quarta-feira, 28 de julho de 2010

Beware the Jabberwocky

Tal como na edição anterior da Liga dos Campeões, ficará mais para a História uma das meias-finais do que propriamente a final da prova, neste caso, a eliminatória que opunha Barcelona a Inter de Milão. A esmagadora maioria das pessoas, após o apito final que carimbou a passagem do Inter, em pleno Camp Nou, à final de Madrid, não teve dúvidas: o Inter era um justo finalista. Creio, porém, que muitas destas opiniões estão viciadas por animosidades próprias. Só assim se explica o favorecimento tão vincado a uma equipa que, na segunda mão, só defendeu e, por pouco, por muito pouco, não foi eliminada. Que o Inter passou e que faz parte do futebol equipas que só defendem passarem, tudo bem. Que tenha merecido, incontestavelmente, essa passagem, é que me parece francamente duvidoso. Afinal, de um modo muito parecido, foi assim que a Grécia de Otto Rehhagel se sagrou campeã da Europa em 2004, e na altura não só a maioria das opiniões afirmava que a Grécia não merecera ganhar, como a própria balança das opiniões estava bem mais equilibrada. Enfim, do meu ponto de vista, isto só se explica porque o Barcelona de Guardiola incomodava, de maneiras diferentes, grande parte dos que vêem futebol.

Entre aqueles que defendem que o Inter foi um justo vencedor, haverá certamente simpatizantes incondicionais de José Mourinho. Este é o modo mais comum de se observarem factos errados e de se terem opiniões não fundamentadas e é muito parecido, em abono da verdade, com o sentimento de clubismo que tolda a visão a tanta gente. Em minha defesa, e para que não suscite precisamente o argumento contrário, quero deixar claro que o meu apoio ao Barcelona de Guardiola não é incondicional e que, caso o Barcelona não tivesse jogado bem, ou pelo menos o suficiente para merecer passar, não estaria aqui a defendê-lo. Não há, por isso, simpatia excessiva por uma das equipas a dificultar a observação objectiva do que se passou. No ano passado, com o Chelsea, o Barcelona jogou bem pior e teria aceitado muito mais facilmente a sua eliminação, embora o jogo da primeira mão fizesse com que merecesse, ainda assim, a passagem. Mas este ano o Barcelona, não tendo feito um jogo brilhante, fez o suficiente para marcar os dois golos de que precisava e só a sorte protegeu o Inter. Como tal, é-me até difícil perceber o argumento dos que dizem que Mourinho deu uma lição táctica em Camp Nou, quando na verdade perdeu o desafio, por pouco não era eliminado e só passou por causa da primeira mão.

Tirando estes, tirando também os que não suportam o próprio Barcelona, e tirando talvez ainda os que, convencidos de que o Barcelona fora ajudado na época passada (o que no fundo é uma mentira grosseira que maior parte das pessoas decidiu perpetuar), só consigo perceber tamanha posição por aquilo a que, em tempos, designei como um certo medo do desconhecido. É sobre isso que quero falar, pois é sobre isso que acho que se deve falar nesta altura. Os comentários imbecis acerca do que se passou em Camp Nou continuam a circular e criou-se agora uma tendência ignominiosa de vilipendiar e rebaixar o trabalho de Guardiola. Fala-se em Chygrinsky, como se algum dia tivesse sido expectativa de alguém o ucraniano ir para Barcelona para ser central de caras, esquecendo-se, por exemplo, que em sentido contrário ninguém esperava nada de Piqué e agora é, muito provavelmente, o melhor do mundo no seu posto; fala-se na época menos conseguida de Ibrahimovic, como se o sueco algum dia se tivesse evidenciado por ser um goleador extraordinário e como se o Barcelona não tivesse lucrado, em termos de jogo, com a presença deste; fala-se da ingenuidade de Guardiola, que não foi perspicaz estrategicamente, como se a insistência nas suas ideias não fosse a principal razão para o Barcelona ser a melhor equipa de todos os tempos e para que tivesse ganho tudo o que ganhou. Subjaz, a todas estas críticas, uma só coisa: o Barcelona transformou-se num monstro e, para o ser humano comum, que não compreende senão o que tem diante dos olhos, todo o monstro incompreensível tem de morrer, sob pena de nos deixar sem saber o que fazer com a sua presença.

É isto que é, para 99% das pessoas, esta equipa. Reconhecem a sua grandeza, mas ainda assim desejam intimamente a sua queda. Respeitam-na por medo e não por reconhecerem nela a grandeza humana que lhe está por trás. Admitem a sua força, mas torcem para que um herói qualquer, humano como eles, embriagado de uma humanidade que possam compreender e suportar, a liquide. Faz parte da pequenez humana, e fez sempre, estar contra os que estão para além da mediania; é parte integrante da vida comunitária a repressão da singularidade, o conduzir ao desterro os mais brilhantes. O Barcelona, para o mundo do futebol, é um monstro que tem de ser derrotado pela simples razão de que lhe lembra a mediocridade própria. É esta e não outra a principal causa de tanta exaltação com o insucesso europeu de Guardiola. O Barcelona ofuscou de tal modo o passado futebolístico que o precedeu que criou à sua volta uma aura que, para aqueles que habitam o mesmo tempo, se tornou insuportável. Por não compreender nem poder irmanar aquilo que é este Barcelona, o resto do mundo sentiu nesta equipa uma ameaça à sua existência medíocre. Todas as hostilidades que se seguiram à eliminação catalã são somente a activação do instinto de auto-preservação de uma espécie que, sentindo correr perigo de vida, viu neste acontecimento a oportunidade ideal para espezinhar definitivamente o predador que temiam.

O futebol é, a meu ver, uma das coisas que melhor representa a evolução civilizacional a que se chegou, ainda que, naturalmente, conserve em si instintos primitivos evidentes. No entanto, é no próprio futebol e neste caso em específico que o ser humano demonstra que, apesar dos 3000 anos de civilização, continua, na sua raiz, uma espécie animal conservadora e estúpida, uma espécie bárbara que, apesar de viver em comunidade, ter leis, andar vestida e ter inventado a linguagem, permanece mais próxima dos mamutes do que do ideal de uma civilização avançada. Somos uma espécie que precisa de se saber segura, que precisa de aniquilar o que é do domínio do misterioso, que precisa de saber palpáveis todos os cantos do mundo. Temos medo de monstros e só estamos bem quando expulsamos do nosso círculo de gente gorda e que procria esses monstros que não compreendemos. Ora, é precisamente sobre isso que versa "Jabberwocky", o célebre poema contido em Through the Looking Glass, o segundo livro das aventuras de Alice no país das maravilhas:

JABBERWOCKY

'Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe;
All mimsy were the borogoves,
and the mome raths outgrabe.

'Beware the Jabberwocky, my son!
the jaws that bite, the claws that catch!
Beware the Jujub bird, and shun
the frumious Bandersnatch!'

He took his vorpal sword in hand:
Long time the manxome foe he sought -
So rested he by the Tumtum tree,
and stood awhile in thought.

And as in uffish thought he stood,
The Jabberwock, with eyes of flame,
Came whiffling through the tulgey wood,
and burbled as it came!

One, two! One, two! And through and through
the vorpal blade went snicker-snack!
He left it dead, and with its head
he went galumping back.

'And hast thou slain the Jabberwock?
Come to my arms, my beamish boy!
O frabjous day! Callooh! Callay!'
He chortled in his joy.

'Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe;
All mimsy were the borogoves,
and the mome raths outgrabe.

Em nenhuma parte do poema se diz o que é o Jabberwocky e grande parte das palavras que o compõem não existe. Não é possível inferir do poema senão que existe algo que se chama Jabberwocky, que tem mandíbulas que mordem, garras que agarram e olhos flamejantes. Ainda assim, a presunção é de que se trata de um ser hostil, com o qual tem de se ter cuidado e que é preciso matar. Não é incomum, em adaptações para cinema dos livros de Lewis Carroll, que o Jabberwocky, ainda que não tenha existência nas aventuras de Alice e que seja apenas esta figura difícil de descrever que só aparece num poema dentro dessas mesmas aventuras, apareça como um dragão horrendo, um bicho medonho e o ser mais malévolo do País das Maravilhas. O Jabberwocky, como se pode comprovar pelo poema, não é nada disto. É a interpretação excessiva e errada das pessoas que transforma mandíbulas, garras e olhos em dragões, que pega em dois ou três pormenores de algo que desconhece para construir uma imagem que lhe é familiar.

O Barcelona de Guardiola é o Jabberwocky e o mundo que não o compreende é o pai que adverte o filho para que tenha cuidado com ele. Como não o compreende, teme-o e não pretende senão matá-lo com uma "espada vorpal". Depois de morta a besta, resta ao ser humano que matou o conforto dos braços do pai, o que mais não é que a consolação de reconhecer que sobreviveu mais um dia. A pequenez do mundo, que se regozijou com a derrota dos catalães, pôde assim, com tal derrota, preservar a sua existência e, por conseguinte, a sua pequenez, isto é, a sua própria essência. Tal como qualquer espécie ameaçada, os cânticos de glória em torno do monstro caído mais não são que o testemunho da própria estupidez de uma espécie que não compreende outra espécie e tem, por instinto e não por racionalidade, a conservação dos seus hábitos estúpidos e a intolerância dos hábitos dos outros. Os seres humanos raquíticos e pobres de espírito que agora saltam eufóricos em cima do corpo do monstro, cantando e bebendo alacremente, são só os justos descendentes da torpe seita humana que, no passado, fez o mesmo com espécies diferentes das suas, raças diferentes das suas e famílias diferentes das suas. Trata-se do reflexo inequívoco do mais interiorizado vício humano: a intolerância com a diferença. E o que preside a essa intolerância é a incompreensão, filha primogénita da estupidez, mãe de todos males humanos.

O futebol do Barcelona (assim como, em parte, o futebol apresentado pela Espanha campeã do mundo) não é só mais um estilo de futebol. Trata-se de uma evolução conceptual, com diversas inovações que rompem com o passado. O futebol de toque curto, para o lado e para trás, privilegiando a posse de bola acima de tudo, é talvez a imagem de marca desse futebol. Não é a única característica extraordinária deste modo de jogar, mas é o mais desconcertante. A aparente inconsequência, em muitos momentos, dessa circulação, é uma absoluta novidade. Nunca a inconsequência fora vista como uma virtude. Para os que não conseguem pensar por si e que estipulam verdades de acordo com o que conhecem, um futebol que assenta, em parte, na inconsequência, é alvo de suspeição. É por isso que o "tiki-taka" não é unânime. Para muitos, é demasiado elaborado e escapa ao princípio máximo do jogo, que devia ser o ataque constante. No fundo, são as mesmas pessoas que não conseguem perceber que no futebol há mais do que o objectivo do golo que não percebem a utilidade da "inconsequência" desse tipo de futebol. O mesmo se poderia dizer em relação aos poucos remates, aos poucos passes longos, ao abdicar dos momentos de transição, etc. O comum mortal acha que o futebol é um conjunto fixo de ideias e, por achar isso, não é capaz de compreender o quão revolucionária é a filosofia do Barcelona de Guardiola. Por não a compreender, intuindo-lhe porém a força, teme-a. E por temê-la, na sua pequenez e na sua impotência, só pode regozijar-se com a sua queda.

P.S. O Barcelona não ganhará sempre. A Espanha não ganhará sempre. Mas é notável que o modelo de Guardiola e o tipo de jogador ideal para o futebol de toque curto, rendilhado, baseado na técnica e na inteligência, tenham ganho o que ganhou o Barcelona em 2009 e tudo a nível de selecções nos últimos três anos. Há muito tempo que uma ideia tão clara sobre o jogo não se elevava acima de tudo o resto com tanta supremacia e que não assustava tanto o mundo. Está feita a revolução. Antecipa-se o futuro da modalidade, como de resto, muito antes da clara demonstração de força dos últimos três anos, já o Entre Dez apregoava.

21 comentários:

Jorge Faria disse...

Boas

Primeiro parabéns pelo blog, que vou acompanhado e até acho que já comentei algures...

Quanto ao Barça-Inter, eu sou dos que defendem que o Inter mereceu passar.
Digo-o por várias razões, além de admirador de Mourinho, sendo-o também de Guardiola e outros, vimos que o Inter soube e conseguiu adaptar-se ás circunstâncias, o barça não. De uma equipa que necessitava de marcar, pelo menos, 2 golos esperava-se mais que 4 remates enquadrados com a baliza.
Quanto a mim o Inter fez o que lhe competia sabendo que tinha alguma margem de erro e que podia até conseguir resolver a eliminatória numa possível transição defesa-ataque, sendo certo que cedo viu esfumar-se essa parte da estratégia pela expulsão... restava-lhe jogar com a margem de erro disponível.

Não sei até que ponto se inaugura uma nova era no futebol. Achamos, por enquanto, o futebol do Barcelona e da selecção espanhola fantásticos mas, julgo que em pouco tempo, vamos usar a mesma critica que usamos para definir a selecção portuguesa, "tem um futebol muito bonito, o problema é existirem balizas".
Como o futebol é jogado por duas equipas e, pelo menos ao mais alto nível, os resultados ditam o futuro dos agentes desportivos não vejo equipas menos fortes a jogarem de igual para igual com Barcelona e afins, logo logo estaremos a apelidar os jogos de monótonos, de terem um só sentido... afinal o que já acontece em jogos muito equilibrados onde pequenos pormenores tácticos são decisivos. Futebol é emoção e ver uma equipa com a bola sem conseguir finalizar e outra sem bola apenas à espera que o tempo passe não me parece lá muito emocionante...

Como treinador de futebol de formação agrada-me o conceito, tento treinar a minha equipa para saber o que fazer com e sem a bola. Agora, tenho a noção que ás vezes terei de ser o rato e precaver-me por o adversário ser mais forte, outras serei o gato e tentar entrar no esconderijo do rato por muito fechado e protegido que esteja. Com qualidade de jogo, espero.

blog disse...

Este estilo até pode ser uma evolução, mas é um pouco chato (parece mais andebol do que futebol, e até há quem defenda um limite de tempo para se rematar à baliza)

Nuno disse...

blog, é chato para quem a liga inglesa é a melhor liga. Esses não estão interessados em futebol; estão interessados em emoções fortes. Este futebol é pura e simplesmente o melhor que pode haver. E isso, por definição, é o contrário de chato. Este futebol é, portanto, chato como a música de Beethoven é chata, é chato para quem só se satisfaz com música rock e com emoções fortes. Como toda a arte, o futebol não serve para suscitar emoções fortes.

Se parece andebol, tem sobretudo a ver com a atitude do adversário, que não procura contrariar a posse do adversário e prefere fechar-se à frente da sua área.

Quanto à ideia de tempo limite para se rematar à baliza, é um perfeito disparate. Em futebol, qualquer lei de jogo passivo é um disparate. Há que perceber que, em certas modalidades, esse tipo de lei faz sentido, mas que no futebol não faz. No basket, por exemplo, faz sentido que quem ataca tenha um limite de tempo para atirar ao cesto. No Hóquei, faz sentido que a equipa não possa regressar ao seu campo depois de ultrapassado o meio-campo; no andebol, faz sentido que a equipa que ataca possa ser punida com a perda de bola se denotar pouca vontade de procurar soluções de remate. No futebol não faz. Aliás, por alguma razão, nem no futsal, que se joga com medidas parecidas com esses desportos, há leis para jogo passivo. Tem a ver com a natureza do jogo em si. Em basket, andebol ou hóquei, é fácil preservar a posse de bola e, sem esse tipo de leis, seria muito fácil queimar tempo preservando a posse de bola. Em futebol, essencialmente porque é jogado com os pés e não com as mãos, não existe essa facilidade. Para preservar a posse de bola, há que ter imensa perícia. Por isso é que a posse e circulação de bola, em futebol, é algo tão fascinante. Porque não é fácil de fazer. A posse e circulação de bola em andebol ou em Basket não requer grande perícia, portanto não é muito interessante. Em futebol requer. É por isso que uma equipa que é perfeita a circular a bola nunca pode oferecer jogos chatos. A qualidade do jogo é equivalente à capacidade que a equipa tem para preservar a posse de bola. Quem defende um tempo limite para rematar à baliza não só não percebe nada de futebol, como não gosta sequer do jogo.

João D. disse...

Antes de mais curioso paralelismo entre o tal medo do barcelona e literatura, neste caso a alice. não via nenhum outro blog para além do vosso a fazê-lo, pelo menos dos blogs que conheço.

de qualquer forma acho que o problema maior de muita gente não gostar do barça é o facto do barça ganhar. muito mais que ofuscar passado do futebol, ou criar novos caminhos para o jogo, o problema maior é a vitória. Se o barça não tivesse ganho o triplete estava-se tudo a marimbar. mas nós não gostamos de quem ganha, porque não nos conseguimos identificar com eles. eu próprio tenho muito mais identificação com os losers, ou os underdogs de qualquer desporto - o futebol também pode ser o reflexo da vida de cada um e genericamente ninguém gosta de quem ganha: jogue um futebol estratosférico, jogue um futebol à grécia de 2004.

quanto ao futebol em si, não nego que a vertente emoção me faz mais ver um jogo que a táctica, ou o modelo implementado ou a forma de circulação de bola. e nisso o futebol inglês é de facto pródigo, bem como a mística implementada pelos seus adeptos e o facto de toda a gente ser do clube da terra, ponto final. aliás acho que o grande problema do futebol em portugal é mesmo esse: ninguém é do leiria, ou da naval, ou do paços do ferreira ou do olhanense. è tudo do clube da terra mais do benfica sporting e porto. e essa condensação de adeptos em 3 clubes é o que obviamente desequilibra o nosso campeonato.

abraços e cumprimentos.

João D. disse...

Antes de mais curioso paralelismo entre o tal medo do barcelona e literatura, neste caso a alice. não via nenhum outro blog para além do vosso a fazê-lo, pelo menos dos blogs que conheço.

de qualquer forma acho que o problema maior de muita gente não gostar do barça é o facto do barça ganhar. muito mais que ofuscar passado do futebol, ou criar novos caminhos para o jogo, o problema maior é a vitória. Se o barça não tivesse ganho o triplete estava-se tudo a marimbar. mas nós não gostamos de quem ganha, porque não nos conseguimos identificar com eles. eu próprio tenho muito mais identificação com os losers, ou os underdogs de qualquer desporto - o futebol também pode ser o reflexo da vida de cada um e genericamente ninguém gosta de quem ganha: jogue um futebol estratosférico, jogue um futebol à grécia de 2004.

quanto ao futebol em si, não nego que a vertente emoção me faz mais ver um jogo que a táctica, ou o modelo implementado ou a forma de circulação de bola. e nisso o futebol inglês é de facto pródigo, bem como a mística implementada pelos seus adeptos e o facto de toda a gente ser do clube da terra, ponto final. aliás acho que o grande problema do futebol em portugal é mesmo esse: ninguém é do leiria, ou da naval, ou do paços do ferreira ou do olhanense. è tudo do clube da terra mais do benfica sporting e porto. e essa condensação de adeptos em 3 clubes é o que obviamente desequilibra o nosso campeonato.

abraços e cumprimentos.

Luis disse...

Desde já parabéns pelo texto, está muito interessante e vem confirmar a vossa "carolíce" em dedicar muito tempo numa actividade bloguista que nada vos dá senão, seguramente, muito gozo.
Venho lendo os vossos posts com bastante atenção e já há bastante tempo. Confesso que aprendi muito mais convosco acerca de futebol do que nas horas perdidas a ver programas televisivos com comentadores mediocres que só nos dizem aquilo que queremos ouvir.
Obrigado pela vossa dedicação, coragem e inflexibilidade de ideias, nomeadamente na questão do futebol do Barcelona. Guardiola é sem dúvida um revolucionário e é preciso abrirmos a mente para aceitarmos e conhecermos pouco a pouco este Jabberwocky.
A nossa vizinha Espanha vem dando a conhecer aos seus jovens jogadores este Jabberwocky e colhe agora os primeiros frutos.
Nesta nova época vou torcer fervorosamente pelo Barcelona e pelo Jabberwocky principalmente porque o Real Madrid continua primitivo e contratou para treinador aquele considera ser o melhor caçador de Jabberwockys do mundo. Tenho no entanto a esperança que o caçador continue astuto como sempre e se converta ao futebol do Jabberwocky, embora acreditar nisso talvez seja demasiado optimista da minha parte... O mais certo é a Catalunha continuar a esticar o dedo a toda a Espanha e a todo o mundo e seguramente que vocês no Entre Dez estarão cá para iluminar-nos o caminho.
Abraço e obrigado!

Batalheiro disse...

Ó não! Ó não! Nuno...o que foste fazer? Esse comentário acerca de "música rock" é para mim insuportável! Mas o que é "música rock"? Senão o filho mais novo dos "blues" que são todas as músicas tradicionais elevadas ao expoente máximo pela cultura ocidental.

Primo afastado do Jazz, primo direito do country e descendente da Folk. Ah! E inimigo mortal da "pop".

Estou a brincar contigo, compreendo a comparação com Beethoven, e ilustra bem a argumentação que estavas a fazer. Mas a dicotomia entre música clássica e música popular é mais construção artificial do que realidade. A realidade é mais complexa (vide a música "Kashmir" dos Led Zeppelin para se ter um exemplo perfeito de uma obra de arte maior).

Em relação ao texto, fantástico, dos melhores que li aqui. Mais ambicioso em termos de escrita do que é habitual...parabéns!

Fez-me lembrar algumas coisas que li aqui: http://www.runofplay.com/

Keep up the good work!

Jedi Master Atomic disse...

Eu sou apoiante de Mourinho e quero sempre que as suas equipas ganhem, tal como sou apoiante do Ronaldo. Por acaso este ano juntam-se os 2 na mesma equipa.

Sou apoiante do futebol do Barça e não o acho nada chato. É bonito de se ver e muito dificil de executar.

Dito isto, continuo a achar a passagem do Inter mais porque as eliminatorias jogam-se em 2 mãos. O Barça foi superior na 2ª mas foi pior na 1ª. O Inter conseguiu meter no bolso o futebol rendilhado do Barça. Na 2ª mão limitou-se a gerir, sendo que, depois da expulsão a tarefa ficou muito mais dificultada, mas não posso tirar mérito do que fizeram, que foi anular de forma brilhante o futebol do Barça. Defender bem também faz parte do futebol, apesar de nos irritar profundamente quando as equipas se fecham contra nós.

Jedi Master Atomic disse...

continuo a achar a passagem do Inter mais justa*

blog disse...

Depois de marcar contra Portugal, a Selecção espanhola começou a trocar a bola como se fosse um "meiinho".

Não foi nada bonito. Parecia um jogo de amadores (apesar de haver muito demérito da selecção Portuguesa).

Logo faria algum sentido haver um limite de tempo para motivar o futebol ofensivo

Nuno disse...

blog, depois da Espanha marcar, era a Portugal que competia subir as linhas e pressionar mais alto. Mas Portugal nunca quis fazer isso e, sendo assim, a Espanha limitou-se a trocar a bola em zonas onde a pressão portuguesa não era eficaz, embora não tenha sido tanto assim e os espanhóis ainda tenham usufruído de oportunidades para ampliar a vantagem. Estando a ganhar, fizeram o que tinham de fazer. Se Portugal tivesse outra atitude, a Espanha não se limitaria a trocar a bola. Daí que a responsabilidade de não haver mais emoção seja exclusivamente de Portugal.

Agora, o que eu acho um disparate é o raciocínio que fazes. As premissas são "A Espanha tem capacidade para trocar a bola inconsequentemente" e "Trocar a bola inconsequentemente é chato". E a conclusão é "Logo, há que haver um limite de tempo para que não se possa trocar a bola inconsequentemente". Estás a esquecer, neste raciocínio, duas coisas. 1) que trocar a bola inconsequentemente é muito difícil, em futebol, e 2) que a inconsequência resulta essencialmente do comportamento do adversário, que é essencialmente passivo. Logo, a tua ideia viria beneficiar a passividade do adversário e prejudicar a perícia de quem é capaz de trocar a bola inconsequentemente. Qualquer lei sobre limite de tempo para atacar vai motivar, isso sim, o futebol defensivo, não o ofensivo, como pensas. É um mau raciocínio, baseado em premissas erradas e que advém do facto de não se perceberem certas coisas importantes no jogo.

Jedi Master Atomic disse...

blog,

Eu estou com o Nuno, nessa de não haver leis passivas no futebol. O futebol é diferente de todos os outros desportos que envolvem uma bola, porque é jogado com os pés, logo há menos eficácia no passe e menor probabilidade de manter a bola por muito tempo.

Compete às equipas que querem ganhar, pressionar os adversários de forma a roubar-lhes a bola.

Se te referires ao anti-jogo, então acho que, sim, deveriam ser criadas mais algumas regras para proibir o anti-jogo que as equipas fazem quando estão empatadas ou a ganhar por 1 golo. Mas passar a bola entre os jogadores não é anti-jogo.

Joao Vieira disse...

Lol continua a azia....

De qualquer das formas o texto esta bastante interessante, e coerente ainda assim não posso deixar de vos relembrar o Porto de Mourinho, também ele assentava entre outras coisas na posse de bola, a diferença de qualidade é enorme mas não creio ser de menor valor, os artistas eram um pouquinho diferentes :), espero fervorosamente que o Mourinho volte a encantar no Real como fez no Porto, a exigência vai ser muito maior se no primeiro ano bastará ganhar no segundo terá que ser excelente e dar espectáculo como o barça, caso chegue ao fim da época e esteja a jogar ao estilo Inter serei o primeiro a espetar o alfinete... em relação a alegado monotonia criada pelos jogos do Barça acho um prefeito disparate, o Guardiola encontrou o modelo de jogo que mais se adequa aos jogadores que tem a sua disposição compete aos outros fazer algo por contrariar isso, o jogo Portugal-Espanha é o ideal para sintetizar isso mesmo, se fossemos audazes estou perfeitamente convencidos que poderíamos ganhar o jogo, a Espanha estava intranquila tal como esteve em grande parte do mundial, o primeiro jogo creio que afectou a confiança dos Espanhóis, o fantasma do Inter-Barça veio ao de cima, se jogássemos olhos nos olhos teríamos muito mais hipóteses, basta ver o caso do Chile-Espanha em que o Chile poderia ter estado a ganhar por 2 ou 3 , agora dizer que devia haver leis para atenuar este tipo de jogo faz tanto sentido como delimitar um numero máximo de jogadores para determinados metros do campo é ilógico em relação a natureza do jogo

Pedro disse...

Para alguem tão pragmático como tu usas e abusas da palavra "sorte"
:)

O Inter foi capaz de se adaptar ao jogo do Barcelona, o inverso não aconteceu. Tu continuas a defender, mesmo que não o digas claramente, q o Inter ou qqr outra equipa tem que jogar contra o Barça como eles jogam, só assim merecem vencer. Esqueces-te q nem todos o conseguem pq nem todos tem os tais jogadores tipo q mencionas.

Se fores combater com alguem muito mais forte do q tu no boxe só se fores doido é que vais lá usando apenas e só o boxe e não outras formas de luta q possam dar-te vantagem na luta.

O Inter fez isso, o Barça, até ver, não consegue sair do seu estilo. Sempre venceu é verdade e como tal não precisava de mudar...até defrontar este Inter. É inquestionável o trabalho de Guardiola no Barça mas, como já te disse outro dia, temos q esperar pelo q Guardiola for capaz de fazer ao serviço de outro clube para aferirmos da sua real capacidade. Mourinho, até ver, ganhou SEMPRE por onde passou!!!

Nuno disse...

Pedro, enganas-te. Eu não defendo isso. As equipas são livres de jogar como quiserem. Já aqui expus as razões pelas quais considero que o futebol do Barça é o melhor a longo prazo. Mas não é isso que está em causa aqui. Se uma equipa pretender apenas defender e se, de facto, o fizer bem, anulando o ponto forte do adversário, muito bem, merece a vitória. Não foi o caso do Inter. O Barcelona teve oportunidades suficientes para seguir em frente. Logo, o Inter não merecia seguir em frente.

Miguel Nunes disse...

Nuno, arranja-me ai um link p um texto teu sobre o 442 classico sff

quero meter uma referencia vossa no meu blog...mas, pelas etiquetas n estou a ir lá...

Nuno disse...

PB, não me digas que vais cascar no Paulo Sérgio? :)

Assim de repente, tenho coisas sobre o 442 clássico nestes textos:

http://entredez.blogspot.com/2007/12/por-que-que-as-coisas-so-como-so-1.html

http://entredez.blogspot.com/search/label/Tiago

http://entredez.blogspot.com/2008/07/esquemas-tcticos-racionais.html

Miguel Nunes disse...

LOL

Ainda não vou cascar mt, porque ainda não tenho a certeza do q vai ele para lá fazer, mas é verdade que não augura nada de bom.

Tenho cmg o planeamento dele da época passada e alguns documentos ainda do tempo do Paços... pelo menos organizadito ele é... não sei é se não se esgota ai...

Dejan Savićević disse...

Oh PB, não faças publicidade ao homem porque não foi ele que fez aquilo...lol
Já me disseram que o gajo dos PC e dos 'power pointes' é um dos adjuntos.
Quando cascares no 442 do forcado, avisa para eu ser o 1º a comentar.

Nuno,
Ganda texto...mas muito longo para este calor...
Depois passo cá para deixar a minha posta ...

abraço

Miguel Nunes disse...

Nuno, n sou tão "extremista" como tu, mas a verdade é q o sou bastante mais agora, do que antes.

Lembro-me perfeitamente de pensar que com uma boa dinâmica, se poderia ultrapassar mta coisa. Lembro-me até de falarmos disso. Mas, aquele Benfica de Quique mudou-me. Se bem que, acho que mm em 442 classico, aquio tinha obrigação de ser bastante melhor

Daniel MP disse...

Caro Nuno. Perante este seu texto aconselho-o vivamente a reconstruir as suas relações pessoais por forma a encontrar menos gente assustada no seu dia-a-dia. Mas continue a beber da mesma garrafa que isso dá-lhe força na caneta (agora, por amor de Deus, não cavernize quem pura e simplesmente possa não gostar assim tanto do futebol de Guardiola)