quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Oportunidades de Golo

Na mais recente crónica na Tribuna Expresso, explico por que motivo as oportunidades de golo não reflectem de modo algum a produção ofensiva de uma equipa num jogo, exponho todos os problemas inerentes à ilusão da ferramenta dos Expected Goals (xG) de medir a qualidade dessas oportunidades e arrelio a maravilhosa seita dos analistas de tabelas numéricas e graficozinhos coloridos.

4 comentários:

Pedro disse...

Porra, finalmente um texto.

E que texto!!! :)

Muito bom.

" Um lance de ataque que termine com um autogolo, por exemplo, não entra para as contas. Imaginem um cruzamento que se destina a um avançado ao segundo poste, preparado para empurrar a bola para a baliza, que é desviado por um defesa para dentro da baliza antes de lá chegar. Não é isto uma oportunidade de golo claríssima? A ferramenta dos Expected Goals (xG), o santo graal dos papalvos das tabelas numéricas, não o considera."

Tens certeza disto?

"se o remate em análise tiver sido realizado em condições técnicas desfavoráveis, por exemplo, em esforço? "

Uma das coisas que mais me irrita é ver um gajo atirar um charuto para dentro da área, o colega borrar-se todo para chegar à bola e apesar de tudo conseguir marcar golo, e depois os comentadores /analistas elogiarem a "assistência"!!!

Tantas discussões que tive com malta que dizia que equipa A defendia muito bem porque não sofria golos quando no jogo jogado muitas vezes não sofria por mérito do guarda redes ou inépcia atacante do adversário. Eu dizia que o adversário entrava muitas vezes na área mesmo que não conseguisse criar oportunidade clara de golo mas como não havia esse dado estatístico à Goalpoint era como se não houvesse debilidade ofensiva.

Nuno disse...

Pedro diz:

"Tens certeza disto?"

Parece que há modelos mais recentes e mais sofisticados que já contemplam outras coisas. A maioria considera apenas "remates", e isto não é um remate.

"Eu dizia que o adversário entrava muitas vezes na área mesmo que não conseguisse criar oportunidade clara de golo mas como não havia esse dado estatístico à Goalpoint era como se não houvesse debilidade ofensiva."

Pois, é a diferença entre aquilo que se contabiliza como oportunidade de golo neste tipo de modelos e aquilo a que chamei um lance promissor. Parece-me que falar em "lances promissores" é bem mais acertado para justificar tendências ofensivas ou probabilidades de êxito, embora depois seja muito difícil transformar isso em numerozinhos com que mostrar aos outros que temos razão. O problema das ferramentas de xG, da Goalpoint e não só, é pretenderem acabar com certas discussões. A pretensão de que estas continhas eliminam ou pelo menos atenuam o "erro humano" na percepção do que se passou em campo é das coisas que mais me aborrece hoje em dia na análise aos jogos. E a verdade é que, pelo contrário, dizer coisas a olho, desde que ditas por quem percebe e sabe olhar, continua a ser muito menos tendencioso do que esta parolice.

Anónimo disse...

Nuno, qual é a tua opinião sobre o Haaland?

Unknown disse...

É forte fisicamente, rapidíssimo a atacar a profundidade e com faro de golo. Mas esta época no Dortmund começou a trabalhar outras coisas, e surpreendeu-me o quanto melhor em termos de compreensão de jogo. Tecnicamente tem muitos problemas que nunca serão resolvidos, mas está cada vez melhor a fugir de situações em que esses problemas se podem notar. É daqueles jogadores que, quanto menos toques derem na bola, melhor. E o primeiro toque dele melhorou muito nos últimos tempos.