O que é o verdadeiro adepto? Aquele que exulta com cada lance, ficando roxo de tanto gritar? Aquele que insulta, do primeiro ao último minuto, o árbitro, a mãe do árbitro, o adversário, a mãe do adverário, o adepto adversário, a mãe do adepto adversário, e todos os outros e as mães de todos os outros? Aquele que defende, com a vida, se for preciso, a honra do seu clube? Não! O verdadeiro adepto, o verdadeiro apreciador de futebol não se comporta como se comporta a generalidade dos adeptos de futebol. Porquê? Simples. Porque não vai para o estádio para se sentir superior, mas para assistir a um espectáculo. E um espectáculo, como o é um jogo de futebol, não é uma batalha, nem sequer uma competição. O futebol é, acima de tudo, arte. Não digo que se deva retirar ao futebol o elemento competitivo. Longe disso. Esse elemento é fundamental. Até porque o futebol é uma espécie de arte que tem uma finalidade clara que é o golo e a vitória. Sem esse desígnio, não poderia ter expressão. Mas então qual é o problema do adepto que vai para o estádio para se sentir melhor que o vizinho? Simples. Ao invés de se regozijar com o espectáculo, o adepto comum contenta-se somente com o êxito do seu clube. Mas, se ele deve patrocinar a competitividade, não deve felicitar-se com as vitórias? Não! A vitória, o sucesso não é o mais importante no futebol! São o seu fim, não aquilo que o define. Por que não? Porque, como disse, o futebol é mais do que aquilo que o adepto comum pensa que é. O futebol é arte. E, como toda a arte, o seu objectivo não é o sucesso ou o insucesso, mas ela própria. Quando um bom cinéfilo vai ao cinema, só fica satisfeito se a qualidade da película corresponder aos seus padrões de qualidade. Pouco importa que a sua personagem preferida não fique com a mulher por quem está embeiçada ou que morra tragicamente no final. Perante um conhecido quadro de Goya em que se retrata a execução de um grupo de espanhóis durante as invasões francesas, não deixamos de sentir piedade por aquelas pessoas, mas não é por isso que a qualidade geral da tela sai prejudicada. A arte pouco tem a ver com o desfecho das coisas ou com as afinidades de quem a observa. E, se o futebol é arte, também não deve ser observado de forma sentida. O bom adepto de futebol é desapaixonado. Contempla uma forma de arte e pouco se importa com o resultado final, se bem que deseje que aqueles que melhor praticam essa arte sejam condecorados pela vitória, porque esse é o fim dessa forma de arte particular.
O verdadeiro adepto de futebol pode ter um clube do coração, pode gostar mais de um certo clube, mas se reconhecer que o seu clube não é o melhor, não desejará a vitória a esse clube. Como tal, o verdadeiro adepto de futebol é o único isento, o único capaz de decidir, perante a sua análise, quem mais merece a vitória. Esse tipo de adepto defende, antes da sua equipa, antes da selecção do seu país, o futebol de melhor qualidade. É, portanto, aquele que vai mais triste para casa com uma má exibição da sua equipa, ainda que tendo ganho, do que com uma derrota em que os postes e o guarda-redes adversário cometeram o milagre de evitar a vitória. Um verdadeiro adepto de futebol só considera o dinheiro do seu bilhete mal gasto quando não assiste a um espectáculo em conformidade. E o que define a conformidade desse espectáculo? Precisamente a sua qualidade e não o seu resultado. Ao contrário do adepto comum, o verdadeiro adepto satisfaz-se com a qualidade e não com o resultado. Porquê? Porque para uns o futebol é a forma mais fácil de se sentirem poderosos (agora, que a religião perdeu toda a sua força) e para outros é uma forma de arte.
É aqui que o argumento pretende chegar. O verdadeiro adepto não é só aquele que entende o futebol como uma forma de arte. É também aquele que, tendo capacidade de assim o entender, está apto a saber avaliá-lo qualitativamente. O que pretendo provar é que só o adepto que veja o futebol como arte, que consiga colocar a qualidade do espectáculo à frente do seu resultado, é que tem condições para saber distinguir o bom futebol do mau futebol. E isto é fácil de provar. Um adepto que dê preferência ao resultado não saberá distinguir a melhor forma de atingir esse resultado. Porquê? Porque nem sempre os resultados derivam da qualidade. Uma equipa que jogue um futebol demasiado directo pode ganhar vários jogos apenas porque os seus avançados são mais rápidos que os defesas adversários. Num jogo em que isso não se passe, não ganharão. Mas o adepto comum não perceberá porquê. Na sua óptica, ficará sempre a ilusão de que os jogadores não se esforçaram o suficiente, ou que o adversário teve sorte, ou que o treinador não soube planear o jogo. E por que pensa ele assim? Porque só lhe interessa o resultado e porque pensa que, tendo chegado a um resultado positivo, uma equipa tem obviamente qualidade. Falso. Maior parte dos resultados positivos não derivam da qualidade, mas de factores diversos incontroláveis. Em contrapartida, um adepto para quem o resultado não seja importante, que concentre a sua atenção na qualidade do jogo (o único factor controlável no futebol) saberá dizer o que está mal e o que está bem. Porquê? Porque, à partida, conseguirá perceber em que medida os resultados foram derivados de uma boa ou de uma má qualidade do jogo ou de determinados aspectos do jogo.
Como é óbvio, isto não é linear. Há quem consiga fazer isto melhor, há quem consiga fazê-lo pior. O que digo é que saber assistir a futebol, isto é, ver o futebol como arte, é premissa necessária para se perceber de futebol. Só de entre os que assim o fazem saem os que entendem mesmo de futebol. Mesmo entre esses poucos, há quem depois não saiba interpretar correctamente as coisas. Ou quem saiba apenas parcialmente. São raríssimos os que têm inteligência suficiente para saber interpretar correctamente a qualidade de um jogo. Não digo, com isto, que estes adeptos estejam aptos a ser treinadores, conquanto o fossem, certamente, melhor que maior parte dos treinadores que existem. Uma coisa é interpretar a qualidade e saber como atingi-la, outra coisa é ensiná-la, comunicá-la a um grupo de jogadores. Conheço apenas um que o sabe quase na perfeição, mas esse é Especial...
O verdadeiro adepto de futebol pode ter um clube do coração, pode gostar mais de um certo clube, mas se reconhecer que o seu clube não é o melhor, não desejará a vitória a esse clube. Como tal, o verdadeiro adepto de futebol é o único isento, o único capaz de decidir, perante a sua análise, quem mais merece a vitória. Esse tipo de adepto defende, antes da sua equipa, antes da selecção do seu país, o futebol de melhor qualidade. É, portanto, aquele que vai mais triste para casa com uma má exibição da sua equipa, ainda que tendo ganho, do que com uma derrota em que os postes e o guarda-redes adversário cometeram o milagre de evitar a vitória. Um verdadeiro adepto de futebol só considera o dinheiro do seu bilhete mal gasto quando não assiste a um espectáculo em conformidade. E o que define a conformidade desse espectáculo? Precisamente a sua qualidade e não o seu resultado. Ao contrário do adepto comum, o verdadeiro adepto satisfaz-se com a qualidade e não com o resultado. Porquê? Porque para uns o futebol é a forma mais fácil de se sentirem poderosos (agora, que a religião perdeu toda a sua força) e para outros é uma forma de arte.
É aqui que o argumento pretende chegar. O verdadeiro adepto não é só aquele que entende o futebol como uma forma de arte. É também aquele que, tendo capacidade de assim o entender, está apto a saber avaliá-lo qualitativamente. O que pretendo provar é que só o adepto que veja o futebol como arte, que consiga colocar a qualidade do espectáculo à frente do seu resultado, é que tem condições para saber distinguir o bom futebol do mau futebol. E isto é fácil de provar. Um adepto que dê preferência ao resultado não saberá distinguir a melhor forma de atingir esse resultado. Porquê? Porque nem sempre os resultados derivam da qualidade. Uma equipa que jogue um futebol demasiado directo pode ganhar vários jogos apenas porque os seus avançados são mais rápidos que os defesas adversários. Num jogo em que isso não se passe, não ganharão. Mas o adepto comum não perceberá porquê. Na sua óptica, ficará sempre a ilusão de que os jogadores não se esforçaram o suficiente, ou que o adversário teve sorte, ou que o treinador não soube planear o jogo. E por que pensa ele assim? Porque só lhe interessa o resultado e porque pensa que, tendo chegado a um resultado positivo, uma equipa tem obviamente qualidade. Falso. Maior parte dos resultados positivos não derivam da qualidade, mas de factores diversos incontroláveis. Em contrapartida, um adepto para quem o resultado não seja importante, que concentre a sua atenção na qualidade do jogo (o único factor controlável no futebol) saberá dizer o que está mal e o que está bem. Porquê? Porque, à partida, conseguirá perceber em que medida os resultados foram derivados de uma boa ou de uma má qualidade do jogo ou de determinados aspectos do jogo.
Como é óbvio, isto não é linear. Há quem consiga fazer isto melhor, há quem consiga fazê-lo pior. O que digo é que saber assistir a futebol, isto é, ver o futebol como arte, é premissa necessária para se perceber de futebol. Só de entre os que assim o fazem saem os que entendem mesmo de futebol. Mesmo entre esses poucos, há quem depois não saiba interpretar correctamente as coisas. Ou quem saiba apenas parcialmente. São raríssimos os que têm inteligência suficiente para saber interpretar correctamente a qualidade de um jogo. Não digo, com isto, que estes adeptos estejam aptos a ser treinadores, conquanto o fossem, certamente, melhor que maior parte dos treinadores que existem. Uma coisa é interpretar a qualidade e saber como atingi-la, outra coisa é ensiná-la, comunicá-la a um grupo de jogadores. Conheço apenas um que o sabe quase na perfeição, mas esse é Especial...
2 comentários:
Enviar um comentário