Na segunda fase de grupos do mundial espanhol, o sorteio ditou que o grupo C fosse composto por Brasil, Argentina e Itália, três candidatas à vitória final. Deste grupo, apenas uma destas equipas seguiria em frente, pelo que era necessário vencer dois opositores fortíssimos. A Argentina de Maradona não aguentou e perdeu os dois encontros, não obstante o anti-jogo de Gentile que, às leis actuais, teria sido expulso várias vezes (bateu um recorde ao fazer 23 faltas sobre o mesmo jogador num só jogo, isto fora as que não foram assinaladas). Por isso, tudo se decidia entre Itália e Brasil. De referir, ainda, que a Itália chegara a esta fase sem vencer qualquer jogo, com três empates e apenas beneficiando do facto de ter marcado mais um golo que o adversário em igualdade pontual.
Os brasileiros apresentaram-se num 352, com Valdir Peres na baliza, Leandro na direita, Luisinho na esquerda e Óscar no meio, Cerezo e Falcão como médios-defensivos, Sócrates, Júnior e Éder à frente destes, com liberdade, e Zico e Serginho na frente. Do lado da Itália, a mesma estratégia do jogo contra a Argentina: Gentile a marcar em cima Zico. Os italianos jogaram, portanto, em 541, com Zoff na baliza, Oriali à direita, Cabrini à esquerda, Scirea, Colovatti e Gentile no meio, Tardelli e Antognoni no meio-campo, Conti à direita, Graziani à esquerda, e Rossi na frente. Apesar do esquema aparentemente defensivo, a Itália nunca deixou de procurar o ataque e, na primeira parte, o jogo foi mesmo bastante equilibrado. Logo aos 5 minutos, um cruzamento do meio da rua encontrou Rossi na área que, de cabeça, concluiu sem dificuldades. Vítima do pouco rigor defensivo, o Brasil arrancava a perder. Entretanto, já Zico levara cacetada suficiente para que Gentile estivesse a ver o jogo pela televisão. Cartões, nem vê-los. Ou melhor, viu-o, sim, mas por protestos após mais uma falta. Aliás, os cartões naquela época serviam mais para que os jogadores estivessem calados do que para proteger os artistas e o espectáculo. Antes do golo do empate, destaque ainda para um falhanço inacreditável de um avançado inacreditável. Zico recupera uma bola e vai-se a isolar; para azar seu, Serginho, um matacão sem técnica, sem velocidade, sem agilidade e sem cérebro, chega primeiro à bola e finaliza de qualquer maneira; o resultado foi um pontapé estúpido, com a bola a sair francamente ao lado e aos trambolhões, digno de um troglodita. O golo do empate nasce de novo lance de Zico, que se liberta por momentos de Gentile e efectua um passe do outro mundo a isolar Sócrates, que não perdoou. E quando o Brasil tinha tudo para ir para cima dos italianos, eis mais um erro imperdoável. Ao estilo de Secretário para Acosta, Cerezo isola Paolo Rossi que, com um remate à entrada da área, não perdoa. Até final da primeira parte, o jogo foi repartido.
Na segunda parte, o Brasil surgiu mais determinado, com Júnior e Éder, principalmente, a tentarem pegar no jogo da equipa. Depois de muito tentarem e de Zoff ter negado tudo e mais alguma coisa, eis que Falcão, com todo o tempo do mundo à entrada da área, empata a partida com um remate potente. Com este resultado, era o Brasil quem seguia em frente. Faltando menos de 20 minutos para o final, havia que fazer alguma coisa. Mas Enzo Bearzot não mexeu na equipa. Quase do nada, num pontapé de canto que sobra para a entrada da área, um remate de primeira encontra Paolo Rossi, que desvia para o terceiro golo. A partir daqui, sim, a Itália remeteu-se à defesa e ofereceu toda a iniciativa de jogo aos comandados de Telê Santana, apostando apenas no contra-ataque. Mas a falta de inspiração dos brasileiros e a segurança de Zoff haveriam de estipular que o marcador não mais se alterasse.
A Itália seguia assim para as meias-finais da prova depois de ter passado a primeira fase de grupos sem conseguir vencer adversários como os Camarões, o Perú e a Polónia. Apesar da exibição paupérrima no início do torneio, conseguia - à custa de muita sorte e favorecimento, é certo - ultrapassar um grupo complicadíssimo e ia agora ter pela frente novamente a Polónia. Como até nem tinha tido muita sorte até aqui, Boniek, a estrela polaca, não pôde jogar. A Itália venceu e seguiu para a final, sagrando-se campeã frente à Alemanha. Ilustrativo do que foi a campanha italiana foi o facto de Paolo Rossi, o melhor marcador da prova, só ter marcado golos nos últimos três jogos do torneio, três ao Brasil, dois à Polónia e um à Alemanha. De entre os destaques individuais, há a realçar, do lado da Itália, Zoff (simplesmente imperial), Tardelli e Antognoni (excelentes a pautar o jogo italiano) e Rossi, com uma mobilidade refrescante e um sentido de baliza bastante apurado. No Brasil, Cerezo (com os seus movimentos verticais, a aparecer constantemente na área a finalizar), Júnior, Éder e Sócrates (pela responsabilidade de pôr a jogar toda a equipa) e Zico (o pequeno génio, de drible curto, rápido a pensar e a executar), criminosamente anulado nesta partida por um dos mais facínoras defesas de todos os tempos.
Os brasileiros apresentaram-se num 352, com Valdir Peres na baliza, Leandro na direita, Luisinho na esquerda e Óscar no meio, Cerezo e Falcão como médios-defensivos, Sócrates, Júnior e Éder à frente destes, com liberdade, e Zico e Serginho na frente. Do lado da Itália, a mesma estratégia do jogo contra a Argentina: Gentile a marcar em cima Zico. Os italianos jogaram, portanto, em 541, com Zoff na baliza, Oriali à direita, Cabrini à esquerda, Scirea, Colovatti e Gentile no meio, Tardelli e Antognoni no meio-campo, Conti à direita, Graziani à esquerda, e Rossi na frente. Apesar do esquema aparentemente defensivo, a Itália nunca deixou de procurar o ataque e, na primeira parte, o jogo foi mesmo bastante equilibrado. Logo aos 5 minutos, um cruzamento do meio da rua encontrou Rossi na área que, de cabeça, concluiu sem dificuldades. Vítima do pouco rigor defensivo, o Brasil arrancava a perder. Entretanto, já Zico levara cacetada suficiente para que Gentile estivesse a ver o jogo pela televisão. Cartões, nem vê-los. Ou melhor, viu-o, sim, mas por protestos após mais uma falta. Aliás, os cartões naquela época serviam mais para que os jogadores estivessem calados do que para proteger os artistas e o espectáculo. Antes do golo do empate, destaque ainda para um falhanço inacreditável de um avançado inacreditável. Zico recupera uma bola e vai-se a isolar; para azar seu, Serginho, um matacão sem técnica, sem velocidade, sem agilidade e sem cérebro, chega primeiro à bola e finaliza de qualquer maneira; o resultado foi um pontapé estúpido, com a bola a sair francamente ao lado e aos trambolhões, digno de um troglodita. O golo do empate nasce de novo lance de Zico, que se liberta por momentos de Gentile e efectua um passe do outro mundo a isolar Sócrates, que não perdoou. E quando o Brasil tinha tudo para ir para cima dos italianos, eis mais um erro imperdoável. Ao estilo de Secretário para Acosta, Cerezo isola Paolo Rossi que, com um remate à entrada da área, não perdoa. Até final da primeira parte, o jogo foi repartido.
Na segunda parte, o Brasil surgiu mais determinado, com Júnior e Éder, principalmente, a tentarem pegar no jogo da equipa. Depois de muito tentarem e de Zoff ter negado tudo e mais alguma coisa, eis que Falcão, com todo o tempo do mundo à entrada da área, empata a partida com um remate potente. Com este resultado, era o Brasil quem seguia em frente. Faltando menos de 20 minutos para o final, havia que fazer alguma coisa. Mas Enzo Bearzot não mexeu na equipa. Quase do nada, num pontapé de canto que sobra para a entrada da área, um remate de primeira encontra Paolo Rossi, que desvia para o terceiro golo. A partir daqui, sim, a Itália remeteu-se à defesa e ofereceu toda a iniciativa de jogo aos comandados de Telê Santana, apostando apenas no contra-ataque. Mas a falta de inspiração dos brasileiros e a segurança de Zoff haveriam de estipular que o marcador não mais se alterasse.
A Itália seguia assim para as meias-finais da prova depois de ter passado a primeira fase de grupos sem conseguir vencer adversários como os Camarões, o Perú e a Polónia. Apesar da exibição paupérrima no início do torneio, conseguia - à custa de muita sorte e favorecimento, é certo - ultrapassar um grupo complicadíssimo e ia agora ter pela frente novamente a Polónia. Como até nem tinha tido muita sorte até aqui, Boniek, a estrela polaca, não pôde jogar. A Itália venceu e seguiu para a final, sagrando-se campeã frente à Alemanha. Ilustrativo do que foi a campanha italiana foi o facto de Paolo Rossi, o melhor marcador da prova, só ter marcado golos nos últimos três jogos do torneio, três ao Brasil, dois à Polónia e um à Alemanha. De entre os destaques individuais, há a realçar, do lado da Itália, Zoff (simplesmente imperial), Tardelli e Antognoni (excelentes a pautar o jogo italiano) e Rossi, com uma mobilidade refrescante e um sentido de baliza bastante apurado. No Brasil, Cerezo (com os seus movimentos verticais, a aparecer constantemente na área a finalizar), Júnior, Éder e Sócrates (pela responsabilidade de pôr a jogar toda a equipa) e Zico (o pequeno génio, de drible curto, rápido a pensar e a executar), criminosamente anulado nesta partida por um dos mais facínoras defesas de todos os tempos.
Para que os artigos consensuais não fiquem sem comentários, aqui vai um parabéns, bem escrito.
ResponderEliminarAlgumas situações italianas até escusavas de referir, parecem repetir-se desde sempre, casos de só ganharem nos jogos "a sério", fracas exibições, equipas defensivas e a eficácia dos costume. É a Itália típica :)
Cumprimentos.
Nunca o brasil teve um onze tão bom e, em contraposição, um 'centroavante' tão mau como em 1982.
ResponderEliminarnuno, não seria tão ousado. A equipa de 1970 era, parece-me, mais forte. Assim como a de 2002, creio. Mas sim, o avançado era mau de mais. E contrastando, era de facto uma diferença abismal.
ResponderEliminarOnze de todos os tempos do Brasil:
ResponderEliminarTaffarel
Cafú
Mozer
Ricardo Gomes
Roberto Carlos
Dunga
Éder
Zico
Garrincha
Baixinho
Rei Pelé
Suplentes-
Rogério Ceni
Lúcio
Daniel Alves
Djalminha
Aldair
Bebeto
Jardel
- Com um banco de luxo, uma defesa de betão, um meio-campo genial e operário, e o ataque a resolver com Romário e o Rei sem dar hipótese, um Brasil com esta equipa ganharia todos os campeonatos do mundo.
Só precisava de um bom treinador também. Talvez um italiano, para dar a disciplina táctica k falta aos brasileiros
Todos os tempos de Itália:
Buffon
Lapetti
Baresi
Maldini
Costacurta
Pirlo
Donadoni
Roberto Baggio
Del Piero
Vieri
Ravanelli
Suplentes:
Dino Zoff
Panilli
Cannavaro
Antonio Conte
Gianfranco Zola
Totti
Mancini
- Muito rigor táctico só quebrado pela magia de Baggio ou Del Piero, ou a excentricidade de Ravanelli. Uma equipa do mais compacto que há. Esta Itália de 82 foi um exemplo disso. Uma equipa cínica e matreira, que apanha os adversários adormecidos, e dá a provar do seu veneno. É sempre essa a estratégia italiana embora ultimamente menos, pk os outros comecam a tar prevenidos.
Nota:
Julgo que o vencedor do campeonato de 2010, vai sair de uma destas equipas, "Catenaccio" ou "Escrete".
Ena, fiquei a conhecer uma palavra nova: facínoras
ResponderEliminarPois é . embora eles d vez em qnd se passem, o blog ta bom e sempre se aprende qqer coisinha c eles. Essa palavra foi uma delas :P
ResponderEliminarNuno, concordo que possa ser discutível o facto de ter dito que a selecção brasileira de 1982 foi a melhor que o país do samba já apresentou... afinal, quer a de 1970, quer a de 2002 conquistaram o mundial e essa não. todavia, o brasil de 1982 era fortíssimo em todos os postos, com a excepção do que era ocupado pelo serginho. eram todos jogadores de craveira mundial e, atenção, estavam praticamente todos no auge. a defesa era excelente, e o meio campo, enfim, absolutamente genial. em relação à selecção de 1970, que fez um jogo fantástico precisamente contra a Itália na final (aquela jogada do golo do lateral Carlos Alberto é qualquer coisa!!), acho que tinham carências quer em termos de construção de jogo, como na defesa. Mas concordo que a de 1970 é talvez a única capaz de rivalizar em teoria com a de 1982. Quanto à de 2002, sinceramente não concordo - aproveito para dizer que é uma das poucas vezes em que estou em desacordo contigo nuno.. a qualificação foi deprimente, a equipa não era tão homogénea quanto isso (daí, parece-me as extremas dificuldades que sentiram na qualificação, por exemplo) e acho que beneficiou muito da acção de 3 ou 4 jogadores notáveis - para além de não ter enfrentado grande concorrência até à final e ainda assim terem sido beneficiados contra a Turquia - e de um Rivaldo absolutamente brilhante.
ResponderEliminarps- parabéns pelo blog e pelas ideias que costumam apresentar.. são uma lufada de ar fresco :)
..às vezes dou comigo a imaginar como seria essa equipa de 82 com um avançado como careca, que jogou na de 86, no lugar do serginho :)
ResponderEliminarQuanto à de 2002, referia-me a conjunto de individualidades. Como colectivo, de facto, eram deprimentes, não fosse o treinador quem era. Mas em termos individuais eram fortíssimos: Rivaldo, Ronaldinho, Kaká, Ronaldo, Cafu, Roberto Carlos, etc. E o Romário, que não foi porque o Scolari assim teimou? Mas pronto, como equipa ficavam muito aquém do desejado.
ResponderEliminarFaltou referir o 4-2 para a Itália que foi muito muito mal anulado.
ResponderEliminarAntognoni estava perfeitamente em jogo.
Foi muito perto do final, antes daquela fantástica defesa de Zoff.