sexta-feira, 24 de julho de 2009

10 Pérolas

Um dos desportos preferidos deste espaço é confessadamente comentar opiniões alheias. A opinião, porque diz mais da pessoa que a tem do que propriamente daquilo a que se destina, é usualmente uma fonte de curiosidade para mim. No que diz respeito ao futebol, sobretudo porque quase todo o mundo parece que pensa que pode ter opiniões, todos os dias se dizem quantidades de lixo absurdas. Não leio jornais desportivos porque os jornalistas desportivos não percebem de desporto e tento, ao máximo, seleccionar aquilo que melhor qualidade apresenta. No entanto, e porque é impossível fugir a todas as atrocidades que são ditas, sobretudo quando ditas em espaços com alguma responsabilidade, não consigo conter um certo repúdio pelo que é dito e germina em mim uma vontade irrepremível de troçar de certas coisas. Já aqui foram alvo de chacota opiniões de alguns notáveis da nossa praça, jornalistas, comentadores e treinadores, principalmente. Desta vez, o alvo é uma coisa que não sei definir, sobretudo por não saber quem é e que profissão exerce, mas que escreve com habitual regularidade e ignominiosa facúndia no já reputado jornal online Academia de Talentos.

Antes de me dedicar ao que concretamente me proponho, gostaria de deixar algumas palavras, em jeito de preâmbulo, do maior génio português de todos os tempos e que se adequam com profícua clareza ao texto que se segue e que respondem, com subtileza e mordacidade, às previsíveis críticas que se seguirem.

"(...) A crítica, de resto, é apenas a forma suprema e artística da maledicência. É preferível que seja justa, mas não é absolutamente necessário que o seja. A injustiça, aliás, é a justiça dos fortes. No fundo, isto é tudo bondade. (...) A justificação última da crítica assim bem entendida é o satisfazer a função natural de desdenhar, função tão natural como a de comer e que é de boa higiene do espírito satisfazer cuidadosamente. Quem sente vontade de desdenhar não deve atar-se à cobardia de julgar isso feio, nem vender-se à infâmia de ir desdenhar o que os outros desdenham, abdicando assim da sua individualidade, gregário. (...) Buscar o conforto no desprezo é não só o nosso dever para com o desprezo, mas também o nosso dever para com nós próprios. Espetar alfinetes na alma alheia, dispondo esses alfinetes em desenhos que aprazam à nossa atenção futilmente concentrada, para que o nosso tédio se vá esvaindo - eis um passatempo deliciosamente de crítico, ao qual juramos fidelidade."

(Fernando Pessoa, «Balança de Minerva - Aferição», 1913)

A selecção que faço dos ditos de Pedro Fajardo - é assim que se chama a criatura que dará alma aos parágrafos que se seguem - peca, certamente, por escassa. A partir do momento em que comecei a acompanhar, com relativa frequência, o que era escrito no Academia de Talentos, deparei-me com várias pérolas e não pude deter fortes risadas e irónicos assentimentos de cabeça. Nem todas tiveram origem na mesma pessoa, é certo, até porque o nível de conhecimentos e de capacidade analítica das pessoas que por ali escrevem, apesar do interesse dos conteúdos e da temática, é bastante curto. Mas as opiniões de Pedro Fajardo sempre me pareceram, existindo um concurso de opiniões absurdas, as mais promissoras. De futebol, esta pessoa perceberá pouquíssimo. Terá o mérito de gostar do jogo. Ou de pensar que gosta, pois não sabe o que é o jogo e, caso o soubesse, talvez não gostasse dele.

Antes ainda de passarmos às suas pérolas, ficam algumas opiniões curiosas de outras pessoas que por lá escrevem.

1. Gil Nunes, tendo que constituir uma equipa ideal de juniores 2008/2009, exibiu a seguinte formação: Ruca na baliza, Cedric, Nuno Reis, Roderick e Mário Rui na defesa, Leandro Pimenta, André Martins e Diogo Rosado no meio-campo, Diogo Viana, Nélson Oliveira e Wilson Eduardo na frente. Para o banco relegou Victor Golas, Josué Pesqueira, Ishmael Yartey, Sagna, Pedro Mendes, Henrique Dinis e Danilo Pereira. Não acompanhei todo o campeonato, mas posso falar da fase final e do talento, em termos absolutos dos jogadores. Começo pelos centrais. Nuno Reis é um bom jogador, mas não incluir Pedro Mendes nos titulares é parvoíce. Roderick não tem classe nem para o banco. Mário Rui é um trauliteiro. Quanto ao meio-campo, é absurdo pensar-se em Leandro Pimenta. Sobretudo quando se esquece David Simão,(Benfica), Diogo Amado (Sporting), Ricardo Dias (Porto) ou André Almeida (Belenenses), sendo que todos eles nem como suplentes foram considerados e qualquer um deles, na selecção de sub-19, tem presença mais assídua. Outro que foi esquecido foi Rabiu Ibrahim (Sporting). Mas lembrou-se de Danilo Pereira, claro. Não se ter lembrado de Lassana Camará já é uma conquista. No ataque, referenciar Diogo Viana e Wilson Eduardo é de loucos. Juntando os neurónios dos dois dava para aí inteligência para um infantil. É até ultrajante estes jogadores serem incluídos numa formação e Josué Pesqueira e Yartey não o serem. Para culminar, Gil Nunes aventa dois nomes para melhor jogador da época: Nuno Reis e Roderick Miranda. Pois, está bem! Nem Josué Pesqueira, nem Diogo Rosado, nem André Martins, nem Rabiu Ibrahim, nem Nélson Oliveira... Talento que é bonito não... O que é bom são centrais duros... Não sei, mas apostaria que Gil Nunes, quando jogava à bola, era o que punha mais adversários a sangrar.

2. Paulo Matias escreve sobre o preconceito que há contra jogadores africanos e a suspeita que muitos deles não tenham a idade correspondente ao escalão em que jogam. Faz então uma defesa dos jogadores africanos, ignorando, por certo, a certeza do teste do pulso e o facto de ser conhecido publicamente que muitos deles têm idades "ilegais", e pergunta:

"Será justo colocarmos em causa o talento de jogadores como Valdomiro Lameira "Estrela", Pape Bakary, Sancidino Silva, Armindo Bangna "Bruma", Carlos Mané, ou os irmãos Edilino Ié, e Edgar Ié
, entre muitos outros que existem nos mais variados clubes Portugueses, apenas porque neste momento exibem uma superioridade física ou intensidade de jogo totalmente diferente dos seus colegas do mesmo escalão? E se quando chegarem ao futebol sénior a superioridade continuar?"

Eu respondo. Sim, será justo. Sobretudo se se souber que o talento deles não é bem talento porque têm mais três ou quatro anos. Não conheço maior parte dos nomes citados por Paulo Matias, embora os ache divertidos, sobretudo aqueles irmãos, mas conheço o primeiro. A alcunha dele é "Zé Estrela" e jogou há uns anos num certo torneio da Pontinha, despontando porque tinha mais meio-metro que os outros miúdos. Na altura achei suspeito. Mais tarde, confirmei que a sua idade não era condizente com o escalão em que jogava. E a diferença não era só de um ano ou dois. Continua Paulo Matias, dizendo, perguntando:

"Nem de propósito, existem actualmente três jogadores que se têm evidenciado nos juniores do Benfica e que certamente já sentiram este tipo de reacções em Portugal, são eles Danilo Pereira, Lassana Camará e Ishmael Yartey. Será alguém capaz de ignorar o talento que estes jovens têm demonstrado na equipa de juniores do Benfica?"

Eu sou capaz. E sou capaz sobretudo porque, tirando Yartey, que tem qualidade, os outros dois são miseráveis. Nem quero saber das idades deles. É mesmo de falta de talento que falo. Basicamente, o que Paulo Matias defende é que factos afinal são preconceitos. Nem vou voltar a falar no avançado ganês de 22 anos que o Benfica o ano passado tinha nos juniores, porque não vale a pena. Além disso, parece defender também que os africanos, quaisquer que sejam, têm talento. Eu não tenho a certeza, mas nos diccionários costuma dizer que "preconceito" significa conceitos formados previamente. Ora, achar que todo o africano é ostracizado porque tem mais talento é que é capaz de ser uma forma de preconceito. E de estupidez, já agora.

3. Nuno Valente faz uma análise ao Benfica/Porto, a contar para a penúltima jornada da fase final do campeonato de juniores deste ano e destaca Nélson Oliveira e Ruca como os melhores em campo. Ruca é o guarda-redes do Porto e parece-me um bom guarda-redes. Mas os guarda-redes normalmente só são destacados ou quando os restantes jogadores são mesmo muito maus ou quando fazem grandes exibições. O argumento de Nuno Valente é que Ruca teve excelentes intervenções. É verdade que o Benfica passou muito mais tempo no meio-campo do Porto, mas criou pouquíssimas situações de perigo e Ruca não fez nenhuma defesa difícil, limitando-se a demonstrar alguma segurança (nem sempre) na resposta a cruzamentos. Só percebo esta análise do ponto de vista de um benfiquista ferrenho, que tentou justificar a má exibição da equipa encarnada e o mau resultado com uma exibição imaculada do guardião adversário. Ora, isto não faz justiça ao que se passou. Sobretudo quando em campo esteve Josué Pesqueira, de longe o jogador mais adulto e mais talentoso do Porto, autor do golo da sua equipa e responsável por tudo o que de bom em termos ofensivos a equipa produziu. Na análise individual a Josué, Nuno Valente diz o seguinte:

"Sempre muito influente, quase todas as jogadas de ataque passaram pelos seus pés. Muito esclarecido, sabe bem como tratar a bola, e foi dele o golo, na conversão da grande penalidade."

Parece elogioso, não parece? Mas não é. É só uma forma simpática de dizer que jogou mais ou menos. Isto porque depois diz isto de Diogo Viana:

"O melhor jogador portista, a par de Ruca, foi dos seus pés que saíram os lances mais perigosos de todo o encontro para a sua equipa. Ganhou a grande penalidade, em mais um lance onde foi notória a sua velocidade e foi sempre o mais esclarecido do ataque portista."

Ora, Diogo Viana fez um jogo horripilante. Dos seus pés não saiu um único lance de perigo, como parece querer convencer-nos Nuno Valente, decidiu sempre mal, tentou virar-se sempre para o seu adversário, quando recebia a bola, mesmo que estivesse apertado, e foi sempre anulado por um rapaz de seu nome Mário Rui, que bate em tudo o que mexe. Não ganhou a grande penalidade, porque quem a cometeu é que foi burro que nem uma porta. E dizer que foi o mais esclarecido, quando não sabe o que é um companheiro de equipa e o único argumento que tem é correr é das coisas mais patéticas que se pode dizer.

4. Chegamos finalmente às pérolas de Pedro Fajardo. Sobre Pedro Mendes, um central tecnicamente muito dotado, com uma capacidade para sair a jogar absolutamente notável e igualmente muito forte em termos defensivos, estando sempre concentrado e tendo uma leitura perfeita dos lances, diz o seguinte:

"Pedro Mendes é um central diferente, cuja evolução a nível técnico tem (aparentemente) encantado os responsáveis leoninos."

É um central diferente? Diferente de quê, amigo? Diferente dos outros ou diferente daquilo que tu achas que é um central? Não é diferente, não. É melhor.

"Acredito muito no seu potencial, mas acho que ainda tem de crescer fisicamente, assim como em alguns aspectos competitivos, para revelar todo o seu potencial."

Pois, estava-se mesmo a ver. O problema é o físico. Para Pedro Fajardo, um bom jogador é só um jogador com potencial. Enquanto não tiver físico, não tem qualidade, tem só potencial. Pedro Mendes não precisa de físico nem precisa de ser mais competitivo do que é. Isto porque competitividade não é agressividade; é concentração, inteligência, precisão, capacidade de melhorar. E ele tem isso tudo.

"Quando souber aplicar o seu físico, no que lhe será muito importante habituar-se ao duro jogo das divisões inferiores, Pedro Mendes poderá aliar os pezinhos de lã com que sempre pretende jogar, para se tornar num central completo."

Ficamos a saber que um central completo é aquele que sabe aplicar o físico. O Baresi, o Maldini, o Laurent Blanc e o Beckenbauer não eram completos. Mas o que eu gosto mesmo é da ideia de ser importante, para um jogador como este, o "duro jogo das divisões inferiores", como se passar pelos escalões inferiores fosse um ritual de passagem, em que um miúdo aprende a ser homem, sendo que homem é, entenda-se, alguém que sabe usar a força, que é viril, que bate nas mulheres. Está certo... Fico com a sensação que Pedro Fajardo é um homem das cavernas...

"Quanto a mim, Nuno Reis mereceria passar imediatamente para o escalão sénior (inclusivamente, parece-me, um defesa mais maduro que Pedro Mendes)."

Nuno Reis é o companheiro de defesa de Pedro Mendes, no Sporting e na selecção. Sabem por que é que parece a Pedro Fajardo que Nuno Reis é mais maduro? Não adivinham? Eu digo: porque é mais agressivo. Faz todo o sentido. Maturidade é agressividade, aliás. Não está em causa o valor dos dois jogadores. São ambos bons. Mas Pedro Mendes tem mais maturidade, até porque é um ano mais velho, e tem características que Nuno Reis não tem e que podem ser uma enorme mais-valia. Mais uma vez, Pedro Fajardo faria bem se estivesse calado...

5. Pedro Fajardo também tem opiniões sobre Wilson Eduardo, o que é sempre bom. Diz ele:

"Pouco mais posso acrescentar ao que já disse sobre Wilson. Posso apenas esperar que esteja em (mais uma) tarde inspirada e que os seus colegas saibam canalizar muitas bolas para aquele flanco esquerdo, onde cairá inevitavelmente."

Deve ser azar meu. É que ainda não presenciei nenhuma tarde inspirada do Wilson Eduardo. Apenas momentos exasperantes de burrice e toneladas de bolas perdidas. Enfim, Wilson Eduardo é aquele jogador que não tem nada de bom, além da velocidade. Corre com os braços junto ao corpo, não vê os companheiros, não tem talento e nem sequer faz muitos golos. É um caso gritante de parvoíce generalizada, continuar a achar que este rapaz tem algum futuro. Mas Pedro Fajardo não se fica por aqui e compara-o a Ricardo Nogueira:

"E para quem estava habituado a ver Ricardo Nogueira falhar golos em barda nos juniores (suportado por uma geração excepcional, entre os quais estavam o Daniel Carriço, Adrien Silva, João Gonçalves, etc.), ver o Wilson jogar era um pouco pouco como rever o tipo de avançados que se iam criando nas camadas jovens do Sporting: fortes tecnicamente (sempre superiores aos seus adversários) e extremamente perdulários. Por isso, com Wilson muitas vezes meti as mãos à cabeça e pensei "avançado que é avançado não pode falhar golos assim". Até aquele (belo) jogo em Guimarães em Junho de 2007, em que Wilson não foi somente mortífero, mas revelou também as características que poderão projectá-lo bem alto no futebol: velocidade, técnica, remate e diagonais de fazer os adversários perder a cabeça."

Mais uma vez, Pedro Fajardo demonstra que não sabe o que é futebol. Um avançado não tem que marcar golos para ser excelente. Comparar Ricardo Nogueira, que nem sequer era perdulário, a Wilson Eduardo é doentio. Dizer então que Wilson Eduardo é forte tecnicamente quando fica a milhas de Ricardo Nogueira neste aspecto é deficiência mental. Mas Wilson Eduardo convenceu Pedro Fajardo quando foi mortífero num determinado jogo. Pois... É uma qualidade do caraças, ser mortífero. Para Pedro Fajardo, o ideal de avançado é um escorpião. Afinal de contas, é mortífero...

"Prestes a cumprir os seus dois últimos jogos no escalão júnior, não sabemos ainda o que o futuro imediato reservará a Wilson Eduardo. A julgar pelas elogiosas comparações que lhe vão fazendo (entre ser parecido com o Liedson e ter características semelhantes ao Thierry Henry) seria de esperar que o mais velho dos irmãos Eduardo saltasse directamente para o plantel principal."

A comparação com Liedson pode ser válida, tirando o facto de não marcar muitos golos (o que afinal é a única razão pela qual o Liedson tem a reputação que tem), pois o estilo é semelhante. Agora, não sei é se é uma comparação elogiosa. A mim parece-me exactamente a razão pela qual Wilson Eduardo é horrível. É mau em tudo o que o Liedson é mau e é mau também naquilo em que o Liedson é bom. Corolário: não presta para nada.

6. Mais recentemente, fala Pedro Fajardo de Marco Matias, um extremo que pertence aos quadros do Sporting, saído da fornada de juniores do ano passado. Não é muito talentoso, embora seja forte no um para um, graças ao seu poder de arranque e à técnica que possui. Mas não é daqueles jogadores que consiga resolver jogos sozinho e não é, seguramente, um jogador de grande futuro a nível nacional. Ainda assim, Pedro Fajardo pensa que ele seria bom para integrar o plantel leonino esta época, mesmo não jogando o Sporting com extremos. Diz o seguinte:

"Sejamos objectivos, a principal razão para que tenha pensado em Marco Matias durante esse jogo contra o 13.º classificado da Championship da época transacta, não se prende com as qualidades deste jogador - que acompanhei durante duas épocas nos escalões de formação do Sporting. Deveu-se antes à falta de largura e jogadores que tenham capacidade para assumir o risco do 1x1 no futebol do Sporting. Marco Matias, tal como Yannick Djaló, são dois representantes de uma escola de extremos que não encontra espaço para jogar no 11 principal do clube. Mas essas são outras questões."

Pois, eu sei que questões são essas. Pedro Fajardo quer extremos à força toda, mesmo que não os haja. Pertence àquele grupo de gente que continua a achar que o Sporting produz os melhores extremos do mundo e que, por isso, devia jogar com extremos, mesmo quando não há um de jeito desde o Nani. E como quer extremos e não os há a não ser banais, acredita que a banalidade de Marco Matias pode ser útil.

"As suas características não se fazem: há poucos jogadores com a sua capacidade individual, há ainda menos com capacidade para fintar em progressão, há falta de largura no futebol do Sporting. Marco Matias não seria titular perante consagrados como Marat Izmailov, Yannick Djaló, Simon Vukcevic ou Bruno Pereirinha, caso o Sporting alinhasse num 4-3-3, mas seria uma belíssima solução para ir oferecendo minutos, porque poderia, com um golpe de asa, decidir uma partida."

Pedro Fajardo nem sequer sabe o que é capacidade individual. Marco Matias é do nível de Bruno Gama, Vieirinha, Candeias, David Caiado e outros que nunca hão-de jogar a um bom nível porque simplesmente só têm de bom o um para um, não sendo porém excepcionais nesse aspecto. E decidir um jogo num golpe de asa é para jogadores fora-de-série, não para jogadores medianos.

"Num plantel que se quer de soluções, Marco Matias seria uma óptima oportunidade para que o Sporting voltasse a colocar o seu nome na esfera dos extremos decisivos. As orientações actuais, contudo, são outras."

Cá está. Pedro Fajardo quer é que o Sporting volte a colocar o seu nome na "esfera dos extremos decisivos", mesmo quando eles não existem. E nem percebe que o problema não são as "orientações actuais". O problema é mesmo a falta de qualidade dos extremos que têm aparecido nos últimos anos.

7. Pedro Fajardo tem ainda opinião sobre Celestino, mas desta vez deixa no ar um indelével sabor a esquizofrenia. Diz o seguinte:

"E, por isso, começo com a conclusão: não vejo no Pedro Celestino as qualidades necessárias para se tornar um jogador de top nacional."

Eu também não. Até aqui tudo bem.

"parecendo paradoxal (prometo que não é), é por isso que Pedro Celestino poderia ser uma solução para o Sporting."

Então?? Que é que se passou? Parecendo paradoxal?? Não... É mesmo paradoxal, pá! Então não tem valor e poderia ser uma solução para o Sporting? Nunca se virá a tornar um jogador de topo nacional e o Sporting deve prolongar o vínculo com ele e até integrá-lo no seu plantel? Que é que se passa? Queres explicar? E ele explica:

"face aos lamentos de Paulo Bento relativamente à indisponibilidade de Marat Izmailov, diria que Celestino era mesmo a solução óbvia."

Primeiro não tinha valor; depois já podia ser solução; agora já é a "solução óbvia". É óbvio que isto não faz sentido nenhum.

"E porquê? Em primeiro lugar, haveria que partir do princípio que o treinador do Sporting admitia mudar o modelo de jogo consoante as características dos seus jogadores. Se assim fosse, Celestino poderia revelar-se uma boa solução no plantel para preencher as posições 6 e 8 num 4-3-3, quer nos jogos em que se desejasse oferecer músculo (saído do banco) à equipa, quer nos jogos em que, a perder, se pretendesse libertar mais os alas para tarefas ofensivas e aproveitar a boa qualidade de passe que possui."

Ah!! Era solução se Paulo Bento decidisse mudar o modelo de jogo. Faz todo o sentido, agora. Acho que o Sporting também devia modificar a cor dos equipamentos, só mesmo para satisfazer a vontade a Pedro Fajardo, que parece um rapaz dado a caprichos. Mas ele continua. E fala da altura em que conheceu Celestino e do que escreveu sobre ele:

"E como a internet tem destas coisas, é curioso constatar qual foi a primeira impressão que me deixou. Aqui a está: "Celestino é um médio forte, difícil de se lhe roubar a bola, mas como 10 não pode jogar pois não transporta a bola e não a vai buscar". Conforme também mencionei, "talvez possa ser interessante colocá-lo numa ala." É curioso constatar que, com apenas 90' de observação (ou sou muito teimoso ou...) mudei muito pouco de opinião sobre o ‘Celeste'."

Isto é formidável. Primeiro, Pedro Fajardo relaciona a força com a facilidade que tem para preservar a bola, como se uma coisa fosse a consequência da outra. Celestino nunca foi especialmente forte a preservar a bola, apesar de ser forte. Mas como Pedro Fajardo acha que a força faz com que se segure melhor a bola, tem estas ideias. Erradas, obviamente. De seguida, diz que como 10 não pode jogar porque não transporta a bola e não a vai buscar. Ficamos a saber que, para Pedro Fajardo, só pode jogar a 10 alguém que transporte a bola. Aimar, Lucho, Diego, Xavi, Iniesta, Fabregas, Deco, Lampard e Gerrard jamais poderão jogar a 10. Conforme também mencionou, achava que poder-se-ia colocá-lo numa ala. E, apesar de Celestino nunca ter jogado na ala e de ele próprio ponderar que ele jogue como 6 ou 8, acha que mudou pouco a sua opinião sobre Celestino. A mim parece-me que ele não sabe o que é uma opinião. Além de raramente ter opiniões acertadas. Como prémio final, ainda se refere de forma carinhosa e ligeiramente homoerótica a Celestino, usando um nome de mulher ao tratá-lo por "Celeste".

8. No mesmo texto em que se refere a Celestino, Pedro Fajardo fala da equipa de juniores do Sporting em que Celestino jogou do seguinte modo:

"Já por aqui referi quando o bichinho dos jogos da formação germinou para mim: falava-se de uma imbatível geração (1989) de juvenis e de uma de juniores (1987) que passeava pelos relvados portugueses. Nessa formação de juniores jogavam alguns que já tinham sido, inclusivamente, chamados ao plantel principal: Rui Patrício era o guarda-redes, André Marques o defesa esquerdo, Zezinando o trinco, Bruno Pereirinha 8 ou extremo, David Caiado era extremo e Tomané avançado. Todos eles, durante essa temporada, haviam sido chamados - uma vez ou outra - a sentar-se no banco de suplentes do Sporting e mesmo a actuar alguns minutos. Nessa equipa falava-se muito de dois outros jogadores: João Martins (o mano mais novo de Carlos, que por essa altura ainda jogava de leão ao peito) e de Fábio Paim. Foi assim que, cheio de curiosidade, comecei a acompanhar os jogos do Pedro Celestino."

Acho engraçado que tenha começado a acompanhar os juniores do Sporting nessa altura, que refira vários jogadores dessa geração e que não mencione o melhor deles todos, Diogo Tavares, que por acaso até foi o melhor marcador do campeonato de juniores desse ano e que foi frequentemente o melhor marcador do escalão em que jogava e que era titularíssimo da selecção. É sobretudo engraçado que mencione Tó Mané, quando este jogador não jogava para jogar Diogo Tavares. E se calhar vale a pena dizer ainda que Daniel Carriço já despontava ao lado de Paulo Renato e que André Nogueira era um lateral-direito notável, como nunca mais se viu nenhum nos juniores do Sporting. Mas Pedro Fajardo não viu essas coisas. Viu outras.

9. Pedro Fajardo revela ainda uma paixão especial por mais um jogador banal, elevando-o ao Olimpo das estrelas da formação do Sporting como se se tratasse do Hércules de Alcochete. Falo de Bruno Matias. Diz ele o seguinte:

"Sobre Bruno Matias: "A dispensa de Bruno Matias (um jogador muito superior, por exemplo, a Carlos Saleiro) também nos diz algo sobre o método e sobre a estratégia."

Pedro Fajardo acha que Bruno Matias é superior a Carlos Saleiro. A razão, imagino, prende-se com a capacidade concretizadora que ele diz que Bruno Matias tinha nos juvenis. Esquece-se é que Saleiro é mais jogador em tudo o que importa: é mais inteligente, é melhor de costas para a baliza, compreende melhor o jogo e tem atributos colectivos que Bruno Matias nunca terá. Continua ele:

"E, para qualquer sportinguista, a dispensa de Bruno Matias deve ser vista com preocupação. Porque, além de William Owuso e de Wilson Eduardo, só se vislumbram atacantes com potencial para serem de primeira linha nos Juvenis B (Altair Jr. e Betinho). Passará algum tempo até que o Sporting tenha outra geração excepcional."

Em tão poucas linhas, Pedro Fajardo consegue dizer asneiras que dão para um ano. Diz que é preocupante a dispensa de Bruno Matias, quando é um jogador claramente abaixo da média, e depois refere que sobram William Owuso e Wilson Eduardo, que também não são grande espingarda. Parece-me é que os padrões de Pedro Fajardo ficam um pouco abaixo do desejado. Finalmente, remata com a esplêndida advertência de que vai demorar para haver outra geração excepcional. E a verdade é que a geração de Bruno Matias, Marco Matias e William Owuso foi a menos excepcional dos últimos cinco anos. Não é engraçado, o Pedro Fajardo?

10. Mas Pedro Fajardo também tem opiniões sobre o Benfica. Diz ele:

"O Sport Lisboa e Benfica dispõe de um lote de jogadores de excelente qualidade, onde pontifica a qualidade técnica de Nélson Oliveira, a velocidade de Ishmael Yartey, a solidez ofensiva de David Simão, Leandro Pimenta e Lassana Camará, devidamente reforçada pela irreverência e singularidade do ex-leão Mário Rui."

Pedro Fajardo adjectiva elogiosamente alguns jogadores do Benfica. Mas colocar no mesmo prato os primeiros três com os seguintes é estúpido. Além disso, se há coisa que o David Simão tem não é solidez ofensiva. É tecnicamente bom e tem boa visão de jogo, mas falta-lhe clarividência e sobretudo muito velocidade de execução. Leandro Pimenta e Lassana Camará, então, são ofensivamente patéticos, um por falta de talento, o outro por falta de talento e por falta de tudo o que seja atributo para jogar futebol. Resta Mário Rui, que é péssimo a todos os níveis, mas que Pedro Fajardo considera possuir irreverência e singularidade. Mário Rui cerra os dentes em todas as jogadas e distribui fruta até na bola. Há quem lhe chame parvoíce. Pedro Fajardo prefere chamar-lhe singularidade. É capaz de ter razão...

E com estas dez pérolas me fico. Pedro Fajardo, esse, por certo continuará a presentear o mundo do jornalismo retrógrado com opiniões e disparates fabulosos, capazes de encher páginas e de motivar risadas e boa disposição a quem, por ter massa encefálica própria de um ser humano normal, consegue perceber coisas para além do óbvio e distinguir a qualidade da mediocridade.

15 comentários:

Batalheiro disse...

Bom dia!

Gostava de conhecer melhor os escalões de formação para melhor compreender o teu post, mas não tenho tempo para acompanhar o campeonato de juniores...de qualquer maneira, deu para me rir com a quantidade de vezes que o Pedro Fajardo consegue entrar em contradição no mesmo parágrafo!

Não posso deixar de reflectir acerca do que escreves sobre "ter uma opinião". Só comecei a acompanhar o blog entredez há cerca de um ano, antes disso era capaz de ter uma opinião sobre futebol, opinião essa que defendia até às últimas consequências. Os vossos textos fizeram-me olha para o futebol de uma perspectiva completamente nova (mais complexa e mais completa) e, hoje em dia, sou incapaz de ter certezas absolutas acerca do jogo, pois apercebi-me da minha substancial ignorância em relação ao futebol (eu era um defensor do 4x4x2 clássico for God´s sake).

E tenho alguma vergonha de, no passado, ter defendido ideias absolutamente idiotas (como o 4x4x2 clássico) sem me me ter apercebido da minha falta de preparação. Eu sou Designer de profissão, e sei bem o que é trabalhar num meio (artes, design...) onde toda a gente pensa que pode ter uma opinião.

PS: Ontem o Barcelona, a jogar com 10 juniores mais o Touré ridicularizou o Tottenham a jogar com a equipa titular...porque é que a imprensa desportiva não está a fervilhar de artigos sobre este Revolucionário Barcelona? Será que ninguém o percebe? Será que ninguém se importa?

TAG disse...

Pensava que os designers não ligavam á bola, pensava que era o único.

Como foi tido, também tenho pena de não acompanhar os escalões jovens portugueses, mas se calhar até é bom, porque acho que me dava uma coisinha má a ver jogadores com grande futuro a serem "queimados" como normalmente acontece, e os mais "podres" a passarem para as equipas principais.

Sou do Benfica, mas admiro o Sporting na sua formação e principalmente em apostar nos jogadores das camadas jovens, merda por merda ao menos que seja um jogador das camadas jovens, do que um estrangeiro qualquer sem qualidade nenhuma

Nuno disse...

Batalheiro diz: "Não posso deixar de reflectir acerca do que escreves sobre "ter uma opinião". Só comecei a acompanhar o blog entredez há cerca de um ano, antes disso era capaz de ter uma opinião sobre futebol, opinião essa que defendia até às últimas consequências. Os vossos textos fizeram-me olha para o futebol de uma perspectiva completamente nova (mais complexa e mais completa) e, hoje em dia, sou incapaz de ter certezas absolutas acerca do jogo, pois apercebi-me da minha substancial ignorância em relação ao futebol (eu era um defensor do 4x4x2 clássico for God´s sake)."

Batalheiro, ninguém nasce ensinado e dificilmente alguém com mero conhecimento empírico das coisas pode ter boas opiniões sobre as coisas. Daí que, como para qualquer coisa, saber falar de futebol tem a ver com aprender coisas.

O Entredez nasceu há dois anos e qualquer coisa, num momento em que achámos que a nossa consciência futebolística era suficientemente competente para poder expressar opiniões interessantes. Mas somos os primeiros a reconhecer que há 5 anos, se não menos, percebíamos tanto de futebol como qualquer outra pessoa. Talvez tivéssemos intuições um pouco diferentes, de certeza por causa do nosso percurso enquanto jogadores, mas não sabíamos fundamentá-las e muito menos ter certezas sobre coisas. Limitávamo-nos a falar dos nossos gostos, daquilo que achávamos que era bom, sem qualquer teoria ou argumento que pudesse sustentar essa opinião. Tivémos então a sorte, o Gonçalo e eu, de jogar juntos. Ao jogarmos juntos, lado a lado no meio-campo, percebemos que as potencialidades de uma equipa em termos ofensivos, apoiando-se na relação entre os jogadores e não na capacidade individual de cada um deles, eram astronomicamente maiores. Percebemos que jogar juntos não era só somar qualidade individual, eram aumentá-la exponencialmente. As nossas primeiras lutas consistiram, portanto, em defender que uma equipa ganhava muito mais em jogar apenas com um trinco e dois médios ofensivos criativos do que o contrário. A partir daí, a nossa reflexão sobre o jogo aguçou-se; lemos coisas, tentamos olhar para o jogo a partir de outras perspectivas e renunciámos ao saber da tradição, pois percebemos que estava francamente atrasado no tempo e que não correspondia às exigências modernas do jogo. Toda esta incursão histórica serve para dizer que as pessoas não nascem ensinadas e que nós, que defendemos com tanta veemência as nossas ideias, não as tínhamos há 5 anos. Em determinada altura, portanto, eu próprio não achava que o 442 clássico fosse mau. Só com a reflexão, com o começar a perceber coisas, com o ter lido outras, com a análise fundada na reflexão sempre em desenvolvimento, chegámos a essa conclusão.

É aqui que entra a questão das opiniões. Eu não percebo nada de carros. E não percebo nada de carros por ser burro em relação a esse assunto. Não percebo porque nunca me detive muito tempo sobre o assunto, porque não reflecti, porque não li, porque não gosto. E não tenho opinião sobre carros. Posso achar bonito o modelo ou dizer que anda bem, mas não tenho competência para muito mais. Por isso, abstenho-me de tecer opiniões sobre carros. O futebol é das coisas que as pessoas pensam que podem falar. Pensa-se que, por ser um assunto que chega a todos, é possível de ser falado por todos. Eu não concordo. Acho que, qualquer pessoa com o mínimo de orgulho, só deveria falar de futebol se soubesse alguma coisa de futebol para além do óbvio que nos é dado pela percepção empírica do fenómeno.

Nuno disse...

Quanto ao Barcelona, não vi, mas o Gonçalo disse que eles deram um banho monumental. Não me surpreende. Quando vejo o Barcelona de Guardiola a jogar, arrepio-me. Nele espelham-se todas ou quase todas as conclusões a que este espaço foi chegando. E não haverá, provavelmente, sensação melhor do que o reconhecimento das nossas convicções. Quanto à Imprensa, não tenho dúvidas nenhumas que não o percebe. Este texto é precisamente sobre um espaço que não sabe falar do que pensa que está a falar, de um espaço que fala de futebol sem perceber de futebol, de um espaço que, em termos de conteúdos, acho bastante interessante, pois divulga como nenhum outro os escalões de formação, mas no qual escrevem pessoas incompetentes, que se deveriam limitar a relatar factos e a não ter opiniões.

Fernando disse...

Nuno,

Antes de mais, peço desculpa por estar a comentar na caixa de comentários de um tópico, o qual só li "na diagonal". Não vou comentar muito o tópico em si pois não tenho disponibilidade de acompanhar os escalões de formação. Só dizer que a competência dos treinadores desses escalões parecem-me deixar muito a desejar. No "meu" clube, Vitória de Guimarães, é recorrente a contratação de jogadores só tendo em conta o seu tamanho. O que resulta numas camadas jovens que raramente trazem mais-valias para a equipa principal.

Discordo completamente de não se poder ter uma opinião relativamente a um assunto que não seja dominado na totalidade. Existe sempre opinião sobre tudo, desde que não se assuma essa mesma opinião como uma verdade universal e, de acordo com a validade dos argumentos em contrário, se esteja disposto a mudar. É, aliás, desta forma que através da discussão de opiniões mais se aprende sobre determinado assunto e a razão pela qual o Entredez, por exemplo, tem caixa de comentários.

E já agora uma opinião. Agrada-me muito mais ler textos como o anterior acerca do conceito de técnica que estas críticas pouco produtivas (para mim) sobre assuntos desprendidos. Continuo sem saber quem é o Josué Pesqueira e todos os outros júniores que mencionaste. E teria o maior prazer em conhecer mais sobre os escalões jovens nomeadamente quem são os melhores jogadores a nível nacional.

Cumprimentos e obviamente parabéns pelo blogue que realmente é diferente.

NC disse...

http://staffdesportivo.blogs.sapo.pt/

J-B52 disse...

Nuno :

Qualquer coisa nao bate certo... O futuro dira se o tal Pedro Fajardo,em tanto jogador mencionado, tenha tanta vez errado.

Alias discordo ja com a tua opiniao negativa sobre um jogador como o Vieirinha, mais uma vez o futuro o dira.

Segundo : "Ficamos a saber que, para Pedro Fajardo, só pode jogar a 10 alguém que transporte a bola. Aimar, Lucho, Diego, Xavi, Iniesta, Fabregas, Deco, Lampard e Gerrard jamais poderão jogar a 10."

Bem desde quando o Lampard, o Xavi, o Iniesta, e ainda mais o Gerrard sao/jogam como nº10?
Para mim enumerar Aimar e Gerrard juntos nao faz sentido nenhum, visto que este ultimo e exatamente um transportador de bola : o chamado ''box to box''.

Enfin o futebol nao e uma ciencia exata portanto nao estou a perceber como se pode ter afirmaçoes tao dogmaticas sobre jogadores de 16/17 anos.

Abraço.

Nuno disse...

J-B52, quando é que será o futuro do Vieirinha? É que ele já tem 23 anos? Vai para o 5º ano de sénior. E ainda não explodiu. Não será que o futuro do Vieirinha já chegou? Parece-me que sim. E não é risonho.

"desde quando o Lampard, o Xavi, o Iniesta, e ainda mais o Gerrard sao/jogam como nº10?"

Bem, o Lampard já jogou várias vezes a 10, num losango. Mas não é por isso. Um 10, para mim, é um médio-ofensivo. Num 433, há 2 10. Aliás, quando o Pedro Fajardo refere a posição 10 está a referir-se, precisamente, ao 433 em que jogava essa equipa de juniores do Sporting, com Celestino e João Martins/Pereirinha a jogarem como médios-ofensivos. O Lampard, o Gerrard, o Xavi e o Iniesta são médios de características ofensivas, ou seja, são 10.

"Para mim enumerar Aimar e Gerrard juntos nao faz sentido nenhum, visto que este ultimo e exatamente um transportador de bola : o chamado ''box to box''."

Há aqui três coisas esquisitas. Primeiro, achar que um box to box é um transportador de bola é algo absurdo. Segundo, achar que o Gerrard é um transportador de bola, francamente, é absurdo. Terceiro, não poder agrupar o Aimar com o Gerrard quando são dois jogadores que podem jogar na mesma posição do terreno, embora tenham características diferentes, é absurdo.

"o futebol nao e uma ciencia exata portanto nao estou a perceber como se pode ter afirmaçoes tao dogmaticas sobre jogadores de 16/17 anos."

Posso ter afirmações tão dogmáticas sobre alguns jogadores, porque é evidente que esses jogadores não se vão modificar significativamente. É simples. É tão fácil como dizer que a minha avó nunca vai ser boa a fazer sopa. Com 16/17 anos, o jogador está praticamente formado. Tendo em conta que dou especial relevo às características que mais influenciarão o jogador na sua integração sénior, a margem de erro é mínima. Como dizes, e bem, o futuro cá estará para carimbar as minhas afirmações.

J-B52 disse...

1) O caso Vieirinha:
O Vieirinha nos tempos do FCP, nos poucos jogos que fez, sempre se mostrou a um bom nível. Teve muito poucas oportunidades como grande parte dos jovens do porto, e seguiu o rumo ‘‘natural’’ do empréstimo: não convenceu no Leixoes.
Acabou por ser primeiro emprestado ao PAOK de F Santos onde se exibiu a um bom/mto bom nível antes de se lesionar prematuramente na época com gravidade: convenceu e foi transferido.

Eu percebo o seu desalento / desencanto quando evoca jogadores como o H Barbosa ou outros que mesmo sendo bons a jogarem a bola na praia com os amigos não conseguem explodir e transformarem se em jogadores um mínimo produtivos, e perdem se num eterno ''pisa a bola, vira se p’ra traz, repisa a bola…'': o jogador típico que eu desgosto.
Mas na minha opinião o Vieirinha sempre foi, mesmo verde, o contrario, um jogador produtivo: excelentes cruzamentos, boa visão de jogo, remate forte e colocado e sempre com essa vontade de ir p’ra frente, de empurrar o adversário as cordas.

Quando diz que não explodiu, tem razão, veremos. Uma coisa e certa se tiver ambição, coragem e força mental explodira, se não tiver, ficara pelo caminho, mas num lote de bons jogadores que nunca realmente explodiram como o Simão.


2) O caso dos ''10'':
Então se o ''box to box'' inglês não e um transportador de bola, um verdadeiro camião TIR que carrega o jogo da equipa de uma baliza a outra dinamizando-o e organizando-o com garra e ambição, caso do Gerrard ou numa certa medida o Lampard, de facto, bem, não percebo então patavina!

A definição do 10 cruza se na palavra ''organizador de jogo''. E depois? O papel do 10 praticamente esgota se ai: um jogador cerebral que organiza, cria, constrói mas nunca terá uma lógica de jogo como Gerrard, Scholes ou ate Xavi que são os ''operarios'' de uma equipa.
O 10 puro e duro e o Zidane, e o ''maestro''.

No tal 433 ofensivo, utilizado pelo Barça ou ainda pelo FCP, procura se um equilíbrio entre a defesa e o ataque. Não há coabitação de dois 10, isso não existe, o triangulo sendo constituído por uma ponta defensiva, um 6 tipo Toure ou o excelente Fernando, e uma base ofensiva servindo de rampa de lançamento, um 8 como o Xavi ou o Meireles e um jogador a efectuar uma posição entre o 8 e o 10 como o fabuloso Iniesta ou o Lucho.
No máximo pode haver dois 8 mas nunca dois 10: não estou a ver uma equipa jogando em 433 com Zidane e R Costa ou ainda este ultimo e Aimar juntos no meio campo jogando os dois a 10.

Agora tenho de saudar o blog e obviamente o Nuno pelo seu trabalho e pelo facto de estar disponível para responder as duvidas/criticas dos seus leitores : obrigado.

Abraço.

Nuno disse...

J-B52, eu não falei no Hélder Barbosa precisamente porque acho o Hélder Barbosa muito mais talentoso que os outros que mencionei: Vieirinha, Candeias, Bruno Gama, David Caiado, mas também Ivanildo, Diogo Valente ou Varela. Não estou a dizer que o Vieirinha não explode porque não faz coisas produtivas. Estou a dizer que não explode porque não tem qualidade para isso. O caso do Hélder Barbosa, no entanto, é diferente. Para mim, não explode porque não apostam nele. Tal como o Coentrão, que esta época, se tiver oportunidades, poderá explodir.

Agora, dizer que o Simão nunca explodiu já me parece francamente exagerado. Tomara ao Vieirinha chegar ao nível do Simão.

Quanto aos 10, a sua perplexidade prende-se com o facto de ver o futebol como um jogo de funções, em que um 10 tem a função de organizar jogo, um 6 tem a função de destruir, um ala tem a função de ir à linha cruzar. Aqui no Entre Dez, é provavelmente o mais importante conceito que temos, é que os jogadores não têm funções. Há vários textos sobre esta ideia. Assim, aquilo que se designa por box-to-box, para mim, não faz muito sentido numa equipa de futebol. Agora, percebo o conceito e sei que se associa a jogadores capazes de ocupar um espaço de terreno muito grande. São, portanto, jogadores com uma disponibilidade física muito grande. Isso não faz, porém, com que sejam jogadores que corram com bola. O Gattuso entra nesse conceito e não é um jogador que dê mais do que 2 toques na bola, não é um transportador de bola. Dizer que Gerrar, Scholes e Xavi são operários não faz sentido. Eles são o cérebro das equipas onde jogam. O Xavi, então, é pouquíssimo agressivo e não pode, de maneira nenhuma ser incluído no conceito de box-to-box. O Gerrard, apesar de ter disponibilidade física para tal e poder jogar no meio-campo num 442 clássico, não vale exclusivamente por isso e as características mais importantes que possui são precisamente as de médio-ofensivo, capaz de organizar jogo, de aparecer em zonas de finalização, etc.

Concordo que o 10 puro é o Zidane. Ou o Riquelme, se quisermos dar outro exemplo. Mas há 10 que não são puros, que tanto podem jogar a 10 como jogar um pouco mais atrás e que ainda assim valem pelas suas características ofensivas, como Iniesta, Xavi, Deco, Aimar, Diego, etc.

Por fim, há uma coisa que não concordo quando se fala em 433 que é dizer que o triângulo do meio-campo é constituído por um 6, um 8 e um 10. Isso é falso. É um 6 e dois 10. Ou um 6 e dois 8, como se lhes quiser chamar. Os dois médios-ofensivos têm um posicionamento idêntico, logo não são mais defensivos ou menos defensivos. Aliás, é absurdo pensar que o Iniesta é mais ofensivo que o Xavi, da mesma maneira que é absurdo pensar o contrário. São dois jogadores que pisam terrenos idênticos, com a diferença que um os pisa mais à direita e outros mais à esquerda. E o que pode mudar não são as funções que eles têm, estando um mais incumbido que outro de defender (embora haja milhares de treinadores que pensem assim). O que muda são as suas características e com isso a forma de abordarem o jogo. O Meireles não é mais defensivo que o Lucho. Mas como é mais agressivo e menos criativo parece.

Eu percebo por que é que não consegue ver o Rui Costa ao lado do Aimar num meio-campo. Chama-se preconceito. No bom sentido. Preconceito porque se convencionou que não pode haver dois jogadores de características ofensivas num meio-campo de 3. Isso é errado. Pode. Não só pode como deve. A equipa jogaria muito mais à bola, certamente, do que com dois jogadores de características defensivas e só um 10. Isso é certo.

De resto, obrigado pelos elogios. Saúdo também a sua participação.

Batalheiro disse...

Rui Costa e Aimar juntos no meio campo numa equipa organizada em 4-3-3? Isso não é possivel porque iria criar uma superioridade tal sobre o adversário que a FIFA iria criar uma adenda às regras só para os impedir de jogar juntos.

Em relação à sopa da Avó do Nuno sou forçado a discordar, tanto ao nível das sopas à base de batata como as mais águadas, todas as sopas são de uma qualidade a toda a prova.

Muitos treinadores (a maioria?) tem uma filosofia "tayloriana" em relação às equipas de futebol, uma espécie de especialização precoce (porque começa nas camadas mais jovens) e castrante (tanto para o desenvolvimento do jogador individualmente como da própria ideia de joga da equipa).

Ou seja, para a maioria dos treinadores, existem os que defendem, os que atacam, os que transportam, os que rematam, os que batem etc...

Treinadores como Guardiola optam por uma abordagem mais universal da função do jogador dentro do sistema de uma equipa. Todas são responsáveis por recuperar a bola e todos são responsáveis por criar o jogo dentro da filosofia da equipa.

E isso é bonito.

J-B52 disse...

Para rectificar: não queria falar no H Barbosa especificamente, mas mais na B Gama & Co.

Agora se calhar exprimi-me mal. Vamos lá ver…

Eu fiz uma tentativa de definir os números: um 10 e um 10, e um 6 e um 6! Agora não quer dizer que todos os jogadores tenham de ser colocados em caixinhas numeradas de 1 a 11. Alias não e correcto porque a maioria não se enquadra nesse sistema.
Há, por ventura, casos de jogadores que cabem perfeitamente nessas caixinhas (10 para o Zidane e o 8 para o Gerrard) como pessoas cujas medidas são exactamente as medidas únicas das gdes marcas de roupa: se uso M não vou andar com roupa tamanho S ou L!

Quando digo "box to box" aplica-se ao Gerrard (nunca disse que o Xavi era um, que disparate!). O Gerrard simplesmente faz tudo e bem. Por isso e que ele pode se enquadrar na lógica do tal 8: faz de 10 e de 6 tudo ao mesmo tempo sem estar preso a uma única função.
Pode jogar a 10 clássico (ex no losango do Bento)? Pode claro mas a equipa fica perder na recuperação. E a 6? Tb, mas fica perder-se a perder na organização ofensiva. Que jogue finalmente livre de restrições, em acordo com as suas características: a centro campista na base mais adiantada dum 433? Perfeito.

Vejo o futebol um jogo de funções, sim, não de maneira dogmática mas "natural".
Explico-me. Como disse o Meireles é mais agressivo e menos criativo (hum hum…) que o Lucho. Então o Meireles vai empenhar-se "naturalmente", com mais frequência e facilidades, nas funções mais adequadas com as suas características (vice versa com o Lucho): a força da equipa esta nessa química.

O que no fundo equivale ao que o Nuno disse: "O que muda são as suas características e com isso a forma de abordarem o jogo". Ora aí esta a chave do raciocínio. Assim e absurdo dizer que o Xavi e o Iniesta são 10: eles são jogadores de futebol que não entram nessa lógica!
O Iniesta pelas suas características nunca abordara o jogo da mesma maneira que o Xavi mesmo jogando, como e o caso, na mesma posição: um do lado esquerdo e o outro do lado direito.
“Eu percebo por que é que não consegue ver o Rui Costa ao lado do Aimar num meio campo. Chama-se preconceito. No bom sentido. Preconceito porque se convencionou que não pode haver dois jogadores de características ofensivas num meio campo de 3.”
Bem não e que não pode haver 2 jogadores de características ofensivas num meio campo de 3 (tb não disse isso credo!), aliás sou apologista desse sistema, mas a verdade e que não pode haver 2 Mo idênticos ou mais que extremamente parecidos como Rui Costa & Aimar sem ter de prejudicar um em relação ao outro, o que seria negativo para o equilíbrio global da equipa.
Agora haver 2 Mo diferentes como Xavi & Iniesta, ou R Meireles & Lucho, sim senhor temos sopa e da boa!

O que acha? Chegamos a açodo?
Abraço.

PS: Batalha, com Gardiola todos ataquem sim, agora todos defendem… O que me desagrada neste Barça e que se tornou ultra-dependente de um jogador. Não o Messi (a diferença entre ele e o CR e que este ultimo carregava a equipa as costas) mas sim o Iniesta.
Quando este ultimo esteve lesionado, tornou se numa equipa banalíssima ao alcance de qualquer outra de tal modo de quando foram a Gerland, casa do modesto Lyon, viram se aflitos. E ainda levaram de lá um empate a uma bola com mta sorte.

Batalheiro disse...

J-B52

Nunca me tinham chamado "Batalha" mas não faz mal eheheh

Quantos jogos é que viu do Barcelona? É que se existe uma equipa que não depende de nenhum jogador é o Barcelona! Nem do Messi, nem do Iniesta nem de ninguem!

A força do Barcelona é o colectivo, é o jogo de equipa. Não gosto de dar exemplos de jogos porque é redutor mas eu tive a felicidade de assistir ao Barcelona 3 - Maiorca 1 ao vivo e nem jogou Dani Alves, nem Messi e o Iniesta fez os primeiros 15 minutos depois de estar ausente várias semanas por lesão, e posso dizer-lhe que o dominio do Barça foi esmagador.

Pela própria filosofia de jogo da equipa, o Barcelona proporciona um aproveitamento quase total das melhores qualidades dos seus jogadores (inteligência, visão de jogo, criatividade e técnica).

Assim um jogador como Iniesta encontra ali um habitat perfeito para desenvolver as suas caracteristicas individuais...o que pode induzir em erro o observador menos atento, pois existe uma dialética entre filosofia de jogo que potencia o desenvolvimento do talento natural dos jogadores individualmente e o talento dos jogadores individualmente potencia o desenvolvimento da filosofia de jogo da equipa.

Nuno disse...

J-B52, não concordo com isso de os médios terem de ser de características diferentes e muito menos que o Xavi e o Iniesta são diferentes. O Iniesta terá, certamente, mais facilidade no drible, porque tem um poder de arranque forte que o Xavi não tem, mas na sua essência são jogadores muito parecidos, quase iguais mesmo. Naquilo que interessa, isto é, na maneira de pensar, Iniesta e Xavi são gémeos. E isso é uma das grandes forças do Barcelona.

Agora, o que me parece completamente sem sentido é dizer que o Barcelona está dependente do Iniesta. Isso é um disparate. Como disse e bem o Batalheiro, se há equipa que não depende de ninguém é o Barça, porque colectivamente não há sequer equipa parecida com o Barça. Aliás, não é preciso ir mais longe. Com jogadores da equipa B e o Keita, o Bojan e o Pedro, ridicularizaram recentemente o Tottenham. Não é qualquer equipa que consegue fazer isso.

João Antunes disse...

Muito divertido! ahahaaha Genial presidente, genial ahahahah