segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O conceito de Busquets

Se tivesse de escolher um jogador que melhor expressa os conteúdos do nosso blogue seria sobre este que a minha opção recairia. E o facto de Guardiola vir a público reconhecê-lo como o melhor médio do mundo é mais revelador do conceito de futebol que envolve o Barcelona de Guardiola do que propriamente das qualidades de Busquets.

É sinónimo de não fazer a mínima ideia do futebol que o actual Barça pratica estranhar ou não compreender as palavras de Pep. O futebol catalão assenta em predicados intelectuais, numa abordagem diferente e superior ao jogo, rompendo com os requisitos tradicionais para a prática do mesmo sobrepondo-lhe a condição de jogo à de desporto. Os argumentos físicos e técnicos diluem-se no caractér decisivo que a capacidade de deliberar adquire, em torno da qual gira todo este modelo: a necessidade de cada jogador se relacionar da melhor forma com os colegas em função de uma ideia de jogo, assente principalmente em conceitos colectivos, que guia o todo no qual está inserido, obriga-o a depender sobretudo da sua capacidade de decisão, não das caracteristicas que lhe permitissem vencer mais duelos individuais.

É a capacidade de perceber qual a melhor linha de passe a criar ou a respeitar, compreender o que cada momento do jogo pode oferecer sem que o equílibrio colectivo seja colocado em causa, que mais importa. Por isso, muitos apelidam o jogo da equipa de Guardiola de aborrecido. E percebe-se que o apelidem assim: a maneira como a equipa aborda o jogo, com todos os jogadores, ou quase todos, conscientes de que o importante, a cada instante, é tomar a melhor opção possível, impede que assistamos a jogos divididos, ou com uma grande intensidade física. Isto para além de que um jogo baseado em trocas de bolas aparentemente inconsequentes irrita naturalmente os mais pragmáticos e simplistas. É porque o modelo catalão exige dos seus jogadores acima de tudo uma capacidade de decisão óptima que um avançado não se precipita na procura do golo, nem um médio na conquista de uma assistência. Daí que a sublimação dos atributos individuais que permite a cada jogador forçar as conquistas a que cada posição, tradicionalmente, está associada, seja tão irrelevante.

Numa equipa que utiliza essencialmente o toque curto, em função dos apoios que constantemente são criados, a capacidade técnica que o passe longo requer, por exemplo, torna-se supérflua; um jogador que seja muito evoluído tecnicamente e forte nos duelos individuais, mas que não tenha a capacidade de tirar partido da dúvida que o posicionamento dos seus colegas impõe ao adversário, não saberá tirar o melhor proveito daquilo que o colectivo lhe oferece nem saberá potenciar devidamente as suas capacidades, desenrolando as suas movimentações de forma aleatória e provocando desequilíbrios na própria estrutura da equipa. E assim, finalmente, chegamos a Busquets. O número 16 blaugrana não apresenta dotes técnicos extraordinários. Tão pouco é um jogador muito forte nos duelos individuais. No entanto, a forma como lê o jogo, a maneira como consegue criar linhas de passe e antecipar as que os seus colegas vão desenhar, colocam-no num patamar superior.

O crescimento deste jogador, como o já foi referido um sem número de vezes aqui, apenas seria possível neste Barcelona, no de Guardiola, num paradigma que percebesse que a excelência em futebol depende acima de tudo da capacidade intelectual dos seus intervenientes, só assim permitindo levar ao limite a sua vertente colectiva, desprezando as valências exclusivamente individuais. Podemos assim entender as palavras de Guardiola, se as interpretarmos como uma sinédoque, não apenas como um elogio a um jogador, mas também como um elogio ao futebol que o seu conjunto pratica: não é apenas Busquets que é o melhor médio do mundo; é o futebol que este Barcelona conceptualiza, única razão pela qual Busquets se tornou no que é hoje, que é o melhor futebol do mundo e de todos os tempos.

25 comentários:

Manuel Nascimento disse...

É um gozo vê-lo jogar. É de uma elegância, tão fino, tão superior.

Parece que mete «pause» para ter mais tempo para decidir e decidir melhor que quem aí vem para lhe roubar a bola. Os toques sublimes de cintura para criar uma linha de passe nova e receber a bola aí, ou o mesmo toque, com a bola controlada, para tirar o jogador do caminho sem sequer sair do sítio e, então, devolver a bola da forma mais fácil.. É tão rápido de cabeça que se dá ao luxo de poder parecer mais lento. Está sempre tudo controlado de forma assustadora. É inacreditável.

Adorava poder enriquecer o pobre comentário com vídeos para mostrar alguns momentos únicos, muitos até aparentemente pouco interessantes mas que, naquele segundo, se enchem de futebol enquanto manifestação máxima daquilo que é e deve ser. Tu já o fizeste uma vez, e entretanto passou tanto tempo que dava para fazer mais 500 vídeos, todos diferentes e todos melhores uns do que os outros.

Pedro disse...

"No entanto, a forma como lê o jogo, a maneira como consegue criar linhas de passe e antecipar as que os seus colegas vão desenhar, colocam-no num patamar superior."

Com as devidas diferenças o que achas da evolução de Javi Garcia?

Mike Portugal disse...

Houve um jogador que tinha características de compreensão do jogo e de controlo de bola e de movimentos identicas ao Busquets, mas com tecnica muito superior e jogava um pouco mais à frente no campo: Zidane.

Por isso não posso concordar que Busquets seja o melhor médio de sempre.

Gonçalo disse...

Pedro, acho o Javi um excelente jogador, mas não me parece que o futebol que ele pratica tenha sofrido uma grande evolução.

Mike, é o conceito que definimos como o melhor de todos os tempos, não o jogador. E é este conceito que lhe permite atingir o nível que Guardiola lhe reconheceu.

Um abraço.

Blogger disse...

Qual a vossa opinião sobre o Roma de Luis Enrique.

Referiram ontem na RAI que o Roma joga numa espécie de 2 triângulos ?

Haverá outras equipas a jogar dessa forma ?

Manuel Nascimento disse...

Aproveito também para deixar uma pergunta.
Lembro-me de um texto do Paradigma Guardiola, antes da Supertaça Europeia, em que a análise que fazem é interessante e os lances apresentados do Souza são "diferentes" no bom sentido. Nunca pude vê-lo jogar vezes suficientes para formar uma opinião, e quando o vi jogar não o fiz com a devida atenção e tenho pena, porque o post deixa excelentes indicações.

Vocês têm alguma opinião formada sobre esse jogador? E qual é?

Deixo aqui um abraço e um link par ao tal post:

http://paradigmaguardiola.blogspot.com/2011/08/oporto-otro-club-modelo.html

Anónimo disse...

Boas Gonçalo,

Tive para escrever sobre ele no ultimo Real x Barça. Há um lance que diz tudo de Busquets. Está a dar apoio a Fabregas, num lance na esquerda, e antes de receber a bola olhou duas vezes para a frente. Antecipando tudo aquilo a que outros tentam reagir. Não sei se deste conta desse lance.

Estava até a ver o jogo com uns amigos e voltamos para trás para rever.

Nunca jogará noutra equipa Europeia, e se sair de Barcelona a sua carreira cairá de forma drástica.

Depois falam de Xabi Alonso como se fosse o melhor médio do mundo, simplesmente porque a 30metros consegue colocar a bola num "caixote".

Por muito que pareça, por algumas acções de Messi, o Barcelona raramente se manifesta em acções individuais, simplesmente porque estas estão sempre cobertas com movimentações colectivas, que aí sim, permitem a escolha individual. Mas não será fácil explicar isto!

Abraço, Jorge D.

Vitó disse...

Pah, tive há pouco tempo uma discussão com um amigo que achava o Busquets banal (como a maioria do "povo" diga-se) e usei exactamente os argumentos presentes no texto.

É simplesmente soberbo o entendimento que este jogador tem do jogo, a forma como toma sempre a melhor decisão (com e sem bola), como serve de apoio , como contemporiza os passes, como reage à perda da bola, etc, etc, etc. Não digo que seja o melhor médio do mundo (talvez...) mas é sem dúvida alguma o melhor médio defensivo que nos últimos anos me lembro de ver jogar.

Abraço

Ramiro disse...

A inteligência de Busquets é algo que se sente só de olhar para ele no campo. No entanto na minha modesta opinião falta-lhe um rasgo de brilhantismo por vezes. Falta-lhe aquele último toque tantas vezes presente em Xavi, Iniesta e Fábregas e, no para mim, maior promessa do futebol actual, Thiago Alcântara. Têm para mim outro "defeito" que é o jeito para o teatro mas que vem também da sua inteligência como jogador.

Gonçalo disse...

Blogger, não tenho acompanhado muitos jogos da Roma, visualizei alguns, no início da época, mas entretanto não tenho tido oportunidade de ver a equipa de Luis Enrique.

Jorge, desse lance não me lembro, mas recordo muitos outros em que teve comportamento semelhante. Quanto ao resto, não podia estar mais de acordo ctg: acreditar que este rapaz podia ter tido sucesso junto de qlq outro treinador é de loucos.

Manuel, não tenho opinião formada sobre o Souza, Vi-o actuar muito poucas vezes, contudo, assim que tiver oportunidade passo pelo paradigma, se eles o destacaram é provável que haja qualquer coisa de interessante neste jogador.

Um abraço!

Unknown disse...

O jeito para o teatro não é marca de inteligência, mas antes a conduta anti-desportiva que é marca dos jogadores do barcelona que encontraram no estilo animal do pepe a desculpa perfeita para todas as diatribes. Eu vi alguns lances do jogo com o málaga, pois não tenho tido muitas oportunidades para ver o barcelona, mas pareceu-me acima de tudo que foram os predicados individuais do messi que fizeram a diferença e não o jogo colectivo do barça. aliás por muito que esse jogo de contenção, posse e troca de bola seja útil para criar desequilíbrios, a verdade é que sem os génios de messi, xavi e iniesta, dificilmente uma equipa de busquets teria algum sucesso digno de nota. a capacidade que messi tem para fazer a diferença é muitas vezes a chave do jogo, porque os defesas já têm tanto medo dele que são perfeitamente incapazes de antecipar as suas decisões. Se o messi se lesionar e estiver fora durante os jogos decisivos, dificilmente o modelo do barça terá êxito. Independentemente do Thiago ser um craque do futuro, acho que o aproximar do fim da carreira de jogadores como o xavi e o iniesta e a consequente diminuição da disponibilidade física deles para fazerem muitos jogos por época e os consecutivos nos momentos decisivos vai trazer novos desafios porque cesc, busquets e thiago não têm ainda, se é que virão a ter a capacidade para fazer o que eles fazem com a alma que têm

Postiga disse...

A sensação que tenho é que Busquets foi trabalhado e bem para funcionar de acordo com o que este Barcelona precisava e precisa, daí o facto de se dizer que fora dele não seria ninguém por ai além. Não faz nem mais nem menos do que lhe pedem e quando assim é, torna-se difícil encontrar defeitos.

O texto está muito bem conseguido e relata tudo pelo que não tenho grande coisa a acrescentar. Para mim um dos pormenores que mais noto no Busquets é o facto de pensar o jogo antes de a bola lhe chegar. Reparem nas vezes que ele olha à volta de si no instante anterior à bola lhe chegar. Nesse instante ele já tomou a decisão do que como resolver essa situação.

Para além disso a posição onde joga exige uma enorme concentração, decisões acertadas e pouca liberdade para inventar.

Apesar disto tudo, não consigo concordar que seja o melhor médio porque por exemplo o Xavi consegue fazer isso mesmo e ainda mais, motivo pelo qual Guardiola lhe deu essa liberdade...

Unknown disse...

Gostava de uma análise táctica ao jogo da taça, onde apenas o génio do Messi, ou antes o medo que os do Madrid têm dele que levou o Arbeloa a desposicionar-se indo para cima do Pepe e deixando o Pedro nas costas sozinho e um balázio do Daniel Alves após uma bola parada em que novamente o Real esteve mal posicionado, permitiu que o Barça não fosse eliminado em casa.
Isso e a má eficacia dos merengues que antes do 1.º golo estiveram por duas vezes na cara do Pinto e falharam e o Ozil fez a barra estremecer violentamente.
Acho que neste jogo, o Mourinho deu uma lição táctica ao Guardiola e não fosse o azar, ou antes a falta de eficácia e tinha eliminado a super-equipa em casa (mais uma vez).

Nuno disse...

Blogger, tenho tentado dedicar algum tempo à Roma, porque quero escrever, antes do final da época, alguma coisa sobre isso. Mas também não vi muitos jogos, e sobretudo não vi muitos jogos seguidos. De qualquer modo, tenho boas e más impressões. Muito rapidamente, acho que, geralmente, consegue impor um jogo de posse aos adversários, mesmo quando os adversários são fortes. É muito forte a gerir a posse nas duas primeiras fases de construção, e isso é um mérito óbvio de Luis Enrique. Não é tão forte, no entanto, a entrar em posse no bloco adversário. Isto é, por vezes têm coisas interessantes a esse nível, tentam usar a posse como engodo, como o Barça, mas não o fazem de forma sistemática. E, sobretudo, não o conseguem fazer quando se sentem mais pressionados. Não sei se isso é demérito do Luis Enrique, que não o trabalha tanto, ou não lhe dá tanta importância, ou se é resistência às ideias, por parte dos próprios jogadores. Essa resistência é outro problema, para mim. Há ali muito boa gente que, simplesmente, não está habituada a ideias daquelas, e muito do jogo de posse passa pelo total compromisso dos jogadores com ele. Para dar um exemplo, o De Rossi é extraordinário, mas estica em demasia o jogo. Eu nunca o poria a trinco precisamente porque, muitas vezes, o jogo acaba por não passar pelos médios. Numa equipa de posse, como o Luis Enrique pretende, o trinco tem de entregar curto e rápido, não pode ser o principal estratega do meio-campo. Depois, há a questão defensiva, e aí parecem estar os principais defeitos da Roma. O primeiro golo da Juventus ontem é o melhor exemplo de como a equipa comete erros imperdoáveis. O Kjaer vai atrás do Del Piero e abre uma cratera que permite que um passe rasteiro de quarenta metros isole um jogador da Juve. Quando assim é, muita coisa vai mal em termos de comportamento colectivo.

Manuel Nascimento, eu tenho uma opinião sobre o Souza. Gosto da simplicidade dele. Não é tão interessante do ponto de vista técnico, como o Fernando, nem me parecer extraordinariamente inteligente, mas parece-me bom em termos posicionais e tem a tendência para resolver de forma simples. Isso são claramente duas grandes virtudes.

Jorge D. diz: "Por muito que pareça, por algumas acções de Messi, o Barcelona raramente se manifesta em acções individuais, simplesmente porque estas estão sempre cobertas com movimentações colectivas, que aí sim, permitem a escolha individual. Mas não será fácil explicar isto!"

Jorge, as pessoas vêem o Messi a correr com a bola e acham que, pronto, o gajo tirou aquele coelho da cartola. Mas depois não conseguem explicar por que é que ele raramente tira coelhos da cartola quando joga pela selecção. Enfim, é muito difícil explicar a um daltónico que há mais cores do que aquelas que vê.

Ramiro diz: "No entanto na minha modesta opinião falta-lhe um rasgo de brilhantismo por vezes."

Ramiro, também achamos que o Busquets não tem a criatividade do Xavi, ou do Iniesta. Mas naquela posição tem o mais importante: joga sempre, sempre, simples. Naquela posição, o Barça não precisa de alguém com rasgos de brilhantismo precisamente porque, naquela posição, raramente precisará de inventar coisas. Naquela posição, o mais importante é o que ele faz. Além de que ele tem noção de que não é prodigioso em termos técnicos, e que isso é uma limitação caso deseje ter rasgos de brilhantismo. A grande virtude dele é conhecer os seus limites, e saber que, dentro deles, pode exceder tudo e todos, ainda assim.

Nuno disse...

Bcool973 diz: "Eu vi alguns lances do jogo com o málaga, pois não tenho tido muitas oportunidades para ver o barcelona, mas pareceu-me acima de tudo que foram os predicados individuais do messi que fizeram a diferença e não o jogo colectivo do barça."

Bcool973, viste mal. A menos que um dos predicados individuais do Messi seja o jogo de cabeça.

"Acho que neste jogo, o Mourinho deu uma lição táctica ao Guardiola e não fosse o azar, ou antes a falta de eficácia e tinha eliminado a super-equipa em casa (mais uma vez)."

Bcool, é uma proeza cometer tantos enganos numa frase tão curta. Em primeiro lugar, o Mourinho nunca eliminou o Barça em casa. Em Camp Nou, perdeu 1-0. Eliminou o Barça porque tinha vencido 3-1 em San Siro. Segundo, lição táctica??? Mas que jogo é que tu viste? Pá, este foi, para mim, o melhor Real em jogos contra o Barça, desde que Mourinho chegou. Mas lição táctica, além de um exagero, é estúpido. Em primeiro lugar, muito do que o Real fez ontem se deveu ao facto de Mourinho ter dado uma liberdade a Kaká e a Ozil que nunca deu antes. E tenho imensas dúvidas que ele a desse se as condições fossem outras. Ele foi ali de peito aberto porque não tinha nada a perder; não porque tacticamente seja um mestre. Segundo, o Real fez uma boa primeira parte, e teve algumas oportunidades para marcar antes do golo do Barcelona. Nenhuma delas, porém, como a que permitiu a Pedro abrir o marcador. Já falei disto, e é uma diferença grande. O jogo rendilhado do Barcelona pode fazer com que a equipa não acumule muitas oportunidades de golo, mas as que acumula são geralmente em condições muito mais favoráveis que as dos adversários. O Real teve algumas oportunidades, sim, mas além de serem muito consentidas (falha de Piqué nos primeiros segundos; falha de Pinto a oferecer a bola dentro da área), nunca foram oportunidades claríssimas, em que o avançado tem tempo e espaço para decidir como finalizar. O Barcelona teve uma, a de Pedro. E teve mais 2 na primeira parte parecidas com as do Real. Tem, por exemplo, um lance em transição em que fica 3 para 1 e só uma má recepção do Messi impede que o lance seja mais perigoso. Depois, e apesar da boa primeira parte do Real, o Barça tinha ainda assim ao intervalo 63% de posse de bola. Vencia, a meu ver, com justiça, embora 2 golos de vantagem talvez fossem muito.

Mas se é verdade que, na primeira parte, o Real impôs algum respeito, na segunda não o fez. Para muitos, isto será naturalmente estranho, porque foi neste período que recuperou e que marcou 2 golos. Mas para quem viu o jogo, sobretudo para quem o viu a sério, isto não choca. Os primeiros 20 minutos da segunda parte foram de um domínio absoluto do Barça. Absoluto! Nesse período, a posse deve ter andado na ordem dos 80%. Os jogadores do Real até já estavam a perder a cabeça. De repente, praticamente do nada, dois golos em três minutos. E o Real, de repente, já estava a dar uma lição táctica ao Barça. Enfim. É verdade que isto abalou o Barça, e que nos últimos 20 minutos da partida nunca mais conseguiu impor o seu jogo de posse. Mas também é verdade que o Real, depois do segundo golo, não conseguiu criar uma única ocasião de golo. Uma única. A melhor ocasião, até ao final, é do Pedrito, a cabecear na pequena área.

Não consigo perceber como é que isto é uma lição. A sério que não consigo. O Real teve a sorte de empatar em 3 minutos, só isso. Se não tivesse tido essa sorte, hoje estava-se a dizer que o Mourinho tinha voltado a ser vergado pelo Barcelona. Como empatou, já deu uma lição. Enfim. Pessoas com este tipo de opiniões não merecem grande atenção. Repara ainda no seguinte: o Barça jogou as duas mãos sem o Valdez, que é importantíssimo para a saída de bola da equipa. O Pinto compromete bastante isto, mas ainda assim o Guardiola não aceitou trocá-lo, só porque era contra o Real. Isto também diz muito daquela equipa. O Mourinho, por exemplo, não fez o mesmo. Essa é uma lição muito maior do que aquela que tu imaginas que o Mourinho deu.

Unknown disse...

Nuno, sejamos verdadeiros, os 63 % de posse de bola foram no fim do jogo e não ao intervalo porque aí estava nos 58 %. Depois dizes que não teve oportunidades tão claras como as do barcelona ? A diferença foi na execução do higuain versus a do benzema. E a boça no barrote ? concedo que para ti um remate de tão longe, não é uma oportunidade clara como a do pedro, mas essa dependeu do erro que o arbeloa cometeu vindo para cima do pepe quando tal não se justificava. A questão é que até à lesão do Iniesta, o Barça não conseguia fazer o seu jogo em posse. E a pressão alta do Real dava origem às perdas de bola do Barça que originaram as oportunidades que não foram concluídas por má execução/decisão - após a tentativa do Pinto fintar e oferecer a bola ao Higuaín se este opta pelo passe há um jogador do Real à marca de penalty sozinho, mas ele optou pelo remate directo. No primeiro lance do jogo, o Higuain falhou quando já marcou n golos daquele tipo, não havia nenhuma pressão. Tudo bem, após o 2-2 o Real só teve uma ocasiões de perigo e não oportunidades claras - remate do ronaldo no ar em vez de na bola, remate do ozil desviado pelo puyol, cabeceamento do ronaldo estorvado pelo pepe, obviamente que nenhuma destas é tão clara como a cabeçada do pedro perto do fim, mas se ele tem tido esse tipo de finalização na jogada do primeiro golo (oportunidade clara desperdiçada por má execução técnica), com o jogo a ir para o intervalo empatado, era um jogo totalmente diferente.
Lamento que não sejas capaz de admitir que o Guardiola estava todo cagado e sem muita confiança no modelo que tanto veneras (são vários os planos dele bastante angustiados) pois sabia que não tinha alternativa para uma cobertura eficaz do ozil e que com o ronaldo no meio e o benzema a descair, várias vezes o génio destes três podia dar origem á inversão do resultado, como se viu após o passe do coentrão para o benzema que terminou daquela forma "confusa" com o benzema lesionado.
Pior que isso, que não admitas que o busquets fez um jogo miserável, que foi antecipado várias vezes dando origem a contra-ataques do real e que já n
ao é a primeira vez que quando o mourinho leva a pressão para junto da área do barcelona lhe levante mais dificuldades na saída de bola e consequentemente na organização do jogo, visto que recuperando bolas mais à frente, menos adversários os jogadores do real tinham até à baliza. O jogo definiu-se nos pormenores, mas para ti nada disso, o Real não teve oportunidades claras de golo, daquelas que é só empurrar, pois não, mas mostrou ter jogadores que com o seu nível de excução não precisam disso (benzema, ozil, ronaldo). E para essa treta do Pinto, pergunto se para o campeonato o Valdés não meteu a bola nos pés do avançado do Real que deu origem ao golo ? Mais, já no jogo do campeonato, o Ronaldo teve as oportunidades claras que tu falas antes do intervalo e não fez o 2-0 porque esteve num dia mau. Lamento essa posição autista, que duvido que um gajo como o Guardiola a tenha e procure perceber como vai poder ultrapassar aquele tipo de pressão que por vezes o Real consegue colocar, e que sim, que entre os 30 e os 60 minutos, conseguiu contrariar sem grandes sustos. Quem acha que ninguém lhe causa dificuldades, dificilmente pode aprender a evoluir e se essa é a tua ideia, lamento ... A soberba dos comentários iniciais, essa nem me merece resposta, mas enfim o blog é teu, fazes o que entenderes

Nuno disse...

Bcool793 diz: "Nuno, sejamos verdadeiros, os 63 % de posse de bola foram no fim do jogo e não ao intervalo porque aí estava nos 58 %."

Não. 63% ao intervalo. 60% no final. E se, aos 65 minutos, tivesse sido medida, deveria andar nos 67%, pois os primeiros 20 minutos da segunda parte foram todos do Barcelona.

"Depois dizes que não teve oportunidades tão claras como as do barcelona ? A diferença foi na execução do higuain versus a do benzema."

Não, não foi. O Pedro tem espaço e tempo. O Higuain não teve. Vem embalado e tem de decidir muito mais rapidamente. É por estas e por outras que não se percebe que a eficácia não é o único critério para aferir a qualidade de um avançado. O Benzema nem sequer é um avançado que defina melhor os lances que o Higuain. Simplesmente, foi mais eficaz. Calhou. Já o Pedrito gozou de condições de que nenhum deles gozou. E isso faz toda a diferença. Já falei disto uma vez e posso voltar a dizê-lo. O Barcelona trabalha tanto as jogadas que as oportunidades que cria são, em norma, muito melhores, em termos de qualidade, do que as dos adversários. Poderia até dizer que preferem criar uma boa oportunidade de golo do que 3 ou 4 em condições deficitárias, como maior parte das oportunidades que o Real cria contra o Barcelona. E isso faz toda a diferença, a longo prazo. E depois não percebem por que é que o Real, mesmo criando mais oportunidades, não ganha o jogo. Aliás, não é a primeira vez que acontece o Real criar mais oportunidades e não ganhar.

"E a boça no barrote ? concedo que para ti um remate de tão longe, não é uma oportunidade clara como a do pedro, mas essa dependeu do erro que o arbeloa cometeu vindo para cima do pepe quando tal não se justificava."

A bola do Ozil tanto pode entrar como não entrar. É um remate prodigioso, e teria sido um grande golo. Evidentemente, não é uma oportunidade de golo a não ser na medida em que por pouco não era golo. Isto é, não é um lance que seja fruto da qualidade colectiva. É fruto de um momento individual, pura e simplesmente. E, por isso, imprevisto. Sobre o lance do Pedro, é muitíssimo redutor fazer dependê-lo do movimento do Arbeloa, que até foi correcto até um certo ponto. Eu elogiaria a forma como o Barça conseguiu atrair os médios do Real para criar espaço entre linhas e soltar o Messi nesse espaço. Isso é que foi decisivo. Mas as pessoas têm tendência a ver apenas as últimas coisas. A partir desse momento, há um espaço enorme. O Pepe opta por manter-se baixo, o que acho que fez bem até um certo ponto, mas depois demora a condicionar as opções ao Messi. Repara que, quando o Arbeloa decide atacar aquela zona, já o Messi tem o Fabregas e o Pedro em boa posição. O Arbeloa vai ali porque o Pepe não vai, como deveria ter ido mais cedo, não para desarmar o Messi, mas para obrigá-lo a soltar ou para o Fabregas ou para o Pedro, mas ainda com a protecção do Arbeloa. Agora, o lance nasce porque o Barcelona trabalhou-o bem numa primeira fase. E isso é que é importante reter, porque faz toda a diferença, e porque é uma coisa que o Real não faz, por norma.

"A questão é que até à lesão do Iniesta, o Barça não conseguia fazer o seu jogo em posse."

Isso é falso. Aconteceu até aos 12/15 minutos. E não é a primeira vez. Tem a ver com a entrada forte em pressão do Real, e que nunca dura, nem pode durar, mais do que isso.

"E a pressão alta do Real dava origem às perdas de bola do Barça"

Mais uma coisa que não é verdade. O Real recuperou algumas bolas fruto dessa pressão, mas a maior parte dos lances de perigo que criou foram mais resultado de falhas individuais do que da pressão alta que fizeram (a falha do Piqué e o lance do Pinto, por exemplo).

Nuno disse...

"se ele tem tido esse tipo de finalização na jogada do primeiro golo (oportunidade clara desperdiçada por má execução técnica), com o jogo a ir para o intervalo empatado, era um jogo totalmente diferente"

Claro que era. Mas, mais uma vez, não é certo que isso fosse melhor para o Real. O Barcelona iria entrar com os índices de concentração mais altos, não tão relaxado por o resultado não lhe ser tão favorável, e se calhar aqueles 2 golos não apareciam. Uma coisa de que raramente se lembram é de que é difícil aos catalães, estando com 3 golos de vantagem na eliminatória, não baixar os indíces de concentração. Se calhar, para o desfecho do jogo, até foi bom ao Real ter sofrido 2 golos na primeira parte.

"Lamento que não sejas capaz de admitir que o Guardiola estava todo cagado e sem muita confiança no modelo que tanto veneras"

Lamento que delires. O Guardiola deve ter dito o que disse no fim do jogo precisamente para te responder a ti.

"Pior que isso, que não admitas que o busquets fez um jogo miserável"

Pá, que parvoíce!! Miserável sei quem é!

"E para essa treta do Pinto, pergunto se para o campeonato o Valdés não meteu a bola nos pés do avançado do Real que deu origem ao golo ?"

Sim. Mas no caso do Valdés é uma excepção. Não me digas que queres mesmo comparar a qualidade de um com a do outro?

"já no jogo do campeonato, o Ronaldo teve as oportunidades claras que tu falas antes do intervalo e não fez o 2-0 porque esteve num dia mau."

Isso não é verdade. Teve uma oportunidade à entrada da área, e com o Abidal a aproximar-se. Rematou mal precisamente porque quis decidir rápido e porque o remate tinha de levar alguma força. Não é sequer prima da oportunidade do Pedro.

"Lamento essa posição autista, que duvido que um gajo como o Guardiola a tenha e procure perceber como vai poder ultrapassar aquele tipo de pressão que por vezes o Real consegue colocar"

Bcool, tu é que ainda não percebeste, mas o Guardiola já pensou nisso. Aliás, já o pôs em prática. E, adivinha, eu falei disso no início da época, e acertei. Como podes ver, o meu autismo é tanto quanto o do Guardiola. Refiro-me ao 3-4-3 em que a equipa passou a jogar esta época. Disse no inicio do ano que uma das razões para Guardiola ter preparado a equipa para jogar dessa forma era precisamente para contrariar a pressão alta nos jogos com o Real. E, adivinha lá, no jogo do campeonato o Barça começou precisamente em 3-4-3, e precisamente para contrariar essa pressão alta. Não o fez na primeira mão da taça porque o Real apresentou uma estratégia diferente, e não o fez ontem porque não imaginou que o Real voltasse à estratégia de antes.

Nuno disse...

De resto, Bcool, sou muitas vezes acusado de me enganar nas previsões que faço. O que acho engraçado, nessas acusações, é não se referir que mais ninguém arrisca o que eu arrisco, em prever o que prevejo. E acho engraçado, também, não se referir aquilo em que acerto, que me parece muito mais extraordinário. Ora bem, no dia em que o Real venceu a taça do Rei, o ano passado, escrevi isto:

"Mourinho ganhou, mas as probabilidades de êxito mantiveram-se inalteráveis. Ganhou um jogo porque nem sempre o melhor ganha, porque nem sempre quem tem mais probabilidade de ganhar o consegue. O Barcelona manteve-se fiel a si mesmo, manteve a bitola elevada e manteve a convicção de que mais vale criar poucas oportunidades, desde que boas, do que muitas oportunidades em condições de finalização deficientes. (...) A probabilidade de vitória, porém, continua a pender para os catalães, porque o futebol que praticam está menos dependente de circunstâncias alheias a si mesmo."

Na altura em que mais pessoas louvavam o Real, na altura em que todos acreditavam que o Real tinha finalmente chegado ao nível do Barcelona, eu disse que as probabilidades de vitória continuavam iguais, que o Barça iria ganhar sempre mais jogos ao Real. De lá para cá, houve 2 jogos para a Liga dos Campeões, 2 jogos para a Supertaça de Espanha, 1 jogo para o Campeonato no Bernabéu, e 2 jogos para a Taça do Rei. Em 7 jogos, o Real nunca ganhou ao Barça, perdeu 2 vezes em casa, e foi eliminado 3 vezes. O que te estou a dizer agora é que não te entusiasmes muito. Nada mudou significativamente. Jogos menos bons acontecem. É natural que assim seja. É natural que, uma vez ou outra, o Real consiga superar este Barça. Mas, a menos que mude muita coisa, que ainda não mudou, a diferença entre as 2 equipas mantém-se, e o Barça continua a reunir maiores probabilidades de êxito. Por isso, se há alguém autista nesta história toda, esse alguém é aquele que prefere ignorar 7 jogos de humilhação, apoiar as suas expectativas num único jogo, e ainda imaginar que esse jogo foi melhor do que realmente foi.

Unknown disse...

Sobre previsões não comento, acho normal que as faças e te possas eenganar pois não estás na cabeça dos treinadores. A questão está em que por um lado esqueces-te dos factores motivacionais, da qualidade individual, ou então subvalorizas esses aspectos em relação ao modelo. Concedo sem dificuldades que os resultados apoiam-te. agora a minha previsão é esta, com base no seguinte, acho que até agora o madrid sempre se sentiu inferiorizado pelo domínio por vezes avassalador do barça, em especial depois do 5-0 ou dum 4-1, já nem me lembro qual foi a deblacle que originou o bloqueio mental dos jogadores do real, e como acho que este jogo serviu para quebrar isso em termos psicológicos, duvido que essa vantagem que consideras que o barça tem, se mostre tão evidente no futuro, essa é a minha previsão. Podes argumentar que é o meu desejo e não está sustentado em mudanças de paradigma do futebol do mourinho. A única coisa que acho que mina o bom trabalho feito, foi a lamentável cena depois do jogo com o árbitro, pois transmite a mensagem errada para dentro do grupo.
quanto ao arbeloa tem que aguentar a posição tanto mais que tem o pedro a surgir da ponta e o cesc a derivar para o lado dele, além de que o pepe, apesar de atrasado, começa a fazer-se ao lance quando o arbeloa inicia a movimentação.
Não sei se reparaste, mas o cristiano baixou muitas vezes para junto do fábio para apoiar nas entradas do alexis e/ou messi, mostrando que há trabalho de adaptação do mourinho às mudanças tácticas do pep este ano com a entrada do alexis.
O problema do Real passa pela necessidade de ter jogadores madridistas/espanhóis como o sérgio ramos que a sair da posição parece o david luiz, e o xabi alonso, que nunca percebi da utilidade dele. Além de não ter resolvido a questão do lateral direito.
Os erros que tu apontas ao Pinto, Puyol, Piqué e Abidal, surgiram na maioria das vezes da pressão imediata dos jogadores. A falha do Pinto é por não ter linhas para passar de primeira e ficar sem tempo para saber sair a jogar.
O blog que te inspira só conseguiu ver o famoso jogo de tabelas sucessivas aos 31 e 34 minutos de jogo, porém parece-me que conseguiste ver 15 minutos antes, parabéns ...
O ponto fraco do barcelona são as faixas laterais defensivas, pois o alves só parou o cristiano à base do pau e o ozil fez o que quis do abidal quando descaíu para a direita. a diferença é que com um di Maria em campo que não é tão inteligente como o Ozil perder-se-ia criatividade e outras soluções que um extremo como o argentino ofereceria.
Quanto ao busquets mantenho a opinião que se fartou de perder bolas, em especial quando o real começou a pressionar mais evitando que ele tivesse as linhas de passe abertas retirando-lhe qualquer eficácia, pois ao contrário do xavi ou o iniesta que sabem transportar a bola com qualidade quando é necessário, ele não o faz e deu origem a vários contra-ataques do real.
Quanto à questão das oportunidades não posso concordar contigo embora entenda que para pedros, abidais, busquets e outros seja preferível uma bola para empurrar para o golo. O que define o talento do messi, do ronalo ou do ozil é a capacidade que têm de criar oportunidades de onde não são através da excelência da execução no remate. E como tal não precisam de ter só oportunidades de empurrar, ou criam o desequilíbrio ou aproveitam o desequilíbrio criado e transformam um jogada de perigo num golo. No jogo do campeonato o Ronaldo teve 2 boas ocasiões em que a finalização foi má, quando noutros casos já foi boa.
Nuno, apresentas a perfeição do modelo como determinismo para futuras vitórias do barcelona sobre o real, com excepção de 1 ou outra ocasião em que o talento ou a sorte se sobreponham. Eu acredito que sem bloqueios mentais, o talento tem todas as condições para dar ao Mourinho vitórias sobre o Guardiola, saiba ele não se deixar enredar nos esquemas que aprendeu nas antas e procure explicar aos jogadores a origem das derrotas segundo o modelo dele.

Unknown disse...

A terminar, não há modelo táctico perfeito e que dure para sempre, este tal como os outros do passado daqui a alguns anos também não passará apenas de um modelo que em tempos deu frutos, acredita também nessa previsão.

Só por curiosidade Nuno, achas que o Jesus está a tentar implementar no Benfica o conceito do Guardiola, com um jogo mais em posse e menos em transição e com uma saída de bola pelo chão em 3-4-3 ?

Nuno disse...

Não, acho que não. Ou se o está, não o está a fazer bem. Em primeiro lugar, não há 3-4-3 no Benfica. Há, na saída de bola, os centrais a abrir e o Javi a descer para o meio deles, formando uma linha de 3. Isto já o Benfica de Jesus fazia no primeiro ano, embora não tantas vezes e não de forma tão pronunciada. E isto o Barcelona de Guardiola também faz, em 4-3-3. Mas isto não tem nada a ver com o 3-4-3 de Guardiola, rigorosamente nada. De qualquer modo, na saída de bola, o Benfica privilegia a saída pelos centrais, com recuo do médio. Mas o jogo em posse não se extingue aí. Aliás, há muitas equipas que fazem isto, e que depois têm um jogo em posse fraco. O exemplo mais claro é o Porto do Vítor Pereira. Continuou a sair da mesma forma que antes, mas o que se passa na segunda fase de construção é muito diferente do que era com Villas-Boas. Quanto ao Benfica, a principal diferença, este ano, parece-me ter a ver com a tentativa de controlar o jogo em termos de ritmo. Não há tanta verticalização e tantas correrias, há mais lateralização e mais contemporização. Daí as opções sistemáticas em Witsel e Bruno César, por exemplo. Mas a qualidade em posse do Benfica não é óptima, sobretudo no último terço do terreno. E é aí, a meu ver, que aquilo que o Barcelona de Guardiola faz é menos compreendido por aqueles que o tentam imitar. A única equipa que vi capaz de jogar no último terço do terreno como o Barcelona de Guardiola, pelo menos de forma sistemática, foi o Arsenal do Wenger. E isso tem a ver com aquilo que se privilegia nessa zona, com o toque curto, com a tabela constante, com o passe inconsequente, com o uso da bola como engodo, com a movimentação interior sem bola, etc. A maior parte das equipas replica um ou outro processo (normalmente, o abaixamento dos extremos, ou a movimentação vertical dos médios), mas não replicam a grande maioria, e sobretudo não replicam os mais importantes. Para mim, o principal segredo deste Barcelona são aquelas rabias inconsequentes que às vezes se põe a dar, em qualquer zona do campo. Aquilo parece apenas bonito, mas é a raiz de tudo o que fazem depois. Porque ao saber fazer aquilo, sabem fazer tudo o que é importante para o modo como jogam. E é isso que pouca gente compreende.

Nuno disse...

Sobre a inspiração do Paradigma Guardiola, duas coisas. 1) Quando conheci o Paradigma Guardiola, já conhecia e tinha opiniões muito firmes sobre o Barcelona de Guardiola. E quando conheci o Barcelona de Guardiola, já tinha opiniões muito firmes sobre o modelo de jogo que mais me agradava. Este Barcelona não foi uma novidade, para mim. Foi, sim, a confirmação prática de um ideal teórico que já antes concebera. 2) O Matías não é tão assertivo como tu a dizer que o jogo de tabelas sucessivas falhou até essa altura. Eu também não disse que o Barça conseguiu fazer aquilo que fez nessas 2 jogadas antes. O que disse foi que conseguiu começar a soltar-se, que conseguiu contornar a pressão do Real por volta dos 15 minutos. Depois, com o tempo, começou a fazer coisas cada vez melhores. Até que, aos 30 minutos, começou a conseguir brincar com eles no meio-campo deles. Na segunda parte, então, ainda foi mais evidente. É também essa evolução, que não aconteceu de súbito, que explica por que razão considero que o primeiro golo do Barcelona apareceu naturalmente. Essas 2 jogadas não caíram do céu, nem apareceram após 30 minutos de total inoperância da equipa. Foram o culminar de uma estabilização emocional e táctica que começou, como disse, por volta dos 15 minutos, altura em que a pressão do Real deixou de ser tão eficaz.

Unknown disse...

Então nesse caso deduzo que o 442 losango que o Jesus testou com o Nolito, Saviola e Aimar é o que mais se aproxima, pois é o que usa os jogadores que melhor fazem isso, mas compreendo o que dizes de ser em qualquer parte do campo com qualquer dos jogadores que se incorporam no movimento ofensivo. O Porto do VP parece-me demasiado atabalhoado e sem saber o que fazem na zona de construção deixando mais à capacidade de decisão do hulk e do james do que qualquer outra solução.

Unknown disse...

Lapso meu obviamente sobre o paradigma guardiola. Então reconheces que a forma como se aborda o jogo e a capacidade emocional pode desestabilizar o melhor dos sistemas e que se o resultado mexer em consequência disso, pode o jogo mudar completamente e que as soluções que antes pareciam perfeitas podem não dar a resposta necessária? Tanto que o Guardiola optou pela entrada do Mascherano para o lugar do Alexis para tentar evitar que a pressão do Madrid no meio campo sufocasse o Busquets e que a entrada dele lhes voltou a dar a superioridade nessa zona que ~perdeu com o efeito dos 2 golos do Madrid.