lê. Este tipo de acção constitui, na verdade, um atentado intelectual e é uma das mais perigosas consequências da liberdade de imprensa. Assim se constroem mitos e se manipulam verdades. Assim se inflacionam ideias e se conquistam simpatias. É por causa de coisas como estas que as opiniões erradas abundam na praça pública. Se em parte a falta de espírito crítico dos leitores explica a situação, não deixa de haver culpas de quem escreve atrocidades como estas. Lamentavelmente, claro.
3. O terceiro caso é, porém, aquele que me parece mais grave, aquele em que há, além de incompetência, verdadeira má fé. Deparei recentemente com uma notícia que dava conta de que Hulk era o rei das assistências do campeonato português. O anúncio deixou-me imediatamente desconfortável, pois a minha intuição dizia-me que algo de muito errado havia no mesmo. A notícia foi veiculada por um reputado diário desportivo e baseava-se numa estatística alegadamente séria. Segundo a teoria, Hulk, com duas assistências no Restelo e uma diante do Marítimo, tinha passado para o topo da lista dos jogadores com mais assistências no campeonato, com 5 assistências. A minha primeira reacção foi pensar que não se consideravam assistências provenientes da marcação de bolas paradas, mas duas destas assistências recentes de Hulk tinham sido obtidas desse modo, o que invalidava esta suposição. Fiz questão de rever todos os golos do Benfica, porque estava em crer que Aimar, só na primeira volta, tinha mais do que 5 assistências. Não me enganei. Pablo Aimar tem 8 assistências: duas ao Setúbal (para Javi e para Luisão, na transformação de livres), uma ao Belenenses (para Javi, na transformação de um canto), uma ao Leixões (para David Luiz, na transformação de um livre) uma ao Leiria (para Saviola, na transformação de um livre), uma ao Guimarães (num passe atrasado para Carlos Martins), uma ao Setúbal (para David Luiz, na transformação de um canto), e uma agora à Naval (para Weldon, na transformação de um canto). Desconfio ainda que as contas não batem certo em relação a Hugo Viana, Coentrão e Di Maria, pelo menos. Já se sabe que, para mim, uma tabela de assistências pouco ou nada significa, em relação aos méritos de um jogador. Mas não é assim que pensa maior parte das pessoas. E publicar uma notícia com este grau de irregularidade, ainda por cima eivada de preconceitos e claramente tendenciosa (referindo-se por exemplo com amargura em relação ao lance do golo anulado a Falcao no Restelo, que garantiria a Hulk mais uma assistência), é algo que condiciona fortemente quem lê e não tem espírito crítico para contestar o que lê. Este tipo de acção constitui, na verdade, um atentado intelectual e é uma das mais perigosas consequências da liberdade de imprensa. Assim se constroem mitos e se manipulam verdades. Assim se inflacionam ideias e se conquistam simpatias. É por causa de coisas como estas que as opiniões erradas abundam na praça pública. Se em parte a falta de espírito crítico dos leitores explica a situação, não deixa de haver culpas de quem escreve atrocidades como estas. Lamentavelmente, claro.
9 comentários:
Penso que tens, no geral, razão. Existe um grande problema em Portugal que é certos jogadores terem muito boa imprensa como por ex: David Luiz, Meireles ou Moutinho. Que mesmo quando jogam muito mal, parece que lhes poêm sempre a mão no ombro...
http://aoutravisao.wordpress.com/
TOMA OUTRO ATENTADO
http://acausafoimodificada.blogs.sapo.pt/399844.html
Boas Nuno,
De modo geral concordo com o teu texto, a comunicação social, principalmente os jornais desportivos e sua horda de "opinion makers" influenciam e muito a opinião geral que se tem de um jogador, tanto pra bem como para mal. Mas esse mal não é só no futebol ou desporto em geral, o mesmo acontece com a política ou saúde ou qualquer outro assunto que se seja de interesse público!
O problema não é a liberdade de imprensa, o problema é sim que tudo é gerido e escrito por pessoas, e como se sabe de anjinhos tá o Inferno cheio...
Como tu dizes e bem, quem escreve as tais atrocidades (não querendo com isto dizer que concordo com tudo o que dizes) tem a sua quota parte de responsabilidade, mas no fim das contas a falta de espírito crítico do nosso povo é que lixa tudo...
Um exemplo claro do que a imprensa consegue manipular a opinião pública sobre um determinado jogador, foi no meu entender a situação do Pedro Barbosa. Vi muitos jogos ao vivo em Alvalade e presenciei vezes sem conta a desprezível reacção dos chamados adeptos da porta 10A contra o dito cujo... Na minha humilde opinião foi o jogador mais injustiçado tanto por adeptos como pela comunição social dos últimos 15 anos (não me lembro de mais!)
Saudações desportivas,
André
Totalmente de acordo! A forma como D.Luiz defende aquele lance é de bradar aos céus, um atentado ao futebol:)
O David até esteve mal nos 2 golos.
Podia ser o rei dos golos em termos de percentagens, X assistências a dividir por X jogos... só assim.
O Hulk apresentou um futebol razoavelmente interessante nestes dois ultimos jogos.
(no outro post queria dizer assistencias e não golos)
Blog porreiro e bem estruturado...
Também tenho um de futebol:
http://portuguesesnoestrangeiro.wordpress.com/
Se quiseres passa por lá.. e se houver interesse pudemos trocar links
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