domingo, 29 de abril de 2007

Derby...

Bom inicio do Sporting. Com Romagnoli a beneficiar de uma liberdade muito perigosa, que lhe permite criar dificuldades ao último reduto benfiquista. O Benfica através da movimentação de Rui Costa, com este a procurar as faixas laterais, numa primeira fase, despovoava a zona central adversária, aproveitando Petit para subir, na tentativa de provocar desiquilíbrios. Nem sempre bem jogado, louve-se a tentativa de Rui Costa emprestar algum traço ao jogo da luz. Da parte dos lagartos, algum desnorte entre os 55 e 70 minutos de jogo. Uma segunda parte não menos pobre, sobretudo o meio campo leonino, permitiu que a equipa da luz pressionasse, criando algumas ( poucas) situações de golo. Ou então foi o Benfica que "forçou" a equipa leonina a descer, nestas coisas não me é fácil descobrir onde começa uma premissa e termina outra.
Coragem, e ambição. Paulo Bento. No presente, como no passado, procura a sorte, não espera por ela. Cedo ou tarde, por certo, a sorte irá legitimar o ditado.
Fernando Santos, começo a pensar que todos mandam... Menos ele... Agora foi Derlei. Quem será o próximo?
Golos. Nelson é batido, mas ninguém está à espera que ele chegue onde Luisão e Anderson não chegaram, pois não? No golo de Micooli, Nani esqueceu-se de marcar alguém na primeira bola, tendo depois Micooli feito a diferença. Nada demais. Ou, por outras palvras, nada que não estivessemos à espera.
Da parte do Benfica, Rui Costa, Micooli, Léo...? Muito bem. Por outro lado... Fernando santos, David luiz - este então veio por algum juízo em alguns lunáticos. - e Nuno Gomes.
No Sporting, Romagnoli, Polga - este claramente sem nível para ser seleccionado -, Tello, e Paulo Bento. No menos, Djaló, e Pereirinha. Mas atenção, segurem essa língua. Este miúdo vai ser uma referência... Dêem-lhe tempo.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Certezas...

Numa das mais inóspitas zonas do nosso futebol cresce um dos maiores talentos, da selecção de sub-20, que este ano vai participar no mundial da categoria com sede no Canadá.
Falo de Diogo Tavares, ex-avançado do Sporting, que agora milita no Génova, da segunda divisão italiana.
Forte do ponto de visto atlético, sendo de igual modo rápido, contudo, estes factores perdem dimensão perante outras qualidades que possui.
Com faro pelo golo, associado a uma boa leitura dos lances, que lhe permite uma boa colocação na área, acumula golos com uma facilidade invulgar.
Para além destes factores, sempre importantes no reconhecimento de um avançado, adiciona atributos técnicos, que lhe facilitam a tarefa, tanto na hora de visar a baliza, como a assistir os seus colegas.
O talento e inteligência que demonstra dentro de campo, por si só, seriam sempre um factor de destaque, mas se tivermos em conta a escassez de ( boas) soluções para esta posição, faz deste miúdo um verdadeiro diamante. Espera-se que a sua evolução acompanhe o seu talento, e que o possamos comprovar já em Julho.

sábado, 21 de abril de 2007

O mundo ao contrário...

Sempre que ouço falar da forma de jogar do Chelsea de José Mourinho, vibra em mim o mais rotundo desacordo. O Chelsea é, para esta gente, uma equipa defensiva. Muito defensiva, até! Defensiva?? Não. Não e não. Defender bem não implica não atacar bem e muito menos privilegiar a defesa em detrimento do ataque. Repito - o Chelsea não é uma equipa defensiva. Haverá forma de demonstrar isto? Sim, certamente. Mas peço àqueles que são de opinião contrária que dispam o fato do preconceito enquanto lerem estas linhas.

O Chelsea defende bem? Sim, muito bem até. Então, por que razão não é, como defendo, uma equipa defensiva? Porque o seu jogo não assenta apenas na ideia de uma defesa sólida. Aliás, a solidez dessa defesa é até consequência da forma de jogar da equipa e não a sua filosofia. O Chelsea só defende bem porque também ataca bem. Os mentecaptos estão, neste momento, com as mãos nos cabelos, bufando. "Que tem uma coisa a ver com a outra?", perguntam. "Tudo!", respondo eu. A filosofia dos "blues" é simples. Jogam um futebol apoiado, que à partida é logo condição suficiente para uma equipa que não se limita a defender, baseado na posse de bola e no funcionamento do conjunto em bloco, com os elementos muito perto uns dos outros. Não raro os críticos afirmam que o Chelsea, ao bom estilo inglês, joga um futebol directo. Errado! Mais uma vez, errado! O Chelsea? O mesmo Chelsea? Que atrocidade! É verdade que em determinadas alturas do jogo a equipa tenta explorar a capacidade de Drogba com passes verticais, mas tem de se compreender o porquê. Normalmente, fazem-no perto do final do jogo, se o resultado não lhes interessa, ou quando o adversário tem as suas linhas subidas e são necessários ataques rápidos. Ninguém explora melhor o ataque rápido que as equipas de José Mourinho. Mas é só nestas situações que o Chelsea insiste neste tipo de jogo. De resto, é uma equipa que progride de forma apoiada, preservando a posse de bola e não arriscando passes longos. É verdade que não se limita a trocar a bola e a progredir sempre de forma apoiada, variando a construção de ataques e utilizando, de vez em quando, um futebol mais rectilíneo. Mas fá-lo sobretudo para quebrar a rotina, para surpreender, para desencaixar as marcações do adversário. E também porque, em Inglaterra, o espaço entre linhas é muito grande, e uma eventual segunda bola é mais fácil de ganhar. Mourinho sabe isso e tenta explorá-lo. Só os ignorantes acham que Mourinho prefere um estilo directo a um futebol apoiado, que minimize o risco de perder a bola.

É filosofia do técnico português o futebol de ataque - sabemo-lo. E ninguém é mais fiel à sua filosofia que ele. Então por que razão haveria de pôr o Chelsea a jogar à defesa? Defende José Mourinho que a melhor maneira de defender é longe da sua baliza e evitar que o adversário tenha bola para poder atacar. São ideias dele; não minhas para acomodar o meu argumento. E como evita ele que o adversário tenha bola? Exactamente, tendo-a. E como evita defender perto da sua baliza? Pressionando alto. Com estes dados, como é que uma equipa que preconiza a posse de bola e uma pressão altíssima pode ser uma equipa defensiva? Não é, evidentemente! O Chelsea defende, em primeiro lugar, atacando. Depois, pressionando o mais possível de modo a retirar tempo de posse de bola ao adversário. Resta aos adversários do Chelsea a utilização de um futebol directo e a exploração dos avançados. E é aí que entra em acção não só a categoria da defesa do Chelsea como o extraordinário sentido posicional de toda a equipa.

Devo, para já, fazer um breve parêntesis. Ouvi um comentador dizer, no último jogo do Chelsea para a Liga dos Campeões, que a equipa, nesta prova, tinha invariavelmente menos tempo de posse de bola que o adversário. Em primeiro lugar, devo dizer que não consultei estatísticas, até porque elas são adulteradas pela definição que lhes dão. Em segundo lugar, há que ver que o Chelsea não tem que fazer 90 minutos de posse de bola para dominar o jogo. Se o resultado lhe for favorável, podem bem permitir uma posse de bola inofensiva ao adversário sem que percam o controlo da partida. Em terceiro lugar, há que ver quem foram os adversários dos londrinos até aqui. Apanharam o Barcelona que, juntamente com o Arsenal, são as duas equipas que melhor trocam a bola na Europa. Depois, apanharam o Werder Bremen, que também não são parvos de todo. E apanharam o Porto, que no primeiro jogo esteve quase sempre à procura de marcar para consolidar uma boa vantagem para a segunda mão. Vamos primeiro à questão das estatísticas. Não conheço os critérios da contagem da posse de bola, mas posso imaginá-los. Acredito que, enquanto o adversário não recuperar a bola, o tempo conte a favor de quem a tinha anteriormente. Uma equipa que pontapeia a bola para a frente ganha, portanto, 3 ou 4 segundos de posse de bola numa zona onde ninguém a pode recuperar: no ar. Uma equipa que privilegie um futebol curto tem que, nesses mesmos 3 ou 4 segundos, trocar a bola entre 2 ou 3 jogadores, o que é consideravelmente mais difícil. Logo, à partida, tempo de posse de bola não significa, de facto, posse de bola. Como tal, esta estatística de pouco serve. Em segundo lugar, uma equipa inteligente pode controlar o jogo permitindo que o adversário troque a bola em zonas recuadas. Ao fazer isto, como é óbvio, perde tempo de posse de bola. O Chelsea não pressiona os 90 minutos. Fá-lo quando tem de o fazer. E quando não o faz, permite que a bola esteja na posse do adversário. Mas isto não implica que perca o controlo do jogo, pois também não permite que o adversário troque a bola em zonas demasiado ofensivas. Como tal, é de notar que, numa competição na qual grande parte dos adversários foram equipas com bons argumentos técnicos e que privilegiam um futebol apoiado, o Chelsea tenha menos tempo de posse de bola do que no campeonato inglês. Isso não implica, contudo, que não dominem o jogo. E isso vê-se não nos resultados, mas na forma contundente e sem mácula com que os conseguiram.

Os defensores de um Chelsea defensivo utilizam normalmente o argumento das inúmeras vitórias tangenciais da equipa. É verdade que o Chelsea raramente ganha por mais do que dois golos. Também é verdade que a equipa sofre poucos golos. É isso sinónimo de uma equipa defensiva? Não. O Chelsea é uma equipa equilibrada. Ataca quando tem de atacar; defende quando tem de defender. E é, sobretudo, uma equipa inteligente. Sabe que uma vitória por 1-0 é igual a uma vitória por 5-0. Sabe que atacar cria espaços atrás e que, tendo um resultado positivo, não precisa de correr riscos desnecessários. Aqui, dizem-me, "mas exactamente por isso é que eles recuam e se pôem à defesa!" Não é verdade. O Chelsea não recua. Deixa, isso sim, de pressionar tão em cima, o que implica menor desgaste nos atletas, preservando forças para recuperar bolas mais importantes. E não concede a iniciativa ao adversário. Ao abdicar da pressão, pode permitir ao adversário uma circulação de bola em zonas recuadas, mas fechando linhas inviabiliza que o adversário se desmultiplique em acções ofensivas. Depois, com a posse de bola no seu poder, troca-a vagarosamente ou tenta surpreender o adversário com ataques rápidos. Trocando a bola, faz com que o adversário não a tenha. Utilizando ataques rápidos, tenta surpreender sem arriscar muito. Levantam-se novamente vozes, dizendo: "Então, mas se a filosofia é não arriscar, é exactamente o mesmo que defender!" Não. O Chelsea não utiliza nada que se pareça com o "Catennacio". Pelo contrário. Se o fizesse, arriscaria mais. Admito que o erro desta gente seja pensar que defender é não arriscar. Não é. Uma equipa que defenda lá atrás, concedendo o domínio do jogo em todo o campo, pode evitar espaços nas suas zonas recuadas, mas arrisca-se constantemente a sofrer um golo num lance fortuito, ocasionado pela confusão em que a sua área defensiva se tornou. Ao mesmo tempo, como abdica do ataque, não tem possibilidades de dilatar a vantagem. Ora, o Chelsea não faz nada disto. Nunca se posiciona lá atrás, nunca recua em demasia. O que faz é fechar o centro, tapar linhas de passe. Mas isto em zonas avançadas, no meio-campo e não na defesa. Pouco ou nada arrisca concedendo posse de bola ao adversário, pois na verdade não a concede no seu meio-campo.

Ao contrário do Chelsea, para estas pessoas o Manchester United é o protótipo de uma equipa ofensiva. Errado! O Manchester ataca mais. Ataca mais espectacularmente. Mais rápido, mais dinâmico... Marca mais golos. Nada disto significa que seja mais ofensiva que o Chelsea. Ou não significa, pelo menos, que ataque tão bem. O futebol do Manchester parece mais ofensivo porque tem unidades que dão essa ilusão e porque o seu sistema, abdicando da povoação do centro do terreno, coloca mais homens em zonas avançadas. O Chelsea, quer em 442 losango, quer em 433, nunca coloca mais do que 3 homens na frente. Há sempre 3 homens posicionados no centro, normalmente Makelelé, Essien e Lampard. No Manchester, só Carrick faz os apoios por trás, só ele não estica o jogo. Ronaldo, Giggs, Scholes, Rooney e Saha (ou outro avançado), têm liberdade para avançar. Isto, como é óbvio, provoca várias coisas. Primeiro, é um sistema que confia unicamente na inspiração destes jogadores avançados. Como estes têm toda a liberdade do mundo, não jogam em apoios e, desinspirados, não possuem forma de contrariar um resultado. Estando inspirados, é certo, há a tendência para conseguirem resultados mais volumosos que os do Chelsea. Não estando, pouca coisa podem fazer. Depois, é um sistema que desguarnece irremediavelmente a defesa. Pelas características dos seus jogadores, o ritmo de jogo é sempre alto e há sempre espaços na rectaguarda. Uma equipa que povoe condignamente o centro do terreno consegue sempre contrariar o futebol pretensamente ofensivo do Manchester e tem boas hipóteses de, aproveitando os espaços criados pela movimentação excessivamente livre dos seus homens da frente, criar problemas à defensiva dos Red Devils. É verdade que o Manchester ataca mais, dá mais espectáculo, mas não joga melhor que o Chelsea. Se quisermos, utiliza um futebol demasiado irresponsável. Em Inglaterra, onde as equipas jogam em sistemas invariavelmente obsoletos, isto tende a resultar: a irresponsabilidade não é aproveitada. Na Europa, faltando a inspiração das suas armas da frente, o Manchester tem dificulades. Vejam-se os jogos com o Lille, ou com o Benfica, em que a equipa ganhou sempre de forma muito sofrida.

Ao contrário do Manchester, o Liverpool é uma equipa excessivamente responsável. De tão preocupada com a povoação do centro, descura os processos ofensivos. Há, apesar de uma correcção táctica excepcional, uma falta de imaginação incrível no ataque. A equipa vive de um futebol musculado, sem inteligência para criar espaços ofensivos. Resulta daqui que, internamente, poucas probabilidades têm de ganhar alguma coisa. Entre estes dois extremos, situa-se o Chelsea, que é uma equipa responsável, mas virada para o ataque. Sabe atacar, não tão ferozmente como o Manchester, mas educadamente, racionalmente, e sabe defender, não tão obsessivamente como o Liverpool, mas correctamente. E o grande segredo do Chelsea é a forma global como joga. Poder-se-ia afirmar que o Chelsea ataca a defender e defende a atacar. Que quero eu dizer com isto? Bom, o Chelsea privilegia, acima de tudo, um futebol de apoios. Conduz os ataques de forma apoiada, sempre com 2 ou 3 jogadores a fornecerem apoios laterais e atrasados ao portador da bola, a cada momento. Com isto, consegue-se duas coisas: atacar, pois há sempre linhas de passe; e defender, pois em caso de perda de bola, os sectores estão juntos e a recuperação pode ser imediata. Digamos que, jogando assim, uma equipa parte para o ataque com a defesa montada. Não é um ataque desenfreado como o do Manchester, mas um ataque racional, consciente dos riscos de se atacar. Ao defender, o Chelsea cobre zonas. Com um preenchimento táctico correcto do terreno, consegue, a cada momento, cortar o maior número de linhas de passe e tem, ao mesmo tempo, preparado o ataque, no caso de uma recuperação de bola.

Resumindo, o Chelsea não tem nada de defensivo. É uma equipa que sabe gerir o jogo e que não se importa de conceder a bola ao adversário, caso isso não implique correr riscos como um recuo no terreno. Ofensivamente, não é deslumbrante, mas muito personalizada. Não arrisca em demasia e constrói o seu futebol de forma pensada. Não joga muito bonito, talvez porque lhes faltem alguns índices de criatividade. Nisso, tenho de concordar que o Chelsea é uma equipa demasiado mecanizada. Tirando a capacidade individual de um ou outro jogador, a equipa está demasiado presa aos automatismos que aprendeu. Ainda assim, é de louvar a forma correcta como atacam. Não o fazendo de forma bonita, fazem-no contudo bastante bem, conseguindo abrir espaços através da excepcional movimentação sem bola, do dinamismo e da velocidade de execução. O Chelsea é, pois, uma equipa ofensiva. É adulta e, por isso, pouco espectacular. Mas não é por isso que deixa de ser uma equipa que pratica bom futebol.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Erros...

O objectivo é contrariar uma das mais parvas, senão a mais parva de todas, teorias recorrentes nos dias de hoje. E que se resume a isto : "Não interessa jogar bem, desde que a gente ganhe!". Por esta altura, decerto, muitos estarão a menear a cabeça como reprovação, "lá está este lírico outra vez!". Não é o caso, tão pouco me vou delongar sobre a perspectiva, supostamente a principal, meramente disfrutadora do futebol como um entretenimento, ou uma arte.
Vou jogar no "campo do inimigo" e demonstrar, por a+b, que o jogar bem e o objectivo vencer caminham de mãos dadas. Não como um luxo, mas como uma base imprescindível - quase sempre, e não sempre, pois absoluto é uma palavra inexistente no dicionário do futebol - para alcançar a vitória.

Comecemos pela parte menos óbvia, a das equipas com os chamados objectivos "menores". Independentemente da sua estratégia, - passe por assumir um modelo de jogo que se baseie na posse de bola, ou num sistema de contra-ataque, - é importante a consolidação de uma identidade, de uma filosofia. Algo que se vá imiscuindo no íntimo dos jogadores, dirigentes e adeptos. No fundo, uma bandeira.
E como é óbvio, o sistema(4-4-2,4-3-3,4-5-1,4-2-3-1, etc.) e modelo de jogo são dois conceitos que se condicionam de uma forma recíproca. Por exemplo, não faz sentido estruturar uma equipa em 4-4-2 "losango", se preconizamos um modelo de jogo baseado no contra-ataque. O preenchimento central torna-se desnecessário em termos defensivos, - pois não nos interessa recuperar a bola numa zona muito alta do terreno, bem pelo contrário, pretendemos que o adversário se "concentre", na medida do possível, o mais perto da nossa área de modo a criar espaços no seu meio-campo. - bem como os apoios que esse sistema proporciona. Ora, a primeira permissa pode conquistar muitos antagonistas. Mas a finalidade do contra-ataque é aproveitar o espaço nas "costas" da defesa, ou seja, é do maior interesse que o oponente apresente um bloco alto, e que não jogue de uma forma directa, envolvendo assim um maior numero de elementos nas transições. Ou seja, um congestionamento da zona intermediária tornar-se-à contraproducente por razões óbvias. E em termos ofensivos, é totalmente desnecessário, visto ser uma estratégia que desvaloriza a existência de apoios, pelos motivos já referidos.
Uma equipa que assuma este modelo de jogo poderá encontrar dificuldades, caso se encontre em desvantagem. A falta de mecanismos, essenciais para contraiar as vicissitudes de um adversário, que, depois de alcançar o seu objectivo, não corre riscos, torna o trabalho de uma época irrelevante. Não estando preparados para se movimentar entre linhas, tão pouco para uma circulação que possa obrigar o adversário a cometer erros, acabam por sucumbir perante o seu própio veneno. E nem nos confrontos com os chamados "grandes", esta estratégia me parece a melhor. Pois oferece-se ao adversário um elemento essencial para ele: a posse de bola. E os pouco treinadores que se aperceberam disso, conseguiram roubar pontos aos grandes sem ter de sujeitar de sobremaneira ao factor sorte, como vemos em tantos casos. E este factor não implica que sejam as equipas pequenas a impor-se às grandes, nada disso. Apenas uma maior sapiência, e paciência, na gestão da bola, não envergando pelo caminho fácil do chutão. É até, e acima de tudo, uma questão de lógica. Quanto menos posse de bola o adversário tiver, serão menos as hipóteses de construir ataques, pelo menos de forma organizada, e esta situação provocará não só uma maior ansiedade na equipa adversária, como um desconforto invulgar numa equipa que se apresente para assumir o jogo.
Não são poucos os casos de equipas que após uma série de bons resultados contra as chamadas equipas grandes, neste sistema, acabam acumular maus resultados contra os seus mais directos opositores. Esbarram na sua própia teia. O que acaba por ser duplamente penalizador. No final da época, esse confronto directo pode-se-lhes tornar fatal.
Para além dos factores tácticos, existem ainda factores de índole individual. Numa equipa que se desenvolva nestes moldes, proporcionará, sempre, um desenvolvimento medíocre aos seus jogadores; não os estimulando a pensar, antes a sofrer, e previlegiando o espiríto de sacrifício, ao desenvolvimento técnico-táctico. Senão, vejamos: Uma equipa que se desdobre em contra-ataque, geralmente oferece poucas opções aos seus jogadores - seja o portador da bola, ou receptor -. Limitando-os a essas opções pré-definidas, ou seja, existindo poucas variantes, a capacidade de decisão do jogador não é estimulada, assim como o lado criativo, sendo este subjugado pelos factores( já referidos) mais primítivos. Devem exitir padrões de referência, até para dar profundidade à identidade da equipa, mas estes devem funcionar como um "palco", ou seja, dentro das especifidades idiossincráticas inerentes a qualquer sistema, deve existir espaço à criação individual, até para garantir uma certa dose de imprevisibilidade.
São muitos os casos de jogadores que, apesar de evoluídos tecnicamente, encontram dificuldades para integrar-se numa equipa que seja obrigada a raciocionar, e a criar formas de ultrapassar equipas ultra-defensivas. Isto tudo devido a uma educação negligente. Uma má "nutrição", durante a sua formação como jogador.

Defendo por isso, que uma equipa deve basear o seu sistema numa identidade bem definida, assente numa boa circulação de bola, que, por sua vez, só é conseguido atravéz de uma excelente cultura táctica que lhe permita um bom jogo posicional. Este factor, e as características que se-lhe associam, permite não só uma maior variedade de opções, a nivel do passe, como um rápido reequilíbrio defensivo.
No que concerne a modelos de jogo, e os seus sistemas, assumo a minha predilecção pelo losango. Mas, independentemente do sistema, defendo que uma equipa que cultive uma atitude positiva perante o jogo, isto é, assumindo as despesas do mesmo, tem muito mais hipóteses, não só de conseguir resultados, como de evoluir enquanto equipa.
E não é só pelo factor espectáculo.
O futebol não é matemática, e, apesar de defender que não lhe concedem o devido substracto racional, não se deve subtrair o factor emocional ao jogo, mas irei abordar este assunto noutro post.
Agora, debrucemo-nos sobre as vantagens deste modelo, contemplando até a frieza dos números e probabilidades:

1º - Uma equipa que tenha uma maior posse de bola, assente nos pressuposto já referidos, evitará, quase sempre, um maior desgaste em termos defensivos, não se submetendo de forma constante aos ataques da equipa adversária.

2º - Uma maior posse de bola deve-nos permitir definir o ritmo do jogo, mas não só. Aumenta a probabilidade de delinear mais ataques, e por consequência, exponencial acrescentamento da criação de oportunidades de golo. ( ainda que uma boa circulação, activa, pressuponha um grande desgaste físico e mental, quer me parecer que a vantagem anímica, inerente a este estilo de jogo, supera esse pormenor.)

3º - As consequências que os dois primeiros pontos implicam na equipa adversária. Um maior desgaste, tanto na vertente física, como mental, que muito provavelmente retirará organização e tranqualidade ao seu jogo. O consequente enervamento é o caminho mais curto para erros - individuais e colectivos -. Mas não só, - e este é um ponto demasiado evidente para ser ignorado - uma equipa com uma posse de bola inferior, estará sempre sujeita a um maior número de situações penalizadoras para a sua equipa( faltas, cartões, etc.), para além de possuir menos hipóeses de criar ataques, e consequentes oportunidades de golo.


Como já referi, não acredito no absoluto, mas considerando estes argumentos parece-me que jogar bem, é tão importante como ganhar, reforçando a primeira premissa como o meio mais forte para atingir a segunda, e não como um luxo. E mesmo que fosse, para coisas feias já basta a Odete Santos.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Seis que mereciam ser dez - Parte dois

Nele, o futebol encontrou um círculo perfeito.
Herói de capa e espada, não regateava esforços -sempre elegantes - para recuperar a sua amada das garras de qualquer vilão ou herói...
Concentração ampliada das virtudes essencias à prática do desporto-rei, acumulava Classe em cada gesto que desenhava... Os dribles, os desarmes, os remates... a inteligência e respeito por um desporto tantas vezes vilipendiado por outros que se lhe dizem semelhentes...
Rei, será sempre recordado como o Soberano de um reino muitas vezes rebaixado pelos seus...
O mais prestável medio-ofensivo parecia sempre dispensável na sua presença. A casa de qualquer outro tornava-se dele; assim como a sua mulher,os seus filhos, os seus feitos...
Perguntem ao Raul... De quem é o golo contra o Manschester...
E quem, senão um ser divino, pode desafiar Deus, e ganhar o seu respeito?
Com ele descobri a frustração de não ser esquerdino, de não partilhar ao menos essa afinidade... Abandonou cedo demais, como todos os predestinados, mas a recordação das suas cavalgadas no seu corcel branco irão conservar-se para sempre no melhor que o futebol nos pode oferecer...
O seu nome?
Não me façam rir... Deve ser o Petit ou Loureiro, querem ver...

terça-feira, 3 de abril de 2007

Se é muito grande, podeis sempre ir a outro lado...

Antes que seja tarde, tenho a dizer, àqueles para quem a extensão dos textos deste blog possa causar confusão, que assim tem de ser quando se pretende mais que dar uma opinião. Se é intuito deste espaço não só pintar um quadro, mas pintá-lo e explicar-lhe as cores e os contornos, dificilmente os textos terão as poucas linhas que a impaciência dos leitores possa exigir. É filosofia nossa não apenas a atestação de um facto, mas a exposição das evidências desse facto. Para isso, é preciso construir argumentos. E argumentar, sobretudo argumentar bem, nunca é obra de poucas linhas. Ser-nos-ia fácil, sem dúvida, advogar a defesa de um certo tipo de futebol sem nos justificarmos. Não é o que se pretende aqui. Nesse sentido, este blog não tem nada de convencional. Nunca quisemos criar só mais um sítio onde se fala de futebol ao desbarato, sem qualquer tipo de fundamento racional. Jamais nos interessou a simples manifestação de opiniões. A intenção foi sempre oferecer uma ideia e, com todo o arsenal argumentativo possível, defendê-la. E a defesa de ideias, para ser bem sucedida, nunca pode conseguir-se através de dois ou três ditos taxativos. Isso é recurso do idiota e do ignorante. Se a preferência por ideias vagas e não fundamentadas imperar entre os leitores incomodados deste blog, recomendo outros espaços da blogosfera que não este, espaços esses que, não sendo dados a argumentações excessivas, também não perpetuam a complexidade que necessariamente acresce à manipulação de uma boa argumentação...

"Se não fosse este a fazer alguma coisa..."

A expressão que dá título a este texto foi proferida por um adepto careca, ao lado de quem tive o prazer de assistir, no estádio, ao Sporting vs Beira-Mar. Referia-se o douto careca a Liedson, num lance a meio da segunda-parte, altura em que o "Levezinho" ganhou uma bola depois de um erro de um defesa. O mesmo careca teve outras expressões curiosas, como afirmar que Romagnoli (num jogo excepcional do argentino) deveria estar, isso sim, nos júniores. Disse ainda, num lance em que Abel se opõe a um cruzamento, que o lateral-direito não deveria ter cedido canto. Então, senhor careca, deixava o adversário cruzar? Quanto a Farnerud, a quem o carequinha chamou sempre, de forma carinhosa, "Sueco", disse repetidas vezes que deveria ter saído ao intervalo, apesar de o rapaz não ter falhado um passe, de ter pautado os ritmos da equipa com mestria, de ter dado um equilíbrio extraordinário ao meio-campo e de ter fornecido com perfeição os apoios. Já a acabar, afirmou, a plenos pulmões, que Liedson não estava "offside". Pois não, não estava. Estava numa posição legal e, se não fosse o estúpido do "referee", o Sporting teria ganho por "tree null" e evitado os "dangerous" contra-ataques dos aveirenses, que até eram bons nos "corners" e em "free kicks". É caso para dizer: Então, "Mister Bald", não sabes "portuguese" ou parou-te o "brain"? Houve ou não houve boas observações do senhor careca? Houve, sim senhor...

Mas o que me importa mesmo é o fascínio incondicional por Liedson. De facto, na jogada em questão, o brasileiro acaba, depois de ter recuperado a bola na sequência de uma falha do adversário (coisa transcendente, para o careca), por ter uma boa decisão, colocando a bola na esquerda, onde apareceu Romagnoli. Em primeiro lugar, há que dizer que decisões destas, vindas de Liedson, são mais raras que golfinhos no Tejo. Vejamos o que fez no resto do jogo. A verdade é que, sempre que participou no processo ofensivo da equipa, Liedson estragou o bom futebol da equipa. Ora não dando a bola com prontidão, ora não a dando de todo, ora escolhendo a opção pior, ora cometendo faltas escusadas, Liedson destruiu sempre as intenções ofensivas da equipa. Lembro-me de vários lances. Um em que conduziu a bola demoradamente, não a dando sempre que se abriu uma linha de passe, dirigindo-se a um colega até ficar sem soluções. Outro em que ganhou espaço na linha, tentou fintar, não conseguiu, ganhou o ressalto e, em vez de dar num colega, tentou fintar de novo e não conseguiu. Outro ainda em que, completamente sozinho, com três adversários à perna, sem ângulo e com Alecsandro em boa posição, executou um remate disparatado (este lance então até teve palmas). E mesmo quando um laivo de inteligência lhe bramia no cérebro, a execução deixava a desejar. Num dois para um com Yannick Djaló, decidiu bem ao entregar a bola ao colega, mas fê-lo em condições precárias. Deu a bola não rasteira, mas a saltitar, o que subtraiu tempo ao colega. Além disso, esticou o passe, retirando-lhe ângulo para finalizar. Resultado: quando Djaló pôde preparar o remate já tinha o guarda-redes com a mancha feita. Na primeira parte, Liedson terá falhado 90% dos passes e nem por uma vez o careca o assobiou. A primeira vez que Romagnoli falhou um passe, isto depois de ter isolado Abel no primeiro golo, de ter repetido aberturas fantásticas por mais cinco ou seis vezes, de ter enchido o campo com a sua movimentação extraordinária, o careca apupou-o. Assim como metade do estádio. Com Farnerud, o mesmo. Nem Pereirinha, o mais jovem leão e um de futuro muitíssimo promissor, escapou às toneladas de estultícia do careca e dos adeptos. Isto é falta de respeito. Mas é mais do que isso. É também estupidez. Qualquer jogador pode suportar um assobio, mas é de certeza desencorajador fazer quase tudo bem e ser assobiado, enquanto outros fazem quase tudo mal e são aplaudidos.

Digam o que disserem, o golo que marcou não compensa as terríves opções que tomou. Mais de metade dos ataques não foram travados pelos defesas adversários, mas por Liedson. O golo foi consequência daquilo em que Liedson, de facto, tem valor, a desmarcação e o aparecimento em zonas privilegiadas para finalizar. Talvez se devesse limitar a isto. Mas enquanto o careca continuar a aplaudi-lo, assim como todos os outros, Liedson continuará a ser o estorvo que é. Num jogo em que não marque, é uma nulidade. Quando as coisas correram mal ao Sporting, um dos poucos que teve total confiança de Paulo Bento foi Liedson, embora nunca o tenha merecido. Enquanto Ricardo, Polga e Moutinho justificavam a aposta continuada, Liedson não. Da mesma forma, apesar de já toda a gente ter reparado que ele não sabe marcar penaltys, continua a ser o marcador de serviço e continua a desapontar. Acredito que o Sporting pudesse liderar o campeonato, não fosse a persistência num jogador que tem a oferecer apenas a conclusão de lances. Mas é assim o futebol. Como a vida. Hitler também conseguiu mobilizar uma nação. Há quem diga que embirro com o Liedson. Chamem-lhe embirração. De facto, tenho alguma tendência para embirrar com gente burra. Lamento, mas não o consigo evitar. É um defeito que vai comigo para a cova. Por isso, ao contrário dos carecas, para os quais, "se não fosse o Liedson a fazer alguma coisa", o Sporting não andava para a frente, prefiro ler nas entrelinhas e achar que "se não fosse o Liedson a não fazer nada", o Sporting estava bem melhor.