A expressão "passe vertical", que encontra uso habitual neste blogue, não faz parte - ou não fazia, até há muito pouco tempo - do vocabulário futebolístico. Utilizei-a inicialmente para distinguir uma espécie de passe particular, um passe rasteiro com progressão, ou seja, um passe feito pelo chão que não se limita a fazer a bola circular à roda do bloco defensivo adversário, mas que penetra nele, ultrapassando algumas das suas linhas. Hoje em dia - penso - o rótulo fixou-se no imaginário de quem fala de futebol, e quando se fala de um "passe vertical" já não se confunde com um passe feito pelo ar, hábito, por exemplo, de uma equipa que faça muito jogo directo, nem com passes para as costas da defesa. O que, neste texto, procurarei demonstrar é a importância crescente que, no futebol moderno, este tipo de passe tem. É minha convicção que as melhores equipas em ataque organizado são também aquelas que mais e melhor procuram estas situações e, como tal, depressa será assunto de reflexão pelos grandes treinadores mundiais.
A equipa que, em todo o mundo, melhor usa este recurso é o Barcelona; a segunda o Arsenal. É precisamente recorrendo a um golo dos gunners em que se fez uso do passe vertical que procurarei sustentar o argumento. O lance é o do segundo golo frente ao Birmingham, este fim-de-semana. Cesc Fabregas apercebe-se da localização de Nasri à sua frente, entre linhas adversárias, e mesmo tendo atrás de si um adversário, direcciona-lhe a bola. Ao fazê-lo, ultrapassa imediatamente uma linha, composta por dois adversários. O facto de aquele que vai receber a bola estar marcado é pouco importante. Um passe vertical pelo chão torna a acção do defesa mais difícil e uma simples devolução ao colega que em primeiro lugar passara a bola permite à equipa preservar a posse de bola. Também por isto, um passe vertical não é um passe tão arriscado como, por exemplo, um passe para as costas da defesa, e só não é tão usado porque se convencionou que passar a bola para colegas que têm adversários por perto é errado. Ora bem, não é. Pode até ser muito útil, pois fará com que os adversários que ocupam esses espaços adquiram a ilusão de que podem capturar a bola e se desposicionem. O que aconteceu de seguida demonstra bem a utilidade que há em fazer um passe destes mesmo nas condições em que o colega se encontrava. Nasri, embora apertado, devolve de primeira a bola a Fabregas, que no momento imediatamente a seguir a ter feito o passe se dirigiu para Nasri, para fornecer um apoio curto. Com essa movimentação, pode receber a devolução de Nasri à frente de um dos dois adversários que o tinham apertado inicialmente. Nasri, ao devolver, desmarcou-se nas costas do seu marcador que, iludido pelo engodo da bola, acabou por ficar batido. Fabregas, por sua vez, deu de primeira novamente para Nasri, que ocupara agora um espaço frontal entre o homem que lhe saíra ao encalço e a linha defensiva do Birmingham. Estava criado o desequilíbrio. Um passe vertical e uma tabela foi tudo do que o Arsenal precisou para arranjar condições de remate à entrada da área. Parece simples. O problema é que os hábitos que se cultivam ao longo da carreira e as coisas em que esses mesmos hábitos fazem os jogadores acreditar impedem, muitas vezes, de perceber como se pode simplificar um lance.
Com um passe vertical e uma pequena combinação entre dois jogadores, o Arsenal ultrapassou todo o meio-campo do Birmingham. Este tipo de penetração é utilíssimo, em futebol, mas continua a ser pouco usado, ou usado inconscientemente. Há pouquíssimas equipas que procuram de modo sistemático estas acções e menos ainda as que trabalham de modo a potenciar esses lances, tendo preocupações não só em progredir desse modo, como também em criar movimentações que facilitem a acção aos jogadores envolvidos nessas situações. Creio, contudo, que o futuro tratará de corrigir isso. Tão importante como rotinar, por exemplo, uma transição ofensiva, será treinar o comportamento colectivo de modo a criar mais e mais condições para se efectuarem passes verticais. Aliás, a compreensão do modelo de Guardiola teria de passar, entre muitas outras coisas, por perceber como o passe vertical é, no seu Barcelona, um instrumento fundamental. Como acho que, em dez ou vinte anos, este Barcelona será um modelo a imitar por todos, creio também que o passe vertical virá a ser objecto de maior reflexão e dedicação.
P.S: E o que dizer do terceiro golo do Arsenal? Novamente, Fabregas e Nasri no lance. Desta vez, recreando-se como se não tivessem mais colegas em campo, trocando a bola apenas entre os dois, pondo à rabia todos os adversários que lhes saíram ao caminho. Este tipo de entendimento entre dois atletas, estendido depois ao resto da equipa, deveria ser uma das maiores preocupações de um treinador. Mais sobre isto noutra altura, quem sabe se brevemente.
P.S. 2: E o jogo de Dani Parejo, esta noite, coroado com um golo magnífico? O rapaz tem classe até a andar, mas continua relativamente esquecido numa equipa do meio da tabela em Espanha. Há poucos, porém, com a qualidade que ele tem. Pouquíssimos, mesmo. Se se pensar, então, que, no início da temporada passada, foi trocado por Granero, dá quase vontade de cortar os pulsos...
A equipa que, em todo o mundo, melhor usa este recurso é o Barcelona; a segunda o Arsenal. É precisamente recorrendo a um golo dos gunners em que se fez uso do passe vertical que procurarei sustentar o argumento. O lance é o do segundo golo frente ao Birmingham, este fim-de-semana. Cesc Fabregas apercebe-se da localização de Nasri à sua frente, entre linhas adversárias, e mesmo tendo atrás de si um adversário, direcciona-lhe a bola. Ao fazê-lo, ultrapassa imediatamente uma linha, composta por dois adversários. O facto de aquele que vai receber a bola estar marcado é pouco importante. Um passe vertical pelo chão torna a acção do defesa mais difícil e uma simples devolução ao colega que em primeiro lugar passara a bola permite à equipa preservar a posse de bola. Também por isto, um passe vertical não é um passe tão arriscado como, por exemplo, um passe para as costas da defesa, e só não é tão usado porque se convencionou que passar a bola para colegas que têm adversários por perto é errado. Ora bem, não é. Pode até ser muito útil, pois fará com que os adversários que ocupam esses espaços adquiram a ilusão de que podem capturar a bola e se desposicionem. O que aconteceu de seguida demonstra bem a utilidade que há em fazer um passe destes mesmo nas condições em que o colega se encontrava. Nasri, embora apertado, devolve de primeira a bola a Fabregas, que no momento imediatamente a seguir a ter feito o passe se dirigiu para Nasri, para fornecer um apoio curto. Com essa movimentação, pode receber a devolução de Nasri à frente de um dos dois adversários que o tinham apertado inicialmente. Nasri, ao devolver, desmarcou-se nas costas do seu marcador que, iludido pelo engodo da bola, acabou por ficar batido. Fabregas, por sua vez, deu de primeira novamente para Nasri, que ocupara agora um espaço frontal entre o homem que lhe saíra ao encalço e a linha defensiva do Birmingham. Estava criado o desequilíbrio. Um passe vertical e uma tabela foi tudo do que o Arsenal precisou para arranjar condições de remate à entrada da área. Parece simples. O problema é que os hábitos que se cultivam ao longo da carreira e as coisas em que esses mesmos hábitos fazem os jogadores acreditar impedem, muitas vezes, de perceber como se pode simplificar um lance.
Com um passe vertical e uma pequena combinação entre dois jogadores, o Arsenal ultrapassou todo o meio-campo do Birmingham. Este tipo de penetração é utilíssimo, em futebol, mas continua a ser pouco usado, ou usado inconscientemente. Há pouquíssimas equipas que procuram de modo sistemático estas acções e menos ainda as que trabalham de modo a potenciar esses lances, tendo preocupações não só em progredir desse modo, como também em criar movimentações que facilitem a acção aos jogadores envolvidos nessas situações. Creio, contudo, que o futuro tratará de corrigir isso. Tão importante como rotinar, por exemplo, uma transição ofensiva, será treinar o comportamento colectivo de modo a criar mais e mais condições para se efectuarem passes verticais. Aliás, a compreensão do modelo de Guardiola teria de passar, entre muitas outras coisas, por perceber como o passe vertical é, no seu Barcelona, um instrumento fundamental. Como acho que, em dez ou vinte anos, este Barcelona será um modelo a imitar por todos, creio também que o passe vertical virá a ser objecto de maior reflexão e dedicação.
P.S: E o que dizer do terceiro golo do Arsenal? Novamente, Fabregas e Nasri no lance. Desta vez, recreando-se como se não tivessem mais colegas em campo, trocando a bola apenas entre os dois, pondo à rabia todos os adversários que lhes saíram ao caminho. Este tipo de entendimento entre dois atletas, estendido depois ao resto da equipa, deveria ser uma das maiores preocupações de um treinador. Mais sobre isto noutra altura, quem sabe se brevemente.
P.S. 2: E o jogo de Dani Parejo, esta noite, coroado com um golo magnífico? O rapaz tem classe até a andar, mas continua relativamente esquecido numa equipa do meio da tabela em Espanha. Há poucos, porém, com a qualidade que ele tem. Pouquíssimos, mesmo. Se se pensar, então, que, no início da temporada passada, foi trocado por Granero, dá quase vontade de cortar os pulsos...
20 comentários:
" A expressão "passe vertical", que encontra uso habitual neste blogue, não faz parte - ou não fazia, até há muito pouco tempo - do vocabulário futebolístico. Utilizei-a inicialmente para distinguir uma espécie de passe particular (...) "
És portanto o introdutor da expressão "passe vertical" no léxico futebolístico. Parabéns.
Sem ironia, é excelente isso.
MM, não sei se fui o introdutor de coisa alguma. Aliás, a introdução de termos novos, muitas vezes, não é uma coisa da responsabilidade de uma única pessoa. O que posso dizer é que comecei a utilizá-la antes de fazer parte do vocabulário futebolístico, antes de designar alguma coisa que as pessoas, ao ouvirem-na, percebam de imediato o seu referente. Comecei a usá-la por sentir necessidade de designar algo que não tinha designação. Actualmente, não sei ao certo se a expressão já designa esse tipo de passe. Já a ouvi a ser usada do mesmo modo que eu a uso, para designar o mesmo tipo de passe, mas continua a ser usada muito arbitrariamente por maior parte das pessoas, para designar uma coisa vaga. E, sinceramente, duvido que aqueles que a usam do mesmo modo que eu a tenham passado a usar por minha causa. Acho, sim, que sentiram a mesma necessidade que eu senti de criar um termo para designar um tipo de passe que não tinha designação, e criaram-no recorrendo ao bom senso, obtendo a mesma designação que eu obtive porque, na verdade, não é algo assim tão incomum e refere precisamente a principal característica desse tipo de passe, a sua verticalidade.
Certo Nuno, seja introdução partilhada ou erupção espontânea em vários pontos diferentes como resposta à necessidade de dar-se um nome para um movimento específico e fulcral na manobra do trato da bola e do jogo, fazes parte do processo.
Os parabéns eram por isso ...
O que achas do Vukcevic?
E do Valdir? Aquele que chegou ao Benfica em 1997 e ia fazer 20 golos nos 7 jogos de campeonato que faltavam ...
A sério Nuno, a pesquisa de tags no blogue não devolve nenhum resultado. O que achas do Vukcevic? Se és sportinguista, gostas dele? Se não és, gostavas de te-lo na equipa do teu clube? Enquanto observador, de forma desapaixonada, o que achas dele? Enquanto jogador de futebol e ser humano. E enquanto jogador de futebol ... em Portugal, na comparação com todos os outros: nesta comparação, é dos melhores?, ainda que possa não ser do teu agrado? É mediano? É inconsequente, como dizem muitos? Mal compreeendido? Trata-se de mais um caso típico de um gigante montenegrino que saindo das terras férteis do Balcãs vê-se ostracizado pela restante civilização europeia Atlântica-proximus?
Eu acho que o Vukcevic não só é muito talentoso mas, entende o futebol enquanto jogo colectivo. Hás-de reparar que está sempre em movimento. Os últimos 25 minutos da meia-final da Taça em 2008: a resposta para a problemática Vukcevic está neles. Integrem-no numa equipa ofensiva, formatada para massacrar o adversário, perfeitamente embalada para destruir e assassinar os contrários e ... o Vukcevic não falha. Torna-se numa máquina letal em que cada acção é uma flecha apontada ao coração do adversário. Agora claro numa equipa completamente desgarrada, sem fio de nada, sem linha condutora, sem acção harmoniosa que a conduza o gigante sérvio não entende. E não entendendo fecha-se em copas, no seu mundo, e o que faz esse mundo? Chama-o egoísta, quando o defeito está justamente em si (no mundo).
Estes dois têm jogado enormidades...
Dois laterais, alguém que ensinasse ao Wenger o que é defender e seriam dois confrontos épicos na Champions, assim será mais um passeio do Barça.
Pode ser que para o campeonato inglês chegue, em grande parte devido à fraca qualidade da grande maioria das equipas.
o Parejo ainda é um miudo. Vai lá chegar...
O Real Madrid tem opção de compra sobre o Parejo após 2 anos de contrato.
Os gajos podem "desperdiçar" muitos jogadores que por lá passam, mas em regra defendem-se bem nessas coisas (e têm dinheiro para isso).
MM, ao contrário de muita gente, eu também gosto do Vukcevic. Acho que tem imenso talento e teria de ser bem integrado. É um jogador com um feitio especial, é verdade, mas acompanha esse feitio uma qualidade indubitável. Acho que perde motivação ou tem comportamentos difíceis precisamente porque possui estas duas características, o ser muito bom e o ser incapaz de se conformar com a mediocridade do banco. Escrevi sobre ele, assim como o Gonçalo, creio. Na única tag que remete para o Vukcevic, falei da forma como Paulo Bento geriu os seus indiscutíveis e de como Vuk se desmotivou por causa dessa gestão danosa. Disse isto:
"Daí à desmotivação vai um pequeno passo e os primeiros a quebrar são precisamente os mais temperamentais, aqueles que se apercebem da injustiça e que não são capazes de continuar a ser humilhados, enquanto outros vivem como lordes, gordos e apaparicados"
Agrada-me a sua irreverência e o seu temperamento. Aliás, tem um temperamento que se coaduna em tudo com o temperamento dos génios. Vive no seu mundinho, é verdade, mas não é por isso que é um jogador menos colectivo. Aliás, não concordo nada com as teorias de que é mau tacticamente e de que não se esforça. Simplesmente, quando passa ao lado do jogo, quando parece que não lhe interessa ajudar a equipa, fa-lo por estar desmotivado, por na cabeça dele aquilo não fazer sentido. Sempre que o Sporting joga bem, o Vuk empolga-se e ainda joga melhor. É um caso gritante de como a mediocridade que o rodeia pode tornar banal o homem mais genial. O Vukcevic precisa é de competência, de ver e de se sentir inserido numa coisa com competência. Precisa de sentir que o seu talento faz parte de algo com sentido, que as suas qualidades servem um interesse maior. Sentindo-o, é um jogador formidável. E, depois, não lhe podem cortar as pernas. Já com Paulo Bento tinha sido vítima disso. Apareceu muito bom durante 3 ou 4 meses e, de repente, deixou de se apostar nele. Desmotivou-se. Com Paulo Sérgio, a mesma coisa. Começa a época muito bem e, após dois jogos notáveis, em que fez miséria das defesas contrárias, foi ao banco. Desmotivou-se. Isto é não saber lidar com um jogador temperamental mas talentoso. Neste Sporting, tinha de jogar sempre.
É precisamente isso que sinto e penso sobre o Vukcevic. Sem menos nem mais. Quando a equipa carbura aparece dezenas de vezes no jogo, quase nunca no mesmo sítio, dá-se ao jogo e não fica à espera que a bola ou os colegas vão ter com ele. A sua disponibilidade é total. A sua motivação é quase sempre evidente e podemos medir o seu (bom) temperamento na forma como reage ao jogo, como festeja uma acção ou um golo. Sobre a qualidade ela é notória. Tem a técnica que lhe garante soluções, a potência, o instinto que os jogadores decisivos por norma têm e que podemos por exemplo atestar no modo como finaliza: de uma forma quase seca, tiros fortes mas com nexo, colocados e que não poucas vezes deixam os guarda-redes sem reacção. Sabe guardar a bola, sabe jogar de 1ª, sabe cruzar - independentemente da posição mais ou menos ortodoxa em que se encontre - e sabe tão bem jogar rápido ou devagar. O melhor de tudo ... é que com ele isto aparece naturalmente, sem esforço, bastando a equipa funcionar e sentindo que confiam nele.
O mais triste no Vukcevic é precisarmos de fazer um esforço para arranjar momentos onde as suas qualidades se traduzam em acção, já que dos 3 anos e 1/2 que leva de Sporting 1 deles passou-o "castigado" pelo anormal do Paulo Bento que deixou-o afastado das convocatórias e, no restante tempo anda sempre entre o banco e o jogo. Triste. Em 2007/08 durante 2 meses sentiu a confiança do treinador e tendo o tempo de jogo foi jogo-sim-jogo-sim quase sempre decisivo: Reebok Stadium com o Bolton, eliminatória com o Basileia e recepção ao Porto e Benfica nessa época. Jogos todos muito seguidos e uma fase muito curta claro, porque inexplicavelmente estão sempre a retirá-lo da equipa, mesmo quando rende.
O que eu gosto mais no Vukcevic é mesmo a qualidade e a presença no jogo. É daqueles jogadores categóricos e personalizados cujo trato da bola e cuja linguagem corporal não enganam. Mas claro seria preciso haver continuidade na sua permanência em campo para que tudo isto se exprimisse convenientemente. Continuidade e uma equipa que funcionasse. É possível fazer aqui um paralelismo com o Carlos Martins, outro absurdo leonino com a assinatura do Paulo Bento. Em 2004/05 durante 3 meses com o José Peseiro o Carlos Martins mostrou a qualidade que tinha a mais do que todos os outros, e fe-lo quando naquela equipa, naquele meio-campo, por entre Pedro Barbosa, Hugo Viana ou Rochemback a funcionar em pleno não seria em tese muito fácil descolar do registo já muito bom deste tipo de jogadores, e o Carlos Martins fe-lo.
Confiança, não do próprio em si mas de outros, no próprio. Foi tudo o que foi preciso. E até nisto este tipo de jogadores são fabulosos: não é fácil quebrar-lhes o espírito. Reagem às estúpidas ausências do jogo sempre da mesma forma e no caso do Vukcevic vimos isso no jogo com o Guimarães por exemplo. Sentiu a importância do jogo, sentiu a atmosfera, entrou de início, a equipa apareceu disposta e muito tranquilamente ele carregou-a às costas. Fácil e natural. E nesse jogo ele nem foi muito explosivo, a sua acção foi mais lenta mas igualmente categórica. E esta é já agora outra vantagem que estes jogadores oferecem: mesmo que debitem poucos cavalos a sua cilindrada atira-os para patamares sempre altos na relevância que têm para o jogo das suas equipas.
Só mais uma coisa muito rápida e que importa dizer: não só o Vukcevic não é um jogador destemperado como tem o temperamente certo, ideal, porque toda a sua energia é investida no jogo. Não o vemos perder tempo em picardias com adversários, não o vemos perder tempo com acções maldosas ou de anti-jogo e nunca o vemos em sururus com os árbitros. É um jogador envergonhado que nunca aparece na comunicação social e percebemos que não tem tiques ou ego de estrela pop, no campo e/ou fora dele. Jogador de alto perfil dentro do jogo e para o jogo, só. E que quer fazer parte do jogo, quer jogar. Não é indiferente ao que a equipa faz e aos resultados medíocres que apresenta.
É uma máquina o Vukcevic.
Um abraço, e um excelente ano para ti Nuno.
Olá Nuno,
Espero que tenhas passado bem a quadra natalícia e entrado com o pé direito em 2011.
Mais um excelente texto, ao nível dos anteriores: bem escrito e argumentado. Nada a acrescentar e não vou perder muito tempo...
A pergunta que te queria colocar é a seguinte: qual, no teu entender, pensa e executa melhor em Portugal este tipo de passe vertical? Gostaria que não considerasses os princípios/modelo de jogo da equipa (colectivo) e te centrasses, unicamente, na apetência individual do jogador. Por exemplo, em Portugal é prática corrente afirmar que o Ruben Amorim sai bem a jogar, de zonas de pressão, entrando amiúde nas 'entre-linhas' adversárias. Portanto, faz lá o exercício: dá-me 1, 2 ou 3 nomes de atletas a actuar em Portugal que primam pela qualidade no passe vertical...
Abraço.
Olá Catenaccio,
No Benfica, o Aimar. Não há nenhum outro jogador na Luz que tenha a mesma apetência que ele para este tipo de passe. No Porto, o Belluschi, também de longe. Não significa que o Ruben Amorim ou o Moutinho não o façam, mas não é uma preocupação tão frequente neles. No Sporting, o Matías tem esta preocupação, mas o jogador que mais me impressionou nesse aspecto, esta época, foi o Zapater. Como é óbvio, não se dá o devido valor a quem procura este tipo de coisas e o Zapater continua a ser preterido. Em Portugal, todavia, o jogador mais forte neste aspecto é o Pereirinha. Mas a diferença é tanta que nem dá para comparar com nenhum dos outros. É que ele parece que passa o jogo inteiro concentrado neste tipo específico de lances. Faz isto com uma frequência incrível e sempre com qualidade. É uma das principais razões para que seja uma injustiça incrível ainda não lhe ter sido reconhecido o valor que tem. É que ele, para ser bom nisto, que é das coisas mais importantes no futebol moderno, não aposta tanto em corridas parvas, em lances individuais, em passes vistosos, e os medíocres não reparam no seu valor. É pena, porque tem-no e muito. E, ironicamente, arrisca-se a passar ao lado de um carreira por ser tão bom.
Nuno, estranho, no porto, o jogador que para mim utilisa mais vezes esse passe é o micael.
sempre fiquei com essa impreçao, que a preocupaçao principal do micael quase inconscientemente é o passe vertical.
excelente texto.
abraço.
João, não concordo. Acho o Ruben Micael mais vertical que o Moutinho e o Belluschi, mas dizer isto não é o mesmo que dizer que é quem mais passes verticais utiliza. Quando digo isto, quero dizer que é o jogador, dos três, que mais vezes procura jogar para a frente. Mas não necessariamente com passes verticais. O Ruben Micael tem, para mim, o defeito de procurar demasiado o último passe. E utiliza, por isso, muitas vezes o passe para as costas da defesa, ou para as diagonais dos avançados. Este tipo de passe é especialmente importante em organização ofensiva. O Ruben não é muito forte nesse aspecto, embora em transição o seja. Em transição, de facto, é um jogador muito vertical e assertivo. Em organização, normalmente não procura (ou não procura tanto quanto os outros) o jogo entre linhas, o apoio frontal do avançado, etc... Fá-lo sobretudo quando tem muito espaço para o fazer. Quando o bloco do adversário está compacto, não tanto.
O texto é pertinente e expõe uma "fracção" pequena do que distingue as equipas que jogam a top das restantes.
Mas dizer que aqui se introduziu a expressão passe vertical é arrojado e até uma ilusão.
Todas as equipas que jogam a top têm obrigatoriamente de utilizar a verticalização do passe para progredir no campo.
Umas fazem-no numa primeira instância de forma horizontal e depois verticalizam, outras são marcadamente mais verticais.
E tudo isto sem nos estarmos a referir ao passe longo, ao jogo mais directo que também está presente em equipas a top, por exemplo no Liverpool de Benitez aparecia bastante.
O passe vertical sempre esteve presente e sempre foi considerado uma óptima forma de progressão, desde que feito nos momentos certos e em que haja uma constante mobilidade dos jogadores.
É uma das muitas formas de aproveitamento do espaço entre linhas (defesa - meio campo), espaço visto como fudamental para explorar na procura de criação de desequilíbrios nos adversários.
Como faze-lo? Através do apoio frontal do avançado que funcionando quase como pivô de futsal, "mostra-se" ao colega de equipa e ataca o espaço para imeditamente tabelar com o jogador que lhe endossa a bola (o que atrai mais do que um adversário e ao mesmo tempo permite a quem inicia a tabela..ultrapassar uma primeira linha de adversários e ir receber no espaço com os apoios de frente para o jogo e provavelmente com mais espaço para decidir), ou através de um médio que explora o espaço entre linhas (sempre escondido do tradicional numero 6 adversário), etc.
Conclusão:
O passe vertical, a expressão passe vertical não é mais do que um dos fios condutores de muitas das equipas que jogam a top.
Agora se o desígnio é "passe vertical", "progressão vertical", ou outra coisa qualquer, isso já me parece irrelevante.
De qq forma, é um texto bastante pertinente. Parabéns!
Boas
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Basta entrar em: www.Futebolnatv.com
Obrigado
Cumprimentos
Caros Nuno e Gonçalo, Entre Dez,
Seria possível linkarem o "meu" Sporting Visto Por Nós (http://sportingpornos.blogspot.com/) aqui no vosso Entre Dez?!
O vosso blog já se encontra devidamente linkado na barra lateral do referido blog, no separador 'Interessantes'.
*Caso não consigam ver cliquem em mmostrar tudo no canto inferior direito do separador, pois por definição, só aparecem os 5 mais recentemente actualizados!!
Desde já, obrigado!!!
Bom post, mas tenho uma questão: o passe vertical não contempla os momentos em que um ponta-de-lança de referência desce para o espaço entre a linha defensiva e a de meio-campo do adversário para receber a bola e sustê-la até à subida de apoio dos colegas? Se sim, este tipo de passe é assim uma novidade tão grande?
adicionem http://dcfutebolclube.blogspot.com/
nos ja adicionamos o vosso
Amigo,
Ótimo texto, sou brasileiro, trabalho num jornal esportivo do país, e gostei muito do blogue.
Em relação a expressão "passe vertical", ela não é nova, ao menos no Brasil vem sendo utilizada há décadas, o que em hipótese alguma furta seu mérito ao empregá-la de forma correta e explicá-la perfeitamente.
Abraços
finalmente encontrei o idiota que inventou o "jogador vertical", vertical é uma palavra das ciências exatas, não admite invenções de significado, vertical é a direção de um fio de prumo,e mais nada, o que os idiotas adoptaram para a designação de jogador vertical , a palavra correta é LONGITUDINAL, ( ao longo de...). Azêmolas.
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