O Sporting arranca para a nova temporada com apenas duas ou três caras novas. No onze inicial, aparece apenas Matías Fernandez, que rende Romagnoli. O chileno tem classe que nunca mais acaba, é inteligente, rapidíssimo a executar, raramente complica e, mesmo assim, o Sporting é ofensivamente uma nulidade. O que é que está mal? Aqueles que insistem em encontrar bodes expiatórios nas individualidades e não nas relações que as individualidades mantém com o colectivo jamais chegarão a conclusões plausíveis. Pessoalmente, o mau futebol deste início de temporada da equipa leonina não me surpreende minimamente, pois radica num problema que não é novo e que é de natureza exclusivamente colectiva. Mudar argentinos por chilenos, por isso, é como mudar, na confecção de um bolo, ovos podres por leite estragado. O resultado será sempre uma dor de barriga.
O objectivo deste texto é, pois, afirmar que o problema do passado do Sporting não foi a falta de qualidade individual, pois ela abunda, mas sim a falta de qualidade colectiva, e afirmar ainda que, não tendo havido modificações na filosofia de jogo, o Sporting deste ano padecerá do mesmo mal e que, apesar de ser mais forte no drible do que Romagnoli, Matías Fernandez sofrerá o mesmo tipo de problemas que o argentino, pois estará à mercê da mediocridade do colectivo. Individualmente, o plantel do Sporting é mais rico que o do Porto. Já o era no ano passado. No entanto, no plano colectivo, a equipa comandada por Jesualdo Ferreira é muito superior. E isso faz toda a diferença.
Mas quais são, afinal, os problemas colectivos do Sporting e de que maneira é que esses problemas afectam o desempenho individual dos jogadores? Há quem ache que o losango serve essencialmente fins defensivos, ou seja, que serve para preencher melhor os espaços centrais, ajudando a que a equipa tenha uma maior concentração de jogadores no meio. Isso não é verdade. O losango é das tácticas que melhor se adequa a quem pretende jogar de forma apoiada, a quem privilegia a circulação de bola e o passe curto, a quem pretende progredir no terreno de forma faseada, calmamente, com segurança. Porquê? Porque gera uma maior quantidade de apoios próximos, porque tem os seus elementos mais juntos, capazes de fornecer apoios curtos mais rapidamente. Bem explorado, o losango, porque cria três linhas diferentes só no meio-campo, permite, em posse, um melhor preenchimento dos espaços entre as linhas do adversário, o que possibilita que a qualidade da posse de bola seja melhor e mais eficaz. Essa potencialidade, contudo, não é explorada pelo losango de Paulo Bento. Aliás, o discurso recorrente do treinador leonino detém-se sobre a importância da exploração dos corredores laterais, quando toda e qualquer boa circulação de bola tem de fugir o mais possível dos corredores laterais.
É aqui que reside o primeiro problema, problema esse que não é só de Paulo Bento, mas da grande maioria das pessoas que falam de futebol. Convencionou-se dizer que toda e qualquer equipa que queira atacar bem tem de fazê-lo pelos corredores laterais. Isto é das coisas mais estúpidas que há. É sempre mais fácil asfixiar o ataque adversário quando este é conduzido pelas linhas do que pelo meio. Porquê? Porque a linha lateral funciona como um defesa. Ora, Paulo Bento, quer pelo discurso, quer pelas suas ideias, não percebe isto. É por isso que, de ano para ano, pretendeu do seu losango mais amplitude; é por isso que o sistema alternativo é um 442 clássico, com alas abertos; é por isso que a única coisa verdadeiramente colectiva que o Sporting teve consigo foram aquelas movimentações horizontais de Romagnoli, a criar superioridade numérica num flanco de forma a que a equipa conseguisse chegar à linha de fundo forçando a passagem pelo corredor lateral. O primeiro problema do Sporting é não perceber que não se deve atacar pelos corredores laterais. Os corredores laterais servem para chamar o adversário e para depois, desbloqueando a situação e voltando ao meio, rodar rapidamente o jogo levando a bola para zonas de menor densidade; servem para ir lá e voltar. Sempre. É por isso que não interessa muito que os defesas laterais sejam, do ponto de vista individual, muito fortes. Porque os laterais devem ser sobretudo competentes a jogar para dentro, quando o jogo está do seu lado, de modo a fazer a bola regressar ao meio, e inteligentes a ocupar os espaços vazios quando o jogo está do outro lado, de modo a permitir à equipa largura e profundidade.
Ao contrário, portanto, do que deveria ser, o princípio ofensivo de base do Sporting passa por insistir nos corredores laterais, quer através de combinações entre o lateral e o interior desse lado, quer através de pontapés ao longo da linha a explorar a entrada de um dos avançados, quer através da insistência pelo lado fechado do jogo, quando a bola vem ao trinco ou a um central e, em vez de ir para o outro lado, regressa ao sítio de onde viera, princípio básico que o Sporting não cumpre, certamente por instrução técnica. Assim, a equipa fica refém de duas ou três movimentações típicas, fáceis de anular, com os jogadores que recebem a bola sempre de costas para a baliza e asfixiados contra as linhas laterais. Atrevo-me a dizer que, com bola, o Sporting de Paulo Bento é das equipas que pior ocupa os espaços ofensivos, insistindo em entrar por onde há mais gente e tornando o jogo muito pouco fluido. Acresce a este problema, relacionado inteiramente com ele, tudo o resto. Por causa disto, o Sporting não troca bem a bola; não consegue explorar as zonas onde há mais espaços; não utiliza passes verticais a solicitar os avançados ou o médio-ofensivo, que poderiam funcionar como "pivot", jogando de costas e servindo de frente; tem o losango sempre muito aberto, para ocupar o melhor possível os espaços laterais, o que descuida o centro e não propicia apoios curtos; cai num excesso de objectividade absurdo que tem como principais evidências os pontapés longos dos centrais, a incapacidade de lateralizar o jogo ou de trocar calmamente a bola e a pressa de chegar à frente. A melhor maneira de demonstrar isto é recorrer à memória. Quantas vezes os avançados do Sporting aparecem isolados frente aos guarda-redes adversários? Quantas vezes aparecem em zona de finalização os médios? Quantas vezes se desbloqueiam situações ofensivas pelo meio recorrendo a uma simples tabela? As oportunidades de golo do Sporting resumem-se a remates de longe ou a cruzamentos, quer de fora, quer da linha final para trás. E isso é muito pouco. E é, sobretudo, previsível. Contra equipas que se fecham bem atrás, então, é estupidamente ineficaz.
Estes são os problemas colectivos do Sporting. Falta então explicar como é que estes problemas condicionam as individualidades. Alguns desses condicionamentos já foram referidos. Resumindo-se o jogo do Sporting a procurar as faixas, os processos ofensivos envolvem menos participantes, o que deixa inevitavelmente alguns elementos da equipa esquecidos nas zonas onde a bola não chega. É por isso que, aparentemente, há jogadores a "esconderem-se" do jogo. De igual modo, explorando as linhas laterais a todo o comprimento, os jogadores que recebem a bola raramente estão de frente para o jogo e, por norma, estão pressionados contra essa mesma linha lateral. Isso dificulta a manobra individual. Indo agora a cada uma das posições em campo, vemos que os jogadores que mais facilmente se destacam, por terem mais bola, são os centrais e o médio-defensivo. Os laterais, por exemplo, e falando apenas no plano ofensivo, dificilmente podem ter protagonismo porque actuam numa zona sobrepovoada, numa zona que deveria ser explorada quando não tem ninguém, mas que o é sistematicamente. Os interiores, que deveriam ser jogadores de equilíbrios, de apoios, têm um papel que depois entra em conflito com as necessidades defensivas da equipa. Supostamente, são eles que devem dar profundidade e largura ao meio-campo, são eles que são incumbidos do trabalho exterior e de povoar as alas. Isso torna-se excessivo e desgastante tendo em conta que, depois, defensivamente, o que lhes é pedido é que fechem no meio. Sofrem portanto um desgaste desnecessário e ocupam zonas, em termos ofensivos, que não os beneficia. Quanto aos avançados, têm a dupla missão de se movimentarem horizontalmente para servirem de referência mais avançada junto a uma linha, recebendo a bola sempre de costas e contra a linha, e de estarem na área para finalizar. Isto é de tal maneira redutor que passam maior parte do tempo sem bola ou recebem-na sempre em condições muito difíceis. Não havendo passes verticais centrais, a explorar o posicionamento ofensivo do avançado de costas para a baliza, os avançados estão sistematicamente fora do jogo ou são solicitados de uma forma que lhes dificulta a acção. É por isso que Liedson parece que é melhor que os outros, porque acrescenta às tarefas que lhe são dadas (e que o deixariam, certamente, menos em jogo) uma auto-iniciativa que, para muita gente, é louvável, tentando estar mais em jogo correndo para tudo o que é sítio e desdobrando-se em tarefas que não deveriam ser as dele. Quanto ao médio-ofensivo, e aqui reside a razão para Romagnoli e Matías Fernandez renderem menos do que poderiam, é a maior vítima desta forma de jogar. Não havendo exploração do espaço central e estando os interiores tão abertos para possibilitar superioridade numérica junto às linhas, a bola não só não entra no médio-ofensivo regularmente, o que poderia facilitar a progressão da equipa por entre as linhas defensivas do adversário, como, mesmo quando entra, não há apoios próximos dele de modo a que este possa jogar de frente e não seja obrigado a rodar. Assim, o médio-ofensivo, supostamente o jogador mais imaginativo da equipa, torna-se uma referência meramente ocasional e que, quando solicitado, fica invariavelmente entregue a si próprio. Sendo este um jogador que, pela natureza da posição que ocupa, recebe maior parte das bolas de costas para o jogo, só se tornaria rentável se tivesse , com frequência, companheiros perto de si com quem tabelar. Isso não acontece e, mesmo sendo possuidor de uma técnica acima da média, de nada adianta. A Matías Fernandez, por isso, antevejo a mesma queda na banalidade que ostracizou Romagnoli. O problema, obviamente, não é dele, como não o era de Romagnoli. Aliás, o argentino, sempre que a equipa jogou bem, foi fundamental. O problema é, isso sim, de um colectivo cujo tipo de preocupações condena quem quer que jogue ali. O médio-ofensivo, bem como boa parte dos elementos que actuem do meio-campo para a frente, será sempre, dentro desta filosofia de jogo, um jogador abaixo das suas potencialidades. O Sporting de Paulo Bento é, pois, um caso claro de como o colectivo ofusca as individualidades, um caso de como as amarras tácticas prejudicam ostensivamente cada um dos jogadores e também um caso exemplar de obsessão excessiva com coisas erradas.
O objectivo deste texto é, pois, afirmar que o problema do passado do Sporting não foi a falta de qualidade individual, pois ela abunda, mas sim a falta de qualidade colectiva, e afirmar ainda que, não tendo havido modificações na filosofia de jogo, o Sporting deste ano padecerá do mesmo mal e que, apesar de ser mais forte no drible do que Romagnoli, Matías Fernandez sofrerá o mesmo tipo de problemas que o argentino, pois estará à mercê da mediocridade do colectivo. Individualmente, o plantel do Sporting é mais rico que o do Porto. Já o era no ano passado. No entanto, no plano colectivo, a equipa comandada por Jesualdo Ferreira é muito superior. E isso faz toda a diferença.
Mas quais são, afinal, os problemas colectivos do Sporting e de que maneira é que esses problemas afectam o desempenho individual dos jogadores? Há quem ache que o losango serve essencialmente fins defensivos, ou seja, que serve para preencher melhor os espaços centrais, ajudando a que a equipa tenha uma maior concentração de jogadores no meio. Isso não é verdade. O losango é das tácticas que melhor se adequa a quem pretende jogar de forma apoiada, a quem privilegia a circulação de bola e o passe curto, a quem pretende progredir no terreno de forma faseada, calmamente, com segurança. Porquê? Porque gera uma maior quantidade de apoios próximos, porque tem os seus elementos mais juntos, capazes de fornecer apoios curtos mais rapidamente. Bem explorado, o losango, porque cria três linhas diferentes só no meio-campo, permite, em posse, um melhor preenchimento dos espaços entre as linhas do adversário, o que possibilita que a qualidade da posse de bola seja melhor e mais eficaz. Essa potencialidade, contudo, não é explorada pelo losango de Paulo Bento. Aliás, o discurso recorrente do treinador leonino detém-se sobre a importância da exploração dos corredores laterais, quando toda e qualquer boa circulação de bola tem de fugir o mais possível dos corredores laterais.
É aqui que reside o primeiro problema, problema esse que não é só de Paulo Bento, mas da grande maioria das pessoas que falam de futebol. Convencionou-se dizer que toda e qualquer equipa que queira atacar bem tem de fazê-lo pelos corredores laterais. Isto é das coisas mais estúpidas que há. É sempre mais fácil asfixiar o ataque adversário quando este é conduzido pelas linhas do que pelo meio. Porquê? Porque a linha lateral funciona como um defesa. Ora, Paulo Bento, quer pelo discurso, quer pelas suas ideias, não percebe isto. É por isso que, de ano para ano, pretendeu do seu losango mais amplitude; é por isso que o sistema alternativo é um 442 clássico, com alas abertos; é por isso que a única coisa verdadeiramente colectiva que o Sporting teve consigo foram aquelas movimentações horizontais de Romagnoli, a criar superioridade numérica num flanco de forma a que a equipa conseguisse chegar à linha de fundo forçando a passagem pelo corredor lateral. O primeiro problema do Sporting é não perceber que não se deve atacar pelos corredores laterais. Os corredores laterais servem para chamar o adversário e para depois, desbloqueando a situação e voltando ao meio, rodar rapidamente o jogo levando a bola para zonas de menor densidade; servem para ir lá e voltar. Sempre. É por isso que não interessa muito que os defesas laterais sejam, do ponto de vista individual, muito fortes. Porque os laterais devem ser sobretudo competentes a jogar para dentro, quando o jogo está do seu lado, de modo a fazer a bola regressar ao meio, e inteligentes a ocupar os espaços vazios quando o jogo está do outro lado, de modo a permitir à equipa largura e profundidade.
Ao contrário, portanto, do que deveria ser, o princípio ofensivo de base do Sporting passa por insistir nos corredores laterais, quer através de combinações entre o lateral e o interior desse lado, quer através de pontapés ao longo da linha a explorar a entrada de um dos avançados, quer através da insistência pelo lado fechado do jogo, quando a bola vem ao trinco ou a um central e, em vez de ir para o outro lado, regressa ao sítio de onde viera, princípio básico que o Sporting não cumpre, certamente por instrução técnica. Assim, a equipa fica refém de duas ou três movimentações típicas, fáceis de anular, com os jogadores que recebem a bola sempre de costas para a baliza e asfixiados contra as linhas laterais. Atrevo-me a dizer que, com bola, o Sporting de Paulo Bento é das equipas que pior ocupa os espaços ofensivos, insistindo em entrar por onde há mais gente e tornando o jogo muito pouco fluido. Acresce a este problema, relacionado inteiramente com ele, tudo o resto. Por causa disto, o Sporting não troca bem a bola; não consegue explorar as zonas onde há mais espaços; não utiliza passes verticais a solicitar os avançados ou o médio-ofensivo, que poderiam funcionar como "pivot", jogando de costas e servindo de frente; tem o losango sempre muito aberto, para ocupar o melhor possível os espaços laterais, o que descuida o centro e não propicia apoios curtos; cai num excesso de objectividade absurdo que tem como principais evidências os pontapés longos dos centrais, a incapacidade de lateralizar o jogo ou de trocar calmamente a bola e a pressa de chegar à frente. A melhor maneira de demonstrar isto é recorrer à memória. Quantas vezes os avançados do Sporting aparecem isolados frente aos guarda-redes adversários? Quantas vezes aparecem em zona de finalização os médios? Quantas vezes se desbloqueiam situações ofensivas pelo meio recorrendo a uma simples tabela? As oportunidades de golo do Sporting resumem-se a remates de longe ou a cruzamentos, quer de fora, quer da linha final para trás. E isso é muito pouco. E é, sobretudo, previsível. Contra equipas que se fecham bem atrás, então, é estupidamente ineficaz.
Estes são os problemas colectivos do Sporting. Falta então explicar como é que estes problemas condicionam as individualidades. Alguns desses condicionamentos já foram referidos. Resumindo-se o jogo do Sporting a procurar as faixas, os processos ofensivos envolvem menos participantes, o que deixa inevitavelmente alguns elementos da equipa esquecidos nas zonas onde a bola não chega. É por isso que, aparentemente, há jogadores a "esconderem-se" do jogo. De igual modo, explorando as linhas laterais a todo o comprimento, os jogadores que recebem a bola raramente estão de frente para o jogo e, por norma, estão pressionados contra essa mesma linha lateral. Isso dificulta a manobra individual. Indo agora a cada uma das posições em campo, vemos que os jogadores que mais facilmente se destacam, por terem mais bola, são os centrais e o médio-defensivo. Os laterais, por exemplo, e falando apenas no plano ofensivo, dificilmente podem ter protagonismo porque actuam numa zona sobrepovoada, numa zona que deveria ser explorada quando não tem ninguém, mas que o é sistematicamente. Os interiores, que deveriam ser jogadores de equilíbrios, de apoios, têm um papel que depois entra em conflito com as necessidades defensivas da equipa. Supostamente, são eles que devem dar profundidade e largura ao meio-campo, são eles que são incumbidos do trabalho exterior e de povoar as alas. Isso torna-se excessivo e desgastante tendo em conta que, depois, defensivamente, o que lhes é pedido é que fechem no meio. Sofrem portanto um desgaste desnecessário e ocupam zonas, em termos ofensivos, que não os beneficia. Quanto aos avançados, têm a dupla missão de se movimentarem horizontalmente para servirem de referência mais avançada junto a uma linha, recebendo a bola sempre de costas e contra a linha, e de estarem na área para finalizar. Isto é de tal maneira redutor que passam maior parte do tempo sem bola ou recebem-na sempre em condições muito difíceis. Não havendo passes verticais centrais, a explorar o posicionamento ofensivo do avançado de costas para a baliza, os avançados estão sistematicamente fora do jogo ou são solicitados de uma forma que lhes dificulta a acção. É por isso que Liedson parece que é melhor que os outros, porque acrescenta às tarefas que lhe são dadas (e que o deixariam, certamente, menos em jogo) uma auto-iniciativa que, para muita gente, é louvável, tentando estar mais em jogo correndo para tudo o que é sítio e desdobrando-se em tarefas que não deveriam ser as dele. Quanto ao médio-ofensivo, e aqui reside a razão para Romagnoli e Matías Fernandez renderem menos do que poderiam, é a maior vítima desta forma de jogar. Não havendo exploração do espaço central e estando os interiores tão abertos para possibilitar superioridade numérica junto às linhas, a bola não só não entra no médio-ofensivo regularmente, o que poderia facilitar a progressão da equipa por entre as linhas defensivas do adversário, como, mesmo quando entra, não há apoios próximos dele de modo a que este possa jogar de frente e não seja obrigado a rodar. Assim, o médio-ofensivo, supostamente o jogador mais imaginativo da equipa, torna-se uma referência meramente ocasional e que, quando solicitado, fica invariavelmente entregue a si próprio. Sendo este um jogador que, pela natureza da posição que ocupa, recebe maior parte das bolas de costas para o jogo, só se tornaria rentável se tivesse , com frequência, companheiros perto de si com quem tabelar. Isso não acontece e, mesmo sendo possuidor de uma técnica acima da média, de nada adianta. A Matías Fernandez, por isso, antevejo a mesma queda na banalidade que ostracizou Romagnoli. O problema, obviamente, não é dele, como não o era de Romagnoli. Aliás, o argentino, sempre que a equipa jogou bem, foi fundamental. O problema é, isso sim, de um colectivo cujo tipo de preocupações condena quem quer que jogue ali. O médio-ofensivo, bem como boa parte dos elementos que actuem do meio-campo para a frente, será sempre, dentro desta filosofia de jogo, um jogador abaixo das suas potencialidades. O Sporting de Paulo Bento é, pois, um caso claro de como o colectivo ofusca as individualidades, um caso de como as amarras tácticas prejudicam ostensivamente cada um dos jogadores e também um caso exemplar de obsessão excessiva com coisas erradas.