domingo, 27 de abril de 2008

Compreender Futebol, em vez de o jogar...

Luís Freitas Lobo, numa passagem do seu livro, Planeta Futebol, cita Menotti acerca da perspectiva que este detém sobre os jogadores que prefere, ou que mais admira. Através desta frase – dando a entender a predilecção por Makélélé, em detrimento de Ronaldo, o “Gordo” – Menotti é claro nas suas preferências: a opção por um jogador que lhe permite defender um modelo de jogo e as idiossincrasias do mesmo, em detrimento de jogadores que, apesar de potenciarem uma maior individualidade, comprometem o indivíduo abstracto, o chamado colectivo, é clara. E, para isto acontecer, um jogador tem de compreender o que é o “jogar bem” futebol, enquanto desporto colectivo, e não como um espectáculo de circo.

O futebol, como desporto colectivo que é, deve assentar as suas bases na organização e coordenação entre os seus elementos. Não se trata apenas de um desporto, em que são as capacidades atléticas que definem as reais possibilidades de uma equipa se tornar vencedora; trata-se um jogo e, como tal, a componente cognitiva assume uma relevância determinante.
Por isso, mais do que ser brilhantes na execução, devemos ser bons na interpretação do jogo.


No entanto, a maior parte dos jogadores idolatrados são, na sua essência, jogadores que se destacam pelos seus desempenhos individuais, em detrimento dos que através da sua acção são, quando utilizados, de grande valia para o colectivo. Poderíamos pegar em vários casos: no Sporting, Liedson e Custódio; no Benfica, Petit e Nuno Gomes; no Porto, Assunção, e Quaresma. Todavia, este último exemplo difere dos dois primeiros em alguns aspectos. No que toca ao Assunção, a sua actuação tem sido exaltada por colegas, o que lhe veio conferir, de alguma forma, justiça às suas actuações. Se juntarmos a este facto a sua excessiva agressividade, de tão agrado do adepto, facilmente se vislumbra o porquê do seu reconhecimento junto das massas. Quanto a Quaresma, a situação é diferente. É um jogador alheado do colectivo, que vive para a satisfação dos seus caprichos; no entanto, a suas qualidades tornam legítimas as suas acções. Não é determinante para a “saúde” do colectivo, mas o facto de conseguir muitos desequilíbrios, através das suas acções individuais, acaba por beneficiar o colectivo. Alguns poderão alegar que este facto resulta da posição que Quaresma ocupa, e que esta obriga a um maior número de acções exclusivamente individuais. Para isso peço que tenham em consideração uma comparação entre Quaresma e Nani. Se ignorarmos os aspectos intelectuais, poderemos dizer que o extremo portista e o jogador do Manchester são em tudo muito semelhantes. Fortes no 1x1, rápidos, tecnicistas, e criativos. A diferença reside, acima de tudo, na forma como interpretam a sua integração no colectivo. Apesar de alguma “queda” para o individualismo, as acções de Nani compreendem, na maioria das vezes, as necessidades do colectivo, ao invés de Quaresma, que apenas o faz ocasionalmente e de forma desconexa.

Destes casos, a maior evidência vai, sem dúvida, para o caso dos leões, Custódio e Liedson (a minha ideia inicial seria de pegar em Farnerud, na vez de Custódio, mas como este assunto já tem sido tão debatido, achei por bem escolher um outro exemplo). Facilmente um jogador como Liedson agrada às massas: um jogador que vale exclusivamente de acções individuais, viradas para beneficio próprio, sobressaindo destes gestos, sobretudo, as qualidades físicas do mesmo. A diferença deste para um jogador como Quaresma, ou Ronaldo, – falo do “Gordo” – é que Liedson, apesar de optar demasiado pelas iniciativas individuais, oferece muito pouco à sua equipa com essas movimentações. Se não é raro observar os dois primeiros “resolverem” jogos com as suas acções individuais, não é fácil encontrar uma mão cheia de acções individuais do “levezinho” que tenham resultado num benefício real para a sua equipa. A grande valia do avançado sportinguista esgota-se no seu faro pelo golo (muitos não hesitariam em assinalar a sua disponibilidade em lutar pelo esférico, mas a verdade é que o facto de realizar estas acções de forma isolada da movimentação colectiva redunda numa inconsequência de esforços, maior parte das vezes), e esta virtude beneficia principalmente da movimentação colectiva, a mesma que Liedson, não poucas vezes compromete.

Por outro lado, um jogador que se distinga pela forma como defende o colectivo, distinguindo-se através de factores intelectuais, em detrimento do individual, dificilmente será reconhecido pelo adepto comum. Por mais irónico que pareça, Custódio, ao sacrificar a sua importância individual, em favor do colectivo, contribuía decisivamente para a sua parca popularidade entre os adeptos leoninos. E isto acontece por duas razões:

1 - A necessidade das pessoas se reverem no indivíduo e não no colectivo, pois este, sendo um elemento abstracto, é incomparavelmente mais complicado de compreender e quantificar.

2 - A mesma necessidade de quantificar as qualidades de cada jogador vai impor que se dê destaque àquelas que mais facilmente se vislumbram: os índices físicos. Este facto tem uma importância maior, na medida em que esta visão é partilhada por maior parte dos treinadores de futebol. Isto vai levar a que a selecção dos jogadores seja feita de uma forma semelhante à que fazemos no jogo PES, ignorando que não vale de nada a superioridade físico\técnica dos jogadores se não a conseguirem utilizar de forma a beneficiar o colectivo.

Assim, acredito que jogadores que se distingam pela forma como definem as suas actuações em prol do colectivo, em detrimento da evidência individual, continuarão a ser injustiçados pelo público. Já os que roubarem do colectivo para se evidenciaram, continuarão a ser os eleitos pelo povo, mesmo que no fim de contas a equipa não lucre, em nada, com esta situação...

24 comentários:

Anónimo disse...

Gonçalo, percebo onde queres chegar mas não concordo. Há casos em que sim há casos em que não. Basta ver que dos 3 exemplos que dás apenas o pobre custódio não tem o carinho dos adeptos. O paulo e principalmente o petit estão bem em cima nas cotações dos adeptos.

E se olhares para os grandes clubes lá para fora até vais reparar que muitos desses jogadores que actuam nessas posições de "maior sacrifício individual" são dos mais idolatrados pelos adeptos. são tantos, Diarra touré iniesta xavi pirlo ambrosini gattuso vieira cambiasso zannetti de rossi perrotta xabi alonso essien carrick
mascherano etc etc
já para não falar em grandes jogadores eternizados nessas posições como guardiola, redondo ou o ainda "vivo" emerson.

É verdade que os outros são normlamente os ídolos principais da aficcion mas isso não quer dizer que os "colectivos" sejam patinhos feios como o custódio.

E só para que conste não sou apologista da vossa defesa a esses 2 coitados do custódio e do farnerud. Se os treinadores deles não acreditam neles porque é que os adeptos o têm que fazer?

cumprimentos

Gonçalo disse...

Pedro, não percebeste nada.
Este texto é sobre a importância dos factores cognitivos num jogador de futebol.
O objectivo é provar que mais importante que saber excutar, e ser forte nos aspectos físicos, é saber interpretar e compreender o jogo em si.
Não se trata de alertar para importância dos jogadores que ocupam a posição de médio-defensivo.

"Basta ver que dos 3 exemplos que dás apenas o pobre custódio não tem o carinho dos adeptos. O paulo e principalmente o petit estão bem em cima nas cotações dos adeptos."
Em relação ao Paulo eu explico o porquê da sua situação ser diferente; quanto ao Petit, o facto de não te aperceberes que nesse caso o jogador injustiçado é o Nuno Gomes, mostra cm tu não percebeste o conteúdo do texto.

" se olhares para os grandes clubes lá para fora até vais reparar que muitos desses jogadores que actuam nessas posições de "maior sacrifício individual" são dos mais idolatrados pelos adeptos. são tantos, Diarra touré iniesta xavi pirlo ambrosini gattuso vieira cambiasso zannetti de rossi perrotta xabi alonso essien carrick
mascherano "

Lá está. Não se trata de posições que se tenham de sacrificar em prol do colectivo, pois todos os jogadores devem privilegiar o colectivo em detrimento do individual. E os que não fazem tem de obrigatoriamente fazer a diferença, nas suas acções individuais. Mais, esse jogadores que enumeras, são muitos deles, mas nem todos, jogadores que são fortes nos aspectos colectivos, mas não é por isso que a gd generalidade dos adeptos e treinadores os apreciam tanto. É pelas suas características técnico/físicas. Pirlo pela sua sublime qualidade técnica, Gattuso pela sua entrega, etc.

Nota uma coisa: um jogador só porque usa um drible, não faz com que ele, por tomar esta opção, esteja a procurar o benefício individual em detrimento do colectivo. Nada disso. É , todavia, importante que a sua acção individual seja orientada em funçao do colectivo e da dinãmica do mesmo.

"já para não falar em grandes jogadores eternizados nessas posições como guardiola, redondo ou o ainda "vivo" emerson."
A sério ? O Emerson? A sério? No mesmo lote dos outros dois? fdx...


"E só para que conste não sou apologista da vossa defesa a esses 2 coitados do custódio e do farnerud. Se os treinadores deles não acreditam neles porque é que os adeptos o têm que fazer?"

Os adeptos não tem de fazer mais do que a capacidade deles lhes permite. Assim como eu, no texto, expliquei que gd parte dos treinadores não sabem avaliar os jogadores da forma mais correcta.

Em relação ao Farnerud, verdade que ele cá não tem sido utilizado, mas queres que eu te recorde de jogadores que dp de sair da liga portuguesa, dr forma discreta, lá foram dão cartas?

Qt ao Custódio, foi sempre utilizado com regularidade.
E qd se lesionou, este facto reflectiu-se, sempre, de forma negativa na equipa leonina.

Um abraço.

Mister Fred disse...

"E se olhares para os grandes clubes lá para fora até vais reparar que muitos desses jogadores que actuam nessas posições de "maior sacrifício individual" são dos mais idolatrados pelos adeptos. são tantos, Diarra touré iniesta xavi pirlo ambrosini gattuso vieira cambiasso zannetti de rossi perrotta xabi alonso essien carrick
mascherano etc etc
já para não falar em grandes jogadores eternizados nessas posições como guardiola, redondo ou o ainda "vivo" emerson. "
-> Misturar Xabi Alonso, Xavi ou Pirlo, no mesmo "pote" de Gattuso, Diarra ou Yaya Touré, é no mínimo patético. Porque apesar de jogarem em posições idênticos, são jogadores que em termos técnicos, nada tem a ver. Logo estamos, perantes dois tipos de médio-defensivo, o que quebra desde logo a coerência e lógica da análise. Segundo, o editor do Blog, quer realmente é falar das capacidades cognitivas em função do colectivo, de cada jogador, e não da posição no campo, porque fala por exemplo, como jogador discriminado "nuno gomes" , que nem é medio-defensivo nenhum. Mas quanto a esse caso, não concordo, neste momento, pois apesar de reconhecer que o Nuno é fortíssimo, em tabelas, desmarcações, etc etc... é neste momento um elemento menos, no débil e desorganizado colectivo do Benfica, que não potencia as capacidades de quase nenhum jogador, diga-se. Sei também, de fonte segura, que Nuno Gomes, está longe de ser um profissional exemplar, extra quatro-linhas.
Mas voltando ao assunto, concordo com por exemplo Custódio, e desde o princípio da época, que tenho afirmado inúmeras vezes em discussões futebolísticas, que quando me apercebi da sua saída, vi logo o que se estava a perder. É que apesar da maioria das pessoas, achar que foi uma perda norma, dum jogador banal, criou-se um vazio no plantel do Sporting: a existência de um jogador do género de Custódio, que embora não faça os passes longos de Veloso ,nem nada disso,joga pelo colectivo, sempre bem posicionado, fechando bem espaços e jogando simples, e mesmo que não fosse titular, é um jogador importante para se ter no mínimo no banco. E Adrien ou muito menos o inoperante Paredes (que já saiu de vez e ainda bem), não são nem de perto nem de longe esse tipo de jogador.
Paulo Assunção, já é de facto mais reconhecido, mas penso que só por alguns adeptos já com algum conhecimento, porque julho que o adepto mais básico, o que só vê os golos no final do fim de semana, ou vem a sala espreitar a televisão quando houve alguêm a gritar, prefere os dribles e trivelas de Quaresma. Eu prefiro os 2, porque um complementa o outro, Assunção "tapa os buracos", que Quaresma cria quando perde a bola em locais inoportunos, Quaresma dá a dose de creatividade à equipa, que Paulo não fornece. Uma espécie de "ecossistema" portanto.
Enfim, resumindo, cada um percebe o que percebe, e entendo perfeitamente que um qualquer puto de 5 ou 10 anos, prefira ser o Quaresma ou o Liedson, quando "for grande", do que o Paulo Assunção ou o Custódio. Ou que uma idosa, se exalte com as jogadas dos "meninos" Ronaldo (melhor colectivamente que o segundo) ou Quaresma, e que nem repare que há um "infeliz" chamado Assunção, Pereirinha ou Custódio em campo.
Quanto a Liedson, não concordo 100%, mas também não irei estar aqui a discutir, porque já vi que a vossa posição é muito firme nesse aspecto, e não vale a pena.
Cumprimentos, continuem o bom trabalho (concorde-se ou não)

Gonçalo disse...

"que o Nuno é fortíssimo, em tabelas, desmarcações, etc etc... é neste momento um elemento menos, no débil e desorganizado colectivo do Benfica, que não potencia as capacidades de quase nenhum jogador, ", Mais ainda se este jogador privilegiar o colectivo, pois se este não passa da inspiracção aleatória de cada jogador, como é que um jogador como o Nuno, que procura acima de tudo, servir os interesses da equipa, pode demonstrar o seu valor?

E"u prefiro os 2, porque um complementa o outro, Assunção "tapa os buracos", que Quaresma cria quando perde a bola em locais inoportunos, Quaresma dá a dose de creatividade à equipa, que Paulo não fornece. Uma espécie de "ecossistema" portanto"

É a tua opinião, eu, no entanto não concebo no futebol uns para equilibrar e outros para desiquilibrar. Mas percebo o que queres dizer apesar de não concordar.

"Quanto a Liedson, não concordo 100%, mas também não irei estar aqui a discutir, porque já vi que a vossa posição é muito firme nesse aspecto, e não vale a pena"

Mister, não é um capricho da nossa parte. Vou.te dar um exemplo, o Liedson, no jogo de ontem até aos 40 minutos da primeira parte foi igual a si própio em tantos jogos.
egoísta, incorrecto na avaliação das suas opções, etc.
Mas apartir dessa altura arrancou uma boa exibição, pois tabelou, segurou qd o devia fazer, e solicitou os colegas de forma correcta. Já o disse em outras alturas e volto a dizê-lo:
Jogasse ele sempre assim( a partir dos 40 minutos) e não o criticaria tanto.

Um abraço

Anónimo disse...

1) ninguem misturou ninguem fred. dei apenas exemplos de jogadores que se sacrificam pelo colectivo e são reconhecidos pelos adeptos. Usei a a posição de médio defensivo pois é a do custódio

2) Quanto à questão petit nuno gomes confesso que li mal mas não me parece que nenhum destes 2 jogadores se enquadre no "quaresma" ou "liedson" dos outros.

3)O emerson foi um exemplo. não está ao nível dos outros 2 evidentemente mas é um jogador com altissima carreira feita e um grande jogador que se enquadra no perfil por isso não entendo a tua estupefacção

4)"Os adeptos não tem de fazer mais do que a capacidade deles lhes permite. Assim como eu, no texto, expliquei que gd parte dos treinadores não sabem avaliar os jogadores da forma mais correcta."

Não me parece que um adepto que apenas veja os jogos consiga avaliar melhor um jogador do que um treinador (que tem curso (não é o caos do bento)) que passa 7 dias por semana a treinar com ele. Por mais que percebas de futebol como certamente acredito que percebes não me parece que o consigas fazer. não significa que num caso ou outro não tenhas razão mas as coisas não funcionam assim.

5) aquele que tu dizes ser a ideia principal do texto "O objectivo é provar que mais importante que saber excutar, e ser forte nos aspectos físicos, é saber interpretar e compreender o jogo em si."

Discordo.
Creio aliás que no futebol acontece precisamente o oposto. De nada te serve ter um jogador que leia na perfeição o jogo e que depois não sabe "chutar" uma bola! Já se tiveres um "mono" que tenha jeito com a bola mas que não saiba ler o jogo garanto-te que há de servir para alguma coisa (basta veres que as equipas mais pequenas estão recheadas destes lol) já dos outros (que lêem e não sabem chutar) não conheço nenhum!

cumprimentos

Mister Fred disse...

Caro Gonçalo,
Também não acredito que o ideal seja assim, o ideal seria ninguém desiquilibrar o colectivo, mas se uns desiquilibram (que de facto só deviam era "permissão" se depois compensassem com "magia", tal como Quaresma), tem de haver outros que assegurem o equilíbrio, ou então é mesmo um chatice...
Quanto, ao Nuno tens razão, mas o Benfica, neste momento e na maior parte dos jogos, vive quase exclusivamente dessa "inspiração aleatória" de alguns jogadores, não devendo uma equipa funcionar assim. Mas também, com a pré-época, deitada ao lixo, a inoperância táctica de Camacho, a juntar À sua aparente apatia em termos do que era mais forte: disciplina, o amontoado de estrangeiros que chegou (uns de qualidade mas jovens ou desenquadrados, uns nem isso), as barbaridas proferidas por LFV, semana a semanaa, a culminar, com o ignorante Chalana no comando , só podia dar numa equipa totalmente desorganizada, que os "fogachos" de Rui Costa , Rodríguez ou as defesas de Quim, tentam disfarçar.
Quanto ao Liedson, ele desiquilibra a equipa, mas à excepção deste ano, que está muitos furos abaixo do normal, julgo que os seus golos, compensaram em épocas anteriores, esta falha. Além da capacidade de finalização, soma-se valia técnica, e de vez em quando, alguns passes "bem vistos", a juntar é certo a muitos falhados, que resultaram em perdas de bola. Contudo, sem ser brilhante, existindo mesmo melhor em Portugal, julgo que pode-se considerar o "levezinho", como um avançado um pouco acima da média. E é só isso que penso, julgo terem razão nalguns erros que apontam a Liedson, só acho a vossa posição acerca dele, um pouco radical por vezes.
Cumprimentos

Nuno disse...

pedro silva diz:

"5) aquele que tu dizes ser a ideia principal do texto "O objectivo é provar que mais importante que saber excutar, e ser forte nos aspectos físicos, é saber interpretar e compreender o jogo em si."

Discordo."

Pois. Tu e 99,9% das pessoas. E estão errados. E é por isso, por esta simples razão e não por outra, que não conseguem captar a verdadeira qualidade dos jogadores, o seu potencial, etc. É que basta mesmo isto: considerar que compreender o jogo é mais importante que executar. Porque o é. Não conheces nenhum bom jogador que saiba ler o jogo e não saiba jogar porque não existe. Um jogador que compreenda o jogo só não é bom jogador se for perneta. Isto é, se tiver algum problema que o impeça de pôr em prática as suas ideias: capacidade física, deficiência motora, etc. Claro que um jogador que tenha começado a dar pontapés na bola aos 20 anos perdeu muito tempo para aperfeiçoar a técnica, mas um jogador que tenha jogado a vida toda, que seja tecnicamente correcto e saiba executar minimamente, como são todos os jogadores no futebol moderno que tenham tido formação, só tem a ganhar com a compreensão do jogo.

Mister Fred, a nossa reacção contra o Liedson advém do facto de o endeusarem em demasia e de acharem, como alguns, que foi o melhor avançado a passar por Portugal nos últimos 15 anos. Claro que ele não é miserável e, no Sporting, por exemplo, é claramente superior ao Purovic e ao Tiuí. Ou seja, não é o pior do mundo, para nós. Mas não acho, sequer, que seja jogador para um grande em Portugal. Só no nosso campeonato, este ano, há vários bem melhores que ele: Lisandro, Adriano, Farías, Nuno Gomes, Cardozo e Linz são só alguns exemplos. Mas poderia ainda falar em nomes como João Tomás, João Paulo, Lipatin, Roncatto ou Weldon, que não considero inferiores ao "levezinho". Isso do aproveitamento em outras épocas é relativo e chega a ser falso. Se fizeres a média de golos/minutos jogados, és capaz de ter uma surpresa. O Nuno Gomes, que é tão criticado por não ser bom a finalizar, tem uma média quase igual à dele. As pessoas esquecem-se que ele raramente se aleija e joga sempre 90 minutos. Assim, é natural que faça mais golos do que outros que não jogam tanto. Tirando a época do Peseiro, em que tinha uma equipa a jogar à bola como tudo e a criar 20 oportunidades por jogo, não marcou mais que 15 golos no campeonato. Achas isto suficiente, para a quantidade de coisas negativas que faz? Jardel também era mau onde ele é mau. Mas esse tinha legitimidade, pois fazia perto de 30 golos por campeonato. Números abaixo desses, num jogador que não pode dar mais nada que os golos, são claramente insuficientes.

Nuno disse...

Ah, esqueci-me do Derlei. Afinal, são 7 os jogadores claramente superiores ao Liedson, só no nosso campeonato...

Mister Fred disse...

Ok, Liedson não é Jardel, que marcava 30 e tal 40 golos por época, mas nos outros aspectos, exceptuando, a finalização é superior, claramente. É mais veloz, não joga tão preso entre os centrais, é mais móvel, e não dizendo que é melhor no jogo aéreo (porque é quase impossível), para a estatura média que tem, é muito bom até no jogo aéreo (Não acho que esteja tão ligado como se diz à estatura(joão pinto, ainda era mais baixo que o liedson, e era bom de cabeça, melhor que muitos "gigantolas" que andam para aí), mas é óbvio que um jogador ser mais alto facilita um pouco).
Quando a esses que apontam, do primeiro lote, e apesar de não achar que seja assim tão fácil comparar jogadores de níveis idênticos, concordo que Linz (acho um escândalo como é que o Braga, que não pode gastar mais que um milhao de euros num jogador de certeza, o contrata, e o Benfica gasta 4 no Makukula, o Sporting 1 ou 2 no Purovic, avançados de nível muitíssimo inferior...) ou Lisandro, (mesmo Cardozo, mas penso que é outro caso, porque ainda não mostrou a plenitude das suas potencialidades, e também não gosto de comparar a Liedson, porque é um tipo de jogador totalmente diferente). Nuno Gomes ou Farías aceito, assim como Weldon ou Roncatto do segundo "lote", que ainda acho aceitável. Agora, Adriano, Lipatin e João Tomás acho absurdo, dizer-se que são melhores que Liedson. De João Paulo, não lhe vi minutos suficientes, para poder falar da sua real valia, por isso não comento.
Pronto, explicar ua por uma as minhas escolhas, levaria muito tempo, por isso fica só aqui uma opinião muito geral, e não pormenorizada, da comparação entre Liedson e os outros nomes que fazem referência.

Cumprimentos,

P.S.: Derlei foi um dia, superior a Liedson. Não é concerteza, neste momento. O homem não tem culpa, da onda de lesões que o tem perseguido, mas a verdade é que neste momento não o é. Aliás, com o pouco tempo de jogo, e a debilidade física que ele iria apresentar nos próximos jogos (se não tivesse sido castigado), impossibilitam desde já a comparação sequer, por mais que cognitivamente seja superior (como já provou), mas a máquina corporal não o deixa mostrar isso ultimamente. É pena.

Nuno disse...

"É mais veloz, não joga tão preso entre os centrais, é mais móvel, e não dizendo que é melhor no jogo aéreo (porque é quase impossível), para a estatura média que tem, é muito bom até no jogo aéreo (Não acho que esteja tão ligado como se diz à estatura(joão pinto, ainda era mais baixo que o liedson, e era bom de cabeça, melhor que muitos "gigantolas" que andam para aí), mas é óbvio que um jogador ser mais alto facilita um pouco)."

Em termos práticos, em que medida é que ser mais veloz, não jogar tão preso entre os centrais e ser mais móvel contribui para ajudar a equipa? É que tudo isso é verdade, mas por si só não significa que sejam atributos melhores que os do Jardel. Ou seja, é melhor nesses aspectos, mas isso só seria uma vantagem em relação ao outro se fosse melhor para a equipa. Em termos práticos, isto não lhe permite marcar mais golos que o Jardel, bem como não permite ajudar rigorosamente nada a equipa. São atributos, digamos assim, meramente individuais. O ser veloz e móvel são coisas que só servem para ajudar o seu jogo individual e, individualmente, os números de Liedson são inferiores aos de Jardel. Quando digo que Liedson é igual ao Jardel, estou a pensar naquilo que produz para a equipa. E o que os 2 produzem reduz-se aos golos. E nisso o Jardel leva clara vantagem.

Mister Fred disse...

Oh, mas ajuda. Tipo, não digo que seja um jogador perfeito colectivamente, longe disso. Mas não é assim, tão mau. Ele movimentando-se mais, a mais velocidade que Jardel, não criará mais apoios e linhas de passe para os colegas? Não será isso bom para o "colectivo"? E em termos de assistências para golo, também já fez algumas, não sei os números, mas inferior a Jardel não será concerteza. Logo é para mim, um jogador menos egoísta, até que Jardel, que vive quase exclusivamente para os golos. Além do mais, integra-se no processo ofensivo da equipa, em fases mais recuadas, não se limitando à única em que Super Mário participava: a finalização. É claro, que perde mais bolas até, mas também um jogador, que está quase sempre na área, a tentar finalizar, não terá grandes motivos para falhar passes, e Liedson não é esse jogador.
Mas leia-se que eu sou fã incondicional de Jardel, porque na arte de fazer golos, será dos melhores de todos os tempos, e tudo nele era bastante peculiar, até a forma de andar e cabecear. Foi um jogador, que marcou claramente uma era no futebol português. E Liedson, não.
Simplesmente, discordo que colectivamente sejam exactamente iguais, penso que Liedson tem mais qualquer coisa neste capítulo. Nem que seja pouco, dá mais qualquer coisa. Não concordam?
Cumprimentos,

Anónimo disse...

Felizmente nuno que estás nesses 0,1%. Aliás já se fala do interesse do barça e do inter nos teus serviços!

Cumprimentos

Nuno disse...

Sinceramente, Mister Fred, o Liedson ao participar mais do que o Jardel no processo ofensivo, o que é verdade, só é prejudicial, porque estraga mais do que arranja. Se ele se limitasse a ficar na área como o Jardel, talvez não fosse tão prejudicial à equipa. Agora, havendo essa tendência dele para participar no jogo ofensivo, é natural que faça algumas coisas boas. Mas faz muitas más. O Jardel não fazia nem boas nem más.

Pedro Silva, a sério? Desconhecia. Fico feliz por isso, mas estava mesmo à espera era de ser contactado pelo Real...

Anónimo disse...

Só se diz merda neste blog? Execução vs interpretação... Conversa estúpida!! Só cromos nesta rua.

LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL

Anónimo disse...

Para ser sincero gosto do blog e tem assuntos muito interessantes para se discutir. Agora a arrogância com que tu, Nuno (do gonçalo não tenho razões de queixa é sempre muito correcto nas forma como aborda as opiniões dos outros), tratas a opinião dos outros e te colocas sempre num patamar de superioridade como se fosses um mentor do futebol e só tu percebesses o que ele é, torna-se pouco saudável para quem gosta de explanar a sua opinião. Mas isso não funciona assim. Apenas (um exemplo) te digo para ires reler o segundo texto deste blog para te deparares com uma barbaridade de bradar aos céus (e mostrar que também não sabes tudo como pensas). Creio que por mais voltas que dês nunca vais conseguir justificar aquela mas talvez também seja perceptível só para os 0,00000000000000000000000000000
00000000000000000000000000000001% dos adeptos, os "nunos".

cumprimentos

Gonçalo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nuno disse...

Pedro Silva, tens razão em certos pontos, mas a arrogância é e foi sempre uma defesa. Jamais o fui para quem chega aqui cordialmente. A partir do momento em que se dizem coisas estúpidas com autoridade e se põe em causa aquilo que digo, não posso deixar de corrigir. Há quem leve a mal e comece a disparatar, a insultar, ou a pôr em causa as minhas certezas, como se fossem coisas muito estúpidas. Só nessa altura utilizo a arrogância. Se tiveres reparado bem, quando chegaste aqui, entraste a matar. Nessa altura, não respeitei muito a tua posição. Mais tarde, percebi que percebias alguma coisa de bola e que mostravas mais respeito do que inicialmente. Passei a tratar-te condignamente. Desta vez, só disse que estavas errado, como 99% das pessoas, num aspecto. Acho que não fui arrogante, mas tudo bem.

trigo, ainda comes papas de aveia, não é? Piada fácil, mas ao nível que se impunha.

Gonçalo disse...

Este trigo tem sempre comentários interessantes e pertinentes... Demonstradores do nível intelectual que possui...
Volta sempre.

Anónimo disse...

Nuno, não gosto de aveia, gosto mais de me rir da merda que dizes. Das tuas certezas. Tens a certeza que és palerma, e gostas.

Anónimo disse...

Q GANDA BITÓ!

filipe disse...

Apenas um comentário sobre o título...

É que para que se possa compreender com maior profundidade o futebol ajuda muito ter jogado, seja a que nível for.
Por exemplo - e este é um argumento que já aqui partilhei numa outra discussão - quem recorrer à memória, sabe que uma fracção de segundo distingue o sucesso ou fracasso de uma execução, pelo que o "raciocinio" numa jogada só é possível em situações muito particulares. O "pensar" e o "compreender" no futebol faz-se sobretudo por antecipação, recorrendo-se depois ao treino para se atingir as conclusões desse raciocinio. Dentro de um jogo também há nuances susceptiveis de serem corrigidas ou aproveitadas, mas muito raramente com raciocinios jogada-a-jogada.
Por exemplo, um jogador que tem más opções no passe, não o corrige com raciocinios no jogo seguinte. Fá-lo, primeiro, percebendo o que o leva a ter essas decisões, corrigindo depois esses aspectos no treino através da sistematização. É a diferença entre o lado racional e comportamental do ser humano (que tem a ver com as características do próprio cérebro). Enquanto que uma explicação é suficiente para que se compreenda um conceito, para que esse conceito se reflicta comportamentalmente é preciso um trabalho prático mais exaustivo.

Nuno disse...

Sem dúvida, Filipe. O treino possibilita, além disso, reduzir o tempo de raciocínio. A sistematização ajuda a demorar menos tempo a raciocinar, pois a decisão será tomada com base na habituação do cérebro a situações semelhantes. O que está aqui em jogo, contudo, não é o raciocínio puro e duro contra o jogar sem pensar. É, isso sim, a sistematização dos conceitos. Há jogadores que decidem melhor porque aproveitaram o treino para perceber melhor o que estavam a fazer mal e aprender a reconhecer situações em que se deve decidir desta ou daquela maneira. Há outros que decidem pior porque não aproveitaram o treino para isso e das duas uma: ou recorrem única e exclusivamente ao instinto ou habituaram-se, desde sempre, a decidir mal e agora copiam os erros que treinaram. Em tudo isto fica evidente que o melhor é sempre compreender o jogo, coisa que o treino, claramente, pode potenciar, do que não o conhecer e jogar de forma irracional, confiando que o instinto, isto é, a decisão espontânea, não rotinada, não repetida, será suficiente.

Mister Fred disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gonçalo disse...

"É que para que se possa compreender com maior profundidade o futebol ajuda muito ter jogado, seja a que nível for.
"
Sem dúvida Filipe, e eu admito que me faltou explicar uma coisa: Para se perceber bem o jogo temos de vivencia-lo. O texto tem como tema jogadores que sao sobrevalorizados, outros subvalorizados.

Eu parti do principio que toda a gente chegasse à conclusão de que jogar futebol é importante para o compreender, até pq estamos a falar de JOGADORES.

Pelos visto, para certos leitores( refiro-me aos vegetais) deste blog o Titulo teria de ser:
"é mais importante para um jogador perceber bem o jogo, do que ser mt evoluido, quer tecnicamente, quer fisicamente.

Um abraço