Arjen Robben é um dos maiores desequilibradores do futebol mundial e, certamente, um dos melhores na sua posição. À margem das muitas lesões que tem sofrido ao longo da sua carreira, poucos não gostariam de contar com os seus serviços. O que pretendo defender, neste texto, é que, apesar de apreciar Robben e de lhe reconhecer capacidades individuais soberbas, dificilmente encaixaria a especificidade do seu futebol (pelo menos do futebol que, nos últimos anos, tem feito seu) numa equipa com um ideal colectivo como eu o concebo. Aliás, será objectivo deste texto argumentar que Robben, tal como joga no Bayern de Munique, apesar de temível individualmente, é nocivo à evolução da equipa enquanto colectivo. Por arrasto, será defendido que todo o jogador que tenha a tarefa específica de ser o principal desequilibrador da equipa é nocivo à desenvoltura colectiva dessa equipa.
O Bayern de Van Gaal, apesar de, muitas vezes, parecer uma equipa frágil a defender e não ter ideias ofensivas, é uma equipa muitíssimo responsável em termos posicionais, com fio de jogo como poucas e com bastantes princípios ofensivos. O 4231 implementado pelo técnico holandês é mais arrojado que um 4231 tradicional, nem que seja pelo facto de não jogar com um único médio de características tradicionalmente defensivas. À parte dos problemas que a equipa tem em fechar os espaços entre os defesas e os médios, o modelo é interessante. Ofensivamente, as movimentações de Müller, como eram as de Litmanen no Ajax de Van Gaal, são das mais interessantes naquela posição. O Bayern é também das equipas europeias que melhor joga com o espaço entre linhas, e das que melhor procura os espaços certos para atacar. O problema, a meu ver, está na especificidade de alguns dos seus atletas. O ano passado, sem Robben, que esteve grande parte da época lesionado, o Bayern teve de procurar resolver os seus problemas de variadíssimas maneiras e, com isso, evoluiu colectivamente. Ribery, por melhor que seja em termos individuais, não é Robben. Não é um chamariz como o holandês e não tem a influência do seu colega. Sem Robben, o Bayern jogava mais pelo meio, era mais vertical, solicitava menos as acções individuais dos seus extremos e envolvia mais atletas no processo ofensivo.
Este ano, com Robben em condições, uma grande fatia das soluções ofensivas da equipa passa por circular a bola até ao holandês, normalmente na extrema direita, em afastar todos os colegas dele, de modo a arrastar adversários e a conceder-lhe espaço, e a deixar entregue ao seu talento a solução individual de cada ataque. É estratégico, neste Bayern, levar a bola até Robben e depois autorizar-lhe e fornecer-lhe as condições ideais para que desequilibre. O problema desta estratégia é que, por mais que desequilibre individualmente, é previsível. A previsibilidade do futebol dos bávaros, este ano, é inacreditável. Ainda que Robben, por si, não seja normalmente previsível, o simples conhecimento desta estratégia por parte dos adversários prepara-os para a mesma. E, por a estratégia ser previsível, as acções de Robben têm também muito menos consequências. Por norma, os adversários obrigam-no a vir para o meio, a procurar cruzamentos largos pouco eficazes. Por Robben ter tanto destaque, o Bayern, enquanto equipa, tornou-se mais fácil de parar. Bastou, para isso, que os adversários se preparassem para os momentos em que a bola entrasse no holandês.
O grande problema do Bayern, segundo esta análise, foi por isso aquilo que era, aparentemente, a sua melhor solução. É um caso ímpar de como o peso excessivo de uma unidade numa equipa, ainda que uma unidade individualmente muito útil, pode comprometer o colectivo. O que Van Gaal fez foi o contrário do que se deve fazer: submeteu as características do modelo à especificidade de Robben, quando deveria ter encaixado o holandês na estrutura colectiva. O que este exemplo, no fundo, ilustra é aquela velha teoria que sempre se defendeu aqui de que o modelo tem de estar acima da especificidade dos jogadores. Pouquíssimos defenderão o mesmo que nós. Para a grande maioria, o modelo ideal deve aproveitar e adaptar-se à especificidade dos atletas, tirando desse modo o melhor de cada um. Para nós, o modelo ideal está acima de qualquer individualidade e compete ao treinador não adaptar a sua ideia de jogo aos jogadores que possui, mas o contrário, adaptar os jogadores que possui à ideia de jogo, que lhes é anterior. Arjen Robben é fortíssimo no um para um, mas o Bayern não precisava de focar-se estrategicamente nessa capacidade para ser bem sucedido. Pelo contrário, seria bem mais sucedido se preconizasse um modelo estrategicamente diferente, em que todas as individualidades obedecessem a uma ideia homogénea. Incluído num conjunto com uma ideia estritamente colectiva do jogo, sem estar presa à tarefa de desequilibrar individualmente, a especificidade de Robben acabaria por ser eficaz quando tivesse que ser. Nessas condições, nem o Bayern estaria dependente da inspiração de Robben, procurando o êxito por outros caminhos e tornando-se menos previsível, nem Robben estaria dependente de si mesmo. Os grandes jogadores só adquirem a excelência se não dependerem exclusivamente de si mesmos, o que é o mesmo que dizer que só podem valorizar-se quando integrados em conjuntos em que não têm a missão hercúlea de resolver tudo e mais alguma coisa. Nada disto é uma crítica a Robben. Nem tão-pouco a Louis Van Gaal. Trata-se de um vício muitíssimo abrangente de cuja natureza tóxica só um treinador do mundo me parece ter consciência clara.
O Bayern de Van Gaal, apesar de, muitas vezes, parecer uma equipa frágil a defender e não ter ideias ofensivas, é uma equipa muitíssimo responsável em termos posicionais, com fio de jogo como poucas e com bastantes princípios ofensivos. O 4231 implementado pelo técnico holandês é mais arrojado que um 4231 tradicional, nem que seja pelo facto de não jogar com um único médio de características tradicionalmente defensivas. À parte dos problemas que a equipa tem em fechar os espaços entre os defesas e os médios, o modelo é interessante. Ofensivamente, as movimentações de Müller, como eram as de Litmanen no Ajax de Van Gaal, são das mais interessantes naquela posição. O Bayern é também das equipas europeias que melhor joga com o espaço entre linhas, e das que melhor procura os espaços certos para atacar. O problema, a meu ver, está na especificidade de alguns dos seus atletas. O ano passado, sem Robben, que esteve grande parte da época lesionado, o Bayern teve de procurar resolver os seus problemas de variadíssimas maneiras e, com isso, evoluiu colectivamente. Ribery, por melhor que seja em termos individuais, não é Robben. Não é um chamariz como o holandês e não tem a influência do seu colega. Sem Robben, o Bayern jogava mais pelo meio, era mais vertical, solicitava menos as acções individuais dos seus extremos e envolvia mais atletas no processo ofensivo.
Este ano, com Robben em condições, uma grande fatia das soluções ofensivas da equipa passa por circular a bola até ao holandês, normalmente na extrema direita, em afastar todos os colegas dele, de modo a arrastar adversários e a conceder-lhe espaço, e a deixar entregue ao seu talento a solução individual de cada ataque. É estratégico, neste Bayern, levar a bola até Robben e depois autorizar-lhe e fornecer-lhe as condições ideais para que desequilibre. O problema desta estratégia é que, por mais que desequilibre individualmente, é previsível. A previsibilidade do futebol dos bávaros, este ano, é inacreditável. Ainda que Robben, por si, não seja normalmente previsível, o simples conhecimento desta estratégia por parte dos adversários prepara-os para a mesma. E, por a estratégia ser previsível, as acções de Robben têm também muito menos consequências. Por norma, os adversários obrigam-no a vir para o meio, a procurar cruzamentos largos pouco eficazes. Por Robben ter tanto destaque, o Bayern, enquanto equipa, tornou-se mais fácil de parar. Bastou, para isso, que os adversários se preparassem para os momentos em que a bola entrasse no holandês.
O grande problema do Bayern, segundo esta análise, foi por isso aquilo que era, aparentemente, a sua melhor solução. É um caso ímpar de como o peso excessivo de uma unidade numa equipa, ainda que uma unidade individualmente muito útil, pode comprometer o colectivo. O que Van Gaal fez foi o contrário do que se deve fazer: submeteu as características do modelo à especificidade de Robben, quando deveria ter encaixado o holandês na estrutura colectiva. O que este exemplo, no fundo, ilustra é aquela velha teoria que sempre se defendeu aqui de que o modelo tem de estar acima da especificidade dos jogadores. Pouquíssimos defenderão o mesmo que nós. Para a grande maioria, o modelo ideal deve aproveitar e adaptar-se à especificidade dos atletas, tirando desse modo o melhor de cada um. Para nós, o modelo ideal está acima de qualquer individualidade e compete ao treinador não adaptar a sua ideia de jogo aos jogadores que possui, mas o contrário, adaptar os jogadores que possui à ideia de jogo, que lhes é anterior. Arjen Robben é fortíssimo no um para um, mas o Bayern não precisava de focar-se estrategicamente nessa capacidade para ser bem sucedido. Pelo contrário, seria bem mais sucedido se preconizasse um modelo estrategicamente diferente, em que todas as individualidades obedecessem a uma ideia homogénea. Incluído num conjunto com uma ideia estritamente colectiva do jogo, sem estar presa à tarefa de desequilibrar individualmente, a especificidade de Robben acabaria por ser eficaz quando tivesse que ser. Nessas condições, nem o Bayern estaria dependente da inspiração de Robben, procurando o êxito por outros caminhos e tornando-se menos previsível, nem Robben estaria dependente de si mesmo. Os grandes jogadores só adquirem a excelência se não dependerem exclusivamente de si mesmos, o que é o mesmo que dizer que só podem valorizar-se quando integrados em conjuntos em que não têm a missão hercúlea de resolver tudo e mais alguma coisa. Nada disto é uma crítica a Robben. Nem tão-pouco a Louis Van Gaal. Trata-se de um vício muitíssimo abrangente de cuja natureza tóxica só um treinador do mundo me parece ter consciência clara.