Tem vindo a crescer, com a importância dada a Hulk no Porto, a indignação contra a forma como o futebol do brasileiro não é protegido pela arbitragem. Começou com a frase importada de uma situação passada com Mantorras, "Deixem jogar o Hulk!", e culminou com a crítica à expulsão do brasileiro na primeira jornada da Liga. Não vi as imagens do primeiro amarelo, por isso não sei com que justiça o viu. Já o segundo é bem mostrado e o único culpado da sua exibição é o próprio Hulk. Não me vou deter, porém, neste jogo e nesta expulsão. Interessa-me, isso sim, debater os protestos de Hulk e de Jesualdo Ferreira, as alegações de que o futebol de Hulk deve ser protegido.
Em primeiro lugar, o árbitro não tem que proteger ninguém. Um árbitro deve ser isento e não a Madre Teresa de Calcutá. A única coisa que tem de fazer é aplicar leis. A aplicação correcta das leis encarregar-se-á de proteger quem tem de ser protegido. Assim, os jogadores mais imaginativos, tecnicamente mais dotados, de drible curto, capazes de esconder melhor a bola, serão sempre mais protegidos, porque serão inevitavelmente travados pela força ou pela transgressão das leis. Uma boa arbitragem protegerá assim, por consequência da aplicação das regras de futebol e não por qualquer diligência de índole caridosa, aqueles que merecem ser protegidos, aqueles que não têm outros argumentos além dos futebolísticos. Ora, não é, de todo, o caso de Hulk. É aqui que começa o ridículo da questão.
Ao contrário do que se pensa e do que se afirma em praça pública, com pompa e orgulho de gente pobre, o futebol não é um jogo de contacto. Muitos dirão que futebol não é basquetebol e que pode haver contacto. A resposta a estes é simples: vão às leis! A única carga permitida é a carga de ombro. E porquê? Porque é uma carga em condições iguais, assente numa superfície de corpo idêntica e em condições de equilíbrio semelhantes. Tirando a carga de ombro, todo o contacto que, de algum modo, perturbe o equilíbrio do jogador em posse da bola deve ser punido. Quem disser o contrário, não sabe o que é futebol. Não implica isto que não possa haver contactos, que um defesa não possa tocar no avançado, que não se possa encostar nele. Pode, evidentemente. O que não pode é usar esse contacto para ganhar vantagem na discussão pela bola; não pode desequilibrar minimamente o adversário para que este execute deficientemente; não pode agarrá-lo minimamente para que perca tempo de execução; não pode, em suma, fazer nada que não seja tentar recuperar a bola. Os melhores defesas são precisamente aqueles que não fazem uso do choque, são os que têm melhor tempo de desarme, os que são mais velozes e perspicazes a ganhar posição, os que percebem mais rapidamente as intenções do adversário, os que se conseguem antecipar melhor, os que lêem melhor as possibilidades de êxito das suas acções.
Aquilo que não se percebe em relação ao contacto é que ele não é uma possibilidade em futebol; é tão-somente uma consequência. Não é permitido usar o contacto físico para ganhar posição ou para ganhar qualquer tipo de vantagem. No entanto, há e deve haver contacto. Mas apenas como uma consequência natural de uma luta saudável pela melhor posição. Para dar um exemplo concreto, dois adversários acorrem a uma bola e um deles acaba por ocupar a melhor posição em primeiro lugar. É natural que, dada a proximidade dos dois, aconteça um contacto entre eles, mas esse contacto é consequência dessa disputa de bola. Em momento algum o contacto deve ser utilizado para ganhar vantagem na disputa da bola. É - repito - apenas uma consequência natural dessa disputa. Logo, todo o contacto que não seja resultado de uma consequência natural deve ser punido.
Isto não vale apenas para os defesas. É também para os atacantes. Em diversos momentos, numa disputa entre um atacante e um defesa, o defesa consegue ocupar a melhor posição face à bola. Se o atacante usar o contacto para recuperar essa posição e manter a posse de bola, deve ser punido tal como um defesa que use o contacto para ganhar posição o deve. É aqui que entra o futebol de Hulk. Hulk, pelas suas características, não é um jogador de drible curto e não tem uma capacidade extraordinária para proteger e esconder a bola. As suas virtudes são a velocidade e a força física. Consegue evitar os adversários muito mais graças às suas capacidades atléticas do que à sua capacidade técnica. Não é, por isso, um jogador que evite o choque. Ele é até uma das suas maiores armas. Assim sendo, a principal razão para que as suas lamentações não façam qualquer sentido é que aquilo de que se queixa é precisamente aquilo que lhe permite ser o que é.
Hulk queixa-se que os defesas não o deixam jogar quando é ele quem, pelo seu estilo de jogo, promove o contacto, quando é ele quem precisa dos duelos físicos para impor o seu futebol. Queria o quê? Que saíssem da frente e não o perturbassem? O futebol é um jogo para futebolistas, não para camiões TIR. Para progredir individualmente com a bola não basta metê-la para a frente e passar por cima de quem se coloca no meio do caminho. Hulk queixa-se também que os árbitros lhe assinalam muitas faltas. Maior parte delas são, de facto, falta. Mais uma vez, parece que queria que fossem criadas leis especiais em que só era falta quando fosse cometida sobre ele. Resulta disto que Hulk me parece não ter noção de quão ridículo é. O seu futebol vive da força e não me parece que o consiga perceber. Julga-se Maradona, certamente. Mas tem pouco a ver com o astro argentino. É que esse levava porrada porque saía do meio de três adversários com a bola controlada sem lhes tocar. Hulk sai do meio de três adversários pondo a bola para o lado e correndo ou deitando-os abaixo. O seu futebol vive da força e precisa até dela. Como tal, maior parte dos lances são disputados no máximo, sendo por isso muitas vezes impossível fugir ao contacto. É natural, por isso, que cometa muitas faltas, porque joga no limite, e que muitas vezes vá ao chão, porque tenta furar, sem arte, por onde nem Maradona se atreveria a passar. A única protecção de que Hulk necessita, portanto, é a de poder passar a entrar em campo conduzindo um carro blindado. Seria certamente mais difícil derrubá-lo.
Se o incrível Hulk me parece incrivelmente ridículo ao julgar que não o deixam jogar, já Jesualdo me parece desonesto. Fala em "falta de coragem para aplicar as leis" e imagina que Hulk esteja mesmo a ser prejudicado. O que queria Jesualdo? Que os adversários se pusessem em fila e abrissem o mais possível a defesa para não incomodar o brasileiro. O futebol não é um jogo de contacto, mas um jogo de posição. Os defesas têm por competência ocupar, a cada instante, a melhor posição possível de modo a vedar o caminho da baliza ao adversário. Se, por acaso, o adversário tem um tipo de futebol que consiste em tentar passar por cima dos outros, os defesas não têm a culpa. Ainda não vi nenhuma entrada à margem das leis sobre Hulk que não tivesse sido punida condignamente, ainda não vi entradas para aleijar sobre o brasileiro, ainda não vi nada que não fosse a normal função de um defesa. Hulk é que julga que é um comboio. E Jesualdo ajuda, fazendo "Puh-puh, pouca terra, pouca terra..."
Em primeiro lugar, o árbitro não tem que proteger ninguém. Um árbitro deve ser isento e não a Madre Teresa de Calcutá. A única coisa que tem de fazer é aplicar leis. A aplicação correcta das leis encarregar-se-á de proteger quem tem de ser protegido. Assim, os jogadores mais imaginativos, tecnicamente mais dotados, de drible curto, capazes de esconder melhor a bola, serão sempre mais protegidos, porque serão inevitavelmente travados pela força ou pela transgressão das leis. Uma boa arbitragem protegerá assim, por consequência da aplicação das regras de futebol e não por qualquer diligência de índole caridosa, aqueles que merecem ser protegidos, aqueles que não têm outros argumentos além dos futebolísticos. Ora, não é, de todo, o caso de Hulk. É aqui que começa o ridículo da questão.
Ao contrário do que se pensa e do que se afirma em praça pública, com pompa e orgulho de gente pobre, o futebol não é um jogo de contacto. Muitos dirão que futebol não é basquetebol e que pode haver contacto. A resposta a estes é simples: vão às leis! A única carga permitida é a carga de ombro. E porquê? Porque é uma carga em condições iguais, assente numa superfície de corpo idêntica e em condições de equilíbrio semelhantes. Tirando a carga de ombro, todo o contacto que, de algum modo, perturbe o equilíbrio do jogador em posse da bola deve ser punido. Quem disser o contrário, não sabe o que é futebol. Não implica isto que não possa haver contactos, que um defesa não possa tocar no avançado, que não se possa encostar nele. Pode, evidentemente. O que não pode é usar esse contacto para ganhar vantagem na discussão pela bola; não pode desequilibrar minimamente o adversário para que este execute deficientemente; não pode agarrá-lo minimamente para que perca tempo de execução; não pode, em suma, fazer nada que não seja tentar recuperar a bola. Os melhores defesas são precisamente aqueles que não fazem uso do choque, são os que têm melhor tempo de desarme, os que são mais velozes e perspicazes a ganhar posição, os que percebem mais rapidamente as intenções do adversário, os que se conseguem antecipar melhor, os que lêem melhor as possibilidades de êxito das suas acções.
Aquilo que não se percebe em relação ao contacto é que ele não é uma possibilidade em futebol; é tão-somente uma consequência. Não é permitido usar o contacto físico para ganhar posição ou para ganhar qualquer tipo de vantagem. No entanto, há e deve haver contacto. Mas apenas como uma consequência natural de uma luta saudável pela melhor posição. Para dar um exemplo concreto, dois adversários acorrem a uma bola e um deles acaba por ocupar a melhor posição em primeiro lugar. É natural que, dada a proximidade dos dois, aconteça um contacto entre eles, mas esse contacto é consequência dessa disputa de bola. Em momento algum o contacto deve ser utilizado para ganhar vantagem na disputa da bola. É - repito - apenas uma consequência natural dessa disputa. Logo, todo o contacto que não seja resultado de uma consequência natural deve ser punido.
Isto não vale apenas para os defesas. É também para os atacantes. Em diversos momentos, numa disputa entre um atacante e um defesa, o defesa consegue ocupar a melhor posição face à bola. Se o atacante usar o contacto para recuperar essa posição e manter a posse de bola, deve ser punido tal como um defesa que use o contacto para ganhar posição o deve. É aqui que entra o futebol de Hulk. Hulk, pelas suas características, não é um jogador de drible curto e não tem uma capacidade extraordinária para proteger e esconder a bola. As suas virtudes são a velocidade e a força física. Consegue evitar os adversários muito mais graças às suas capacidades atléticas do que à sua capacidade técnica. Não é, por isso, um jogador que evite o choque. Ele é até uma das suas maiores armas. Assim sendo, a principal razão para que as suas lamentações não façam qualquer sentido é que aquilo de que se queixa é precisamente aquilo que lhe permite ser o que é.
Hulk queixa-se que os defesas não o deixam jogar quando é ele quem, pelo seu estilo de jogo, promove o contacto, quando é ele quem precisa dos duelos físicos para impor o seu futebol. Queria o quê? Que saíssem da frente e não o perturbassem? O futebol é um jogo para futebolistas, não para camiões TIR. Para progredir individualmente com a bola não basta metê-la para a frente e passar por cima de quem se coloca no meio do caminho. Hulk queixa-se também que os árbitros lhe assinalam muitas faltas. Maior parte delas são, de facto, falta. Mais uma vez, parece que queria que fossem criadas leis especiais em que só era falta quando fosse cometida sobre ele. Resulta disto que Hulk me parece não ter noção de quão ridículo é. O seu futebol vive da força e não me parece que o consiga perceber. Julga-se Maradona, certamente. Mas tem pouco a ver com o astro argentino. É que esse levava porrada porque saía do meio de três adversários com a bola controlada sem lhes tocar. Hulk sai do meio de três adversários pondo a bola para o lado e correndo ou deitando-os abaixo. O seu futebol vive da força e precisa até dela. Como tal, maior parte dos lances são disputados no máximo, sendo por isso muitas vezes impossível fugir ao contacto. É natural, por isso, que cometa muitas faltas, porque joga no limite, e que muitas vezes vá ao chão, porque tenta furar, sem arte, por onde nem Maradona se atreveria a passar. A única protecção de que Hulk necessita, portanto, é a de poder passar a entrar em campo conduzindo um carro blindado. Seria certamente mais difícil derrubá-lo.
Se o incrível Hulk me parece incrivelmente ridículo ao julgar que não o deixam jogar, já Jesualdo me parece desonesto. Fala em "falta de coragem para aplicar as leis" e imagina que Hulk esteja mesmo a ser prejudicado. O que queria Jesualdo? Que os adversários se pusessem em fila e abrissem o mais possível a defesa para não incomodar o brasileiro. O futebol não é um jogo de contacto, mas um jogo de posição. Os defesas têm por competência ocupar, a cada instante, a melhor posição possível de modo a vedar o caminho da baliza ao adversário. Se, por acaso, o adversário tem um tipo de futebol que consiste em tentar passar por cima dos outros, os defesas não têm a culpa. Ainda não vi nenhuma entrada à margem das leis sobre Hulk que não tivesse sido punida condignamente, ainda não vi entradas para aleijar sobre o brasileiro, ainda não vi nada que não fosse a normal função de um defesa. Hulk é que julga que é um comboio. E Jesualdo ajuda, fazendo "Puh-puh, pouca terra, pouca terra..."