quinta-feira, 8 de março de 2007

O Útimo...

Não é fácil escrever sobre esta personagem, para mim a maior, do futebol português. Porque não se limita a ser mais um jogador que espalhou classe pelos campos de futebol. Quem me conhece sabe bem de quem falo. É desprepositado; fora de tempo. Sim, mas também ninguém é obrigado a ler estas linhas.

Talvez comece pelo primeiro momento de magia que presenciei deste mago. Lembro-me, com a distância de 13/14 anos, dos movimentos que me enfeitiçaram. Através de uma cassete de video, dessas que o jornal O Jogo publicava no final de campeonato. Época 93/94, Benfica Campeão. E fiquei apaixonado por aquele estilo. Quem era aquele Pedro?

Entretanto ganhou espaço no futebol português. Na época seguinte explodiu.
Quinito, um romântico - infelizmente, o último? - , compreendeu a magnitude do génio que se lhe deparava. Uma época belíssima, com chamadas à selecção. Numa dessas chamadas dissipou todas as dúvidas. Um golo que estava para o futebol, como a água para a vida; são momentos como aquele que nos fazem sonhar, e rever jogos e jogadas, cujo o fim já não oferece surpresa.
Ele era diferente. O último jogador à antiga portuguesa, chamaram-lhe os românticos. Como deveria ser Belo o futebol desse antigamente.
Foi para Alvalade. E, a partir dai, demonstrou todas as idiossincrasias que acompanham os génios.
É impossível fugir ao cliché : Amado por uns, odiado por outros. Nem todos conseguimos entender, e apreciar, arte. A Arte.

Dele disseram que comia demasiados croissants. Era bom que fosse assim tão simples. Infelizmente, por mais croissants que o Joao Alves, Paulo Jorge, ou Adriano comam...
Poderia falar dos três golos com que brindou uma equipa israelita na taça Uefa. À excepção do primeiro golo, foram momentos geniais. Os dribles que se sucediam, num bailado que não se ensina, e a parte interior do seu pé esquerdo, deixaram o país da Estrela-de-David assombrado.
Coerente e consequente, não se deixou enganar por quem lhe tentou roubar o que dele era por direito próprio. Não devemos renegar o nosso destino. Nunca deixou de arriscar, de procurar sempre a mais bela e arriscada opção... E que momentos! Marcou a dois, dos três melhores guarda-redes que por Portugal passaram nos últimos 15/20 anos, - ao outro de certo que também o fez, mas apenas em treinos - com requintes de malvadez...
Os golos nunca foram muitos, mas sim geniais. Porém, para os pragmáticos ( sim apesar de tudo, na minha generosidade imensa, encontrei um momento de comiseração por vocês) tenho um doce: na primeira época, apesar de toda a contestação que sofreu - e que o acompanhou até ao fim da sua (demasiado) breve carreira, sim, porque os grande abandonam sempre cedo demais - foi o terceiro melhor marcador da equipa de Alvalade.
Golos... São o sal do futebol... Isso seria, e será decerto, um assunto para abordarmos com mais tempo; mas os dele foram muito mais do que isso. Fosse um remate impossível, de primeira, que colocava por entre as pernas de um qualquer guarda redes, fosse a maneira como levantava um estádio, depois de concluir um cruzamento com um remate que, na sua elegância, mascarava de fácil. Mas não era só isso. Até quando falhava, algo de divino, e gracioso, o acompanhava. As bolas que enviava ao poste, sempre o segundo, faziam a delícia de qualquer adepto, dos bons.

Frontal, até na maneira como se dava a conhecer demonstrava que estava só. Não digo a mais pois jogadores como ele serão sempre de menos . O discurso inteligente, e responsável, distanciava-o de seus pares. Uma vez um treinador pediu aos sócios leoninos que o "acarinhassem", que não o assobiassem mal o speaker anunciasse o seu nome para o onze inicial. Quando confrontado com o pedido feito pelo seu treinador não se refugiou no mesmo. Assumiu as críticas, não condenou, mas sim assumiu que quem joga num grande tem de estar preparado para lidar com essas situações. À imagem do que fazia no campo não se escondia, dando antes o peito às balas.

Foi sempre incompreendido. Os génios não o seriam, se por todos fossem compreendidos. Essa assunção seria, aliás, contraditória. Tinha carisma, ao que aliava a uma nobreza cada vez mais rara nos tempos que correm. Tornou-se uma figura incontornável no futebol nacional. Capitão de um dos grandes de Portugal, foi fundamental nas últimas grandes conquistas do seu clube. No primeiro campeonato que venceu, quadros como o que pintou no Bessa revelaram-se decisivos. Mas mesmo que não o fossem... Numa eliminatória da taça de Portugal, em pleno estádio das Antas, marcou um belíssimo golo, a passe do seu homónimo, de apelido Martins, à entrada da área sentou P. Santos e quando Erickson deu um passo em frente, preparando-se para fazer a mancha, picou-lhe a bola fazendo um golo fabuloso... Vi e revi o lance inúmeras vezes... Arte, sublime, perfeita... Magia para outros...
Na mesma eliminatória, num segundo jogo entre as mesmas equipas, lesionou-se depois de uma arrancada, em que nem os bichos o conseguiram deter... E durante meses o futebol voltou a ser vulgar...

Não posso falar de todos os momentos em que ele homenageou o futebol com o seu perfume. Vou terminar com uma referência, que poderia ser uma metáfora da sua carreira.
No último grande jogo que o vi realizar, curiosamente jogou apenas alguns minutos, deu a sensação que se tomasse a bola na sua área seria capaz de driblar todos os compatriotas de Vincent van Gogh a passo. A maneira como expulsava quem quer que lhe surgisse à sua frente com um movimento suave... Genial... O problema é que não teria tempo suficiente para o fazer. Neste jogo, como na sua carreira, - e partindo do princípio que o futebol, como tudo na vida, irá evoluir de forma postiva - o tempo foi o seu maior inimigo.
Falo de Barbosa. Pedro Barbosa.

4 comentários:

master kodro disse...

Que saudades tenho de o ver vestido de branco...

Anónimo disse...

Do melhor que passou pelo Sporting!
Lembro-me também dum golo ao Marítimo em que passa a bola entre o guarda redes e o poste quando está na linha de fundo!

Génio! Que saudades do seu futebol....

Anónimo disse...

Ya, lembro-me de pensar que se fosse mais constante nas exibições poderia muito bem ser o novo Zidane, mesmo pelo estilo e pelo toque de bola, o problema é que era como o Giovanni, por vezes adormecia e ninguem dava por eles...

Brigataazzuri disse...

este texto está simplesmente fantastico.
descreve O GRANDE jogador e GRANDE pessoa que é PEDRO BARBOS, ainda me lembro em pleno estadio da gamela real na altura representava o S.C.Freamunde fez um jogo que só grandes genios fazem e que acabou por ter uma atitude identica á do Zidane na final do mundial de 2006.
Em Freamunde jogou em quase todas as posições e jogou sempre bem.
Em Freamunde é recordado com imensa saudade.
Para mim o Pedro Barbosa ate a dar um chutão a aliviar tem estilo sem duvida que foi dos grandes jogadores portugueses.