quarta-feira, 14 de março de 2007

Coerência...e consequência.

Quando Zizou perdeu a cabeça no peito de Materazzi fui dos poucos que, apesar de sentir que ele não tinha tomadao a atitude mais correcta, consegui compreender e aceitar o seu comportamento. Talvez agora surja muita gente a dizer que não fomos assim tão poucos a fazer uma leitura correcta do que se passou naquele instante, que na altura também defenderam Zidane. A dicotomia patenteada entre os dois jogadores é tal, que me arriscava a dizer que os adeptos que apreciam um jogador como o italiano, dificilmente poderão apreciar qualquer linha traçada neste bolg. Mas para os que demonstrarem presença de espírito, vou-lhes expôr as minhas razões para assumir um como o paradigma do futebol ( Zizou), e outro, Materazzi, como a negação do mesmo. Juntos formam a antítese perfeita para o futebol.

No entanto, admito algum benefício na proliferação de jogadores como o italiano. Jogadores como ele dão enfâse a talentos como o de Zidane. Não que o françês precise, mas junto deste tipo de jogadores, o brilho das estrelas chega a ser incandescente.
Começando pela forma como um e outro promove o futebol. Por todo o lado encontraremos vídeos de ambos. Num lado os dribles, passes, recepções, golos, enfim... No outro, as entradas violentas, as entradas violentas, as entradas violentas, mais entradas violentas, e de quando em vez um golo... Mas não é por isso que perco tempo a escrever sobre estes dois monstros, cada um à sua maneira; as diferenças de talento tão pouco merecem discussão.
Uma coisa que nunca me convenceu na história do italiano, foi a necessidade deste se fazer passar por coitadinho: « Eu sou um ignorante», sim, sem dúvida, no que toca a esta afirmação não me parece que haja objecção alguma a fazer, mas toda aquele choradinho nunca me convenceu. Isso, e a inconsistência da sua versão...
E aqui começa a clivagem entre estes dois homens, no pós-futebol. Zidane independentemente, dos pedidos da FIFA, e da UEFA, nunca vacilou, mostrando-se sempre indisponível para se cruzar com o italiano, por outro lado, o seu antagonista demonstrou sempre uma disponibilidade demasiado Cristâ para perdoar Zidane. É, no minimo, suspeito.

Esta atitude de Zidane é muito mais do que uma mera demonstração da sua forte personalidade, e princípios. É uma relação de respeito para um desporto que o transformou num Deus.

E é aqui que nos deparamos com uma realidade que muitos tem dificuldade em perceber. Zidane, como qualquer génio, quando explanava todo o seu espiríto criativo, libertava-se de qualquer disciplina, ou limitação, que pudesse circunscrever o seu talento. Tudo o resto, imposições tácticas, subserviência às circunstâncias do jogo, tudo isto se torna incómodo para quem assume o processo criativo. Caminhando sobre a linha ténue que separa o génio do ridículo e louco, demonstrou sempre que, mais do que a uma equipa, Zidane pertence ao futebol.
Não se encontra, porém, nestas linhas, justificação para a sua atitude. De que maneira, perguntam vocês, se pode justificar a atitude de Zidane, sendo ele tão honesto com o futebol, tão puro? Simples. Não se pode. Ninguém pode, tão pouco ele. Da mesma maneira que não se explica as jogadas que o imortalizaram. A intuição não se explica. Mas este facto, o de imiscuir um factor tão primário, como o instinto, no seu futebol, não significa que o torne menos complexo,ou digno, apenas o perfuma, pois não podemos conceber a razão sem emoção...
Zidane viveu aquele jogo como o seu último, porque o era, e não só. Porque futebol, é um desporto de emoções, de paixão... E o que é paixão senão a ausência temporária do juízo? Ao perder a cabeça daquele jeito, demonstrou que se entregava, como poucos, ao jogo. Não retaliando qualquer tipo de emoção, ou sentimento, ao mesmo. Ele não pensou nas consequências do seu acto. Apenas sentiu, seguiu o mesmo instinto que o levou a marcar a grande penalidade da forma que o fez. Não podemos dissociar um facto do outro. O temperamento é essencial, mas também ambigúo na sua manifestação...
Esta condição, funciona como dom e maldição. O mesmo processo que o levou a transportar de uma forma, quase, exclusiva a França à Final, foi o mesmo que lhe retirou os últimos dez minutos da mesma... Irónico. As emoções, ao contrário do que se pensa, são essenciais á construção do sublime. Tem de se ter prazer... e dor.
Um caso de falta desse mesmo temperamento: M. Laudrup. O dinamarquês era fantástico no toque de bola, no passe, na forma inteligente como definia os lances, todavia, faltou-lhe sempre aquela faísca, aquele assomo que o levasse a ser considerado um "Deus", passe o exagero. Por outro lado, provavelmente também não agrediria o italiano. Poderia falar de um caso português semelhante... Mas não vou ferir susceptibilidades...
Esta final assumiu os contornos de um verdadeiro paradigma da definição de um génio. Louco, arrebatado, distante, e irredutível... Mas não o foram assim todos...?

Por outras palavras, Zidane nunca cedeu. Assumiu a sua condição, nunca defraudando aquilo que acreditava: O futebol, enquanto um jogo Bellíssimo.
Da mesma forma que, agora, ao não aceder aos convites feitos para a reconciliação?, se mostra fiel ás convicções e motivos que o levaram a cabecear o monstro italiano, reforçando, assim, o peso e legítimidade dos mesmos...

5 comentários:

Nuno disse...

"Poderia falar de um caso português semelhante... Mas não vou ferir susceptibilidades..."

Queres que seja eu a ferir? Vá lá... É pá, vá lá! Pode ser? Fixe... Rui Costa!

Gonçalo disse...

lol vai dar bronca :D

Anónimo disse...

Rui Costa? pensava que estavas a falar do João Pinto, do Sá Pinto (?)... ou prai do Zequinha (LOL), não me lembro do Rui Costa ter agredido ninguem... sinceramente

Anónimo disse...

Esqueçam, já percebi.

o Weah tambem deu uma cabeçada no Jorge Costa e foi o premio Fair Play da UEFA :P

O mais giro era se o Zidane não desse a cabeçada e a Italia ganhasse na mesma o campeonato, por muito que ele seja bom, não é 100% correcto dizer que uma coisa implicou a outra...

EK disse...

Pedro Barbosa